domingo, 5 de fevereiro de 2017

Marília Mendonça e a retratação infiel do sertanejo brasileiro


O estranho, o sertanejo e a Marília
Nem tudo aquilo que reluz é ouro e nem tudo aquilo que é meramente repentino é sensacional. Muitas vezes aquilo que é novo passa a ser algo supérfluo e aquilo que não é escutado com cautela com o tempo nos revela ser uma grande obra prima. Pode acontecer também de surgir do nada uma nova voz e acharmos que trata-se de uma voz poderosa e que marcará gerações, mas também pode ocorrer dessa mesma voz ir se desmanchando com o tempo, ficando irresistívelmente cansativo e atemporal. Poderia eu ficar aqui destilando mil e uma formatações de vozes e estilos, assim como eu poderia ir direto à chave central deste artigo: em 2016 o Brasil viu surgir uma nova voz sertaneja que eclodiu pelos quatro cantos do país como sendo uma revelação musical dita da melhor qualidade, do melhor estilo e do melhor momento. Evidentemente que Marília Mendonça não é uma voz carismática, Marília Mendonça não é um talento aprazível, Marília Mendonça não é uma grande revelação da música sertaneja, Marília Mendonça não é nada, a não ser uma cantora que acha que é cantora, que não tem postura alguma de cantora, que não canta absolutamente nada de novo e que não vai ser nada de nada. Com uma voz que nos remete à Ana Carolina (apenas uma comparação de vozes, não querendo rebaixar em hipótese alguma a cantora Ana Carolina), Marília Mendonça surgiu em um momento em que o estilo sertanejo pedia. Enquanto Anitta briga com Ludmilla um espaço vanglorioso dentro de seus estilos pop urbano, Sandy, Manu Gavassi e Wanessa duelaram um espaço entre o público jovem e pré adolescente, Ivete Sangalo e Claudia Leite foram assistidas de camarote por Daniela Mercury para ver quem é a mais legítima baiana e Luan Santana agora encontrou em Tiago Iorc um desafio irrecusável, Marília Mendonça foi fabricada às pressas para duelar diretamente com a desamparada Paula Fernandes. Óbvio que o brilho das duas sertanejas se sobrecaem repentinamente em um emaranhado de superficialidades musicais e estéticamente falando, mas o fato é que Marília não se comporta como cantora e nunca será dita de ser uma a altura das grandes divas sertanejas, como Inezita Barroso ou As Irmãs Galvão. Falta-lhe coro, falta-lhe estima, falta-se discernimento acentuado de mulher, falta-lhe estilo, falta-lhe carisma, falta-lhe tantos adjetivos que não me atrevo mais a continuar. Com uma brega música ridícula que gruda na mente, a neo-cantora parece que engoliu um balão de oxigênio e flutua nos palcos como se fosse balão inflamado. Caracteristicamente, sua voz não agrada, seu sorriso é forçado, suas vestes não se adequam e sua tez é de uma pessoa mundana, meramente comercial, nada cultural. Infelizmente o Brasil carece de cultura e, mesmo tendo que respeitar diversas delas, somos obrigados a aceitar Marília Mendonça dentro dessa parte globalizada. Sendo a nossa Adelle suburbana, Marília Mendonça consegue ser o fundo do poço que assolou o mundo sertanejo com vozes femininas depois de Paula Fernandes e nesse estilo quem se salva é Bruna Viola, que é a típica cantora regional com prestígio e determinação musical invejável.O que me dói como ser humano é ver diversas mulheres se passando por Marília Mendonça retratada em suas músicas. Uma pena que isso aconteça, pois enquanto mulheres se sentem traídas e infiéis, mais o mundo globalizado perde seus direitos éticos e morais.

 
Marília Mendonça e a retratação infiel do sertanejo brasileiro
Por Marcelo Teixeira

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