sexta-feira, 9 de junho de 2017

As indiretas diretas de Mallu Magalhães em Vem (2017)


Mallu: capa perfeita
Quem me conhece sabe o quanto gosto da Mallu Magalhães, mesmo sabendo que ela nunca figurará entre as melhores cantoras do Brasil, muito menos terá a melhor voz amanhã ou depois de amanhã. Mas na certa Mallu Magalhães é uma cantora diferenciada nos dias de hoje e a prova disso é que a cada disco lançado, uma pitadinha de indireta vai para alguém a quem ela gostaria de mandar uma direta bem certeira. Entendeu? OK, eu explico. Mallu sabe que não é dessas cantoras que agradam apenas pelo fato de ser uma cantora brasileira que tenta (eu disse tenta) estar entre as tops das cantoras brasileiras. Ela não precisa, evidentemente, de estar entre as tops cantoras brasileiras porque ela não precisa estar nesse roll. Mas Mallu sabe que não é uma cantora dita sensacional, ótima, perfeita e charmosa, mas sabe que tem muito mais qualidade que muitas cantoras clichês que estão espalhadas por aí com roupas curtas e sapatos altos, dançando com os quadris para lá e para cá. As indiretas diretas certeiras de Mallu se fazem presente em todos os seus discos e desde quando ela se entende musicalmente por gente que critica parcial ou totalmente o seu trabalho. Acata quem quer, responde quem aceita. Mallu é muito mais que uma cantora: ela é uma super cantora! Digo que Mallu é uma raposa e como todas as raposas, ela aparece, mostra seu serviço e volta a ficar no seu cantinho. O tempo para isso é tão rápido que você nem percebeu que ela passou. Poucos conseguem entender o mundo filosófico de Mallu e é justamente este o grande insight de sua carreira: ela é um mistério e ao mesmo tempo uma saborosa surpresa. Esqueça se você vai ouvir o novo disco com a intenção de encontrar aqui sinais de Banda do Mar (2014) ou qualquer coisa que Mallu já tenha lançado antes. Dividida entre Portugal, a bossa nova, o Rio de Janeiro e São Paulo, o disco tem uma atmosfera caricatural dela mesma, ou seja, de Mallu Magalhães dentro de sua melhor esfera: o da menina que se transforma em mulher, a artista que se transmuta de mistérios e preciosidades, tal qual a primeira peça teatral escrita por Clarice Lispector (1920 – 1977), Pobre Menina Rica (1930).  Seria demais dizer que Mallu Magalhães é a Clarice Lispector da música e perguntar que mistérios tem Mallu? Seis anos após o lançamento do espetacular Pitanga (2011), Mallu volta à cena musical com o gostosinho e diferente Vem (2017 / Sony Music / 29,99), disco este que causa uma estranheza ao primeiro som justamente por ser o oposto daquilo que a cantora vinha produzindo anteriormente. Esta mudança quase repentina em seu estilo tem um propósito: transformar-se em uma cantora sólida para as futuras gerações, das pessoas que hoje não tem cérebro, mas que amanhã perceberão o quanto perderam em não ouvir suas músicas hoje.

 

Vem (2017) / Mallu Magalhães
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

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