quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A Maior Cantora do Brasil: Carmen Miranda


Carmen, a maior
Todas as imitaram. Todas queriam ser Carmen. E existiu um movimento musical antes e depois do surgimento da cantora Carmen Miranda. Carmen marcou tanto com seu jeito de cantar, revirando os olhos, mexendo as mãos e gingando seus balangandãs, com seu sorriso contagiante e a graça de seus trajes cheios de frutas e miçangas e etc etc etc, que até hoje, mais de 50 anos após sua morte, é o símbolo brasileiro mais conhecido no mundo. Mais do que uma voz, foi um fenômeno do show business norte-americano. Aportando nos Estados Unidos no início da Segunda Guerra Mundial, representou vivamente a terra desconhecida e exótica, cheia de coqueiros, bananas, abacaxis, atendendo às necessidades fantasiosas e consumistas do povo norte-americano e alcançando a glória e a fortuna. Ninguém foi maior que Carmen. Ninguém conseguia ficar sem Carmen. Os fãs a adoravam. O mundo a adorava. Carmen Miranda é até hoje símbolo de uma marca. E todas as cantoras que estiveram presentes na lista têm, tiveram ou terão um pouco de Carmen, seja na música, seja numa regravação, seja numa citação, seja numa dança.

Carmen Miranda. A Pequena Notável. The Brazilian Bombshell. Nome mágico. Mito. Hoje, apenas uma lembrança. Mas lembrança em tudo que nos cerca. Sua influência é sentida não só na música popular brasileira, como em outros ritmos do resto do mundo. A moda lançada por ela dos turbantes, dos sapatos de plataforma, das coloridas joias de fantasia (os célebres balangandãs), coberta de plumas e paetê, mas de barriga de fora — tudo isso é hoje copiado pela juventude feminina e pelos gays e travestis, que sequer a conheceram, pois a maioria nem era nascida quando Carmen morreu, em 5 de agosto de 1955 (nem mesmo eu, mas ao menos corri atrás das qualidades que existiram um dia!). Ainda recentemente, a festejada cantora de rock, Madonna, confessou que suas roupas exóticas foram inspiradas em Carmen Miranda.

Quem foi, afinal, essa artista tão diferente, tão revolucionária para a sua época e até para a atual? Na verdade, nem era brasileira de nascimento. Como Carlos Gardel que, embora francês, tornou-se o rei do tango argentino, a nossa maior sambista nasceu em Portugal, na aldeia de Marco de Canavezes, perto do Porto, no dia 9 de fevereiro de 1909. Vinda para o Brasil ainda bebê (um ano de idade), Maria do Carmo Miranda da Cunha (seu verdadeiro nome) foi aluna de um colégio de freiras em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, mas não completou sequer o curso ginasial porque, por necessidade financeira da família (o pai, barbeiro; a mãe, servindo refeições em uma pensão), a menina precisou começar a trabalhar muito cedo, primeiro vendendo gravatas, depois, como balconista de uma loja de chapéus, onde aprendeu a bolar seus futuros adornos da cabeça. Já, então, fora rebatizada como Carmen por um tio que a achava tão exuberante como a heroína da ópera de Bizet e não se conformava com o pacato nome Maria do Carmo.

Descoberta pelo compositor e violonista baiano Josué de Barros, Carmen Miranda gravou três discos, sem grande repercussão, até atingir o sucesso total com a música de Joubert de Carvalho, Pra Você Gostar de Mim, que passou a ser conhecida como Taí. Lançado em janeiro de 1930, esse disco bateu todos os recordes da época, vendendo 35.000 exemplares em um mês. Depois disso, nunca mais Carmen Miranda deixou de brilhar. Fazia sucesso não só no Brasil — com gravações e shows ao vivo — como na Argentina e Uruguai, tornando-se a estrelíssima do show business sul-americano nos moldes internacionais impostos pelos americanos do norte, em Hollywood e na Broadway. Era inevitável, portanto, que viesse a conquistar também aquele tipo de público tão exigente. Quando os artistas hollywoodianos Tyrone Power e Sonja Henie a viram se exibindo no Cassino da Urca, já com a primeira fantasia de baiana idealizada por ela própria, ficaram tão encantados que a recomendaram ao empresário Lee Schubert, que não hesitou em contratá-la para ser uma das principais intérpretes da revista musical Ruas de Paris, montada no Broadhurst Theatre, em plena Broadway , também com a dupla cômica Abbott & Costello e o cantor francês Jean Sablon.

A figura — já carismática — de Carmen Miranda tomou de assalto o público nova-iorquino, que nunca havia visto algo igual: uma exuberante criatura, exoticamente vestida, cantando com as mãos, com os olhos, com os pés e com os quadris, pois ninguém entendia suas palavras em português (ela ainda não falava inglês) e, já naquela época, foi considerada a rainha da comunicação internacional. As lojas da luxuosa Quinta Avenida substituíram as criações de Dior e Chanel pelas fantasias de baiana de Carmen, seus turbantes, sapatos e balangandãs, com bons royalties para a cantora brasileira, já, então, carinhosamente apelidada pela imprensa nova-iorquina de The Brazilian Bombshell. Ao contrário de diversas traduções, bombshell não quer dizer bomba em português — na gíria americana, bombshell significa uma explosão, mas no sentido de uma grande surpresa — então, a tradução certa seria A Grande Surpresa Brasileira ou A Explosão Brasileira.

No Brasil, anos antes, recebera outro apelido, A Pequena Notável, que lhe fora dado pelo locutor César Ladeira, da extinta Mayrink Veiga, e que pegou de tal maneira, que ela passou a ser assim apresentada nos seus shows. Atriz, cantora, dançarina, mulher. Carmen chega ao primeiríssimo lugar como a Maior Cantora Brasileira de Todos os tempos. Portuguesa de nascimento, brasileira naturalizada, americana, argentina, uruguaia, indiana, equatoriana, cubana... não importa. Carmen chega ao primeiro lugar com a grandeza de ser a maior e a única.

 

A Maior Cantora do Brasil: Carmen Miranda

Marcelo Teixeira

Um comentário:

Drigo Lima disse...

Infelizmente muitos não dão tal valor. Carmem é unica e admiro toda sua potencialidade e perfeição em seu canto. Linda e incomparável. Parabéns pelo seu trabalho.