sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O rei não é rei no país do samba


Roberto Carlos é rei?
Entre brigas na justiça com as leis sobre biografias não autorizadas e músicas do passado que são proibidas de serem regravadas, Roberto Carlos vai passando sua coroa (que nunca teve e que nunca mereceu) para frente, deixando talvez guardada em um local de difícil acesso ou até mesmo escondida. No país do futebol,  do samba e das mulatas, não se pode ter um rei e Roberto Carlos fora apelidado assim devido ao grande sucesso na Jovem Guarda. Mentor da época, o cantor e compositor Roberto Carlos reinava absoluto nas paradas de sucesso, cantando aquilo que o público, feminino na sua maioria, queria ouvir. Roberto dividia os holofotes com outros reis que eram tão bons quanto ele na sua época, como Paulo Sérgio, Antônio Marcos e Taiguara. Mas fora Roberto quem sobreviveu a todos os obstáculos e vendavais que vieram após o fim da Jovem Guarda, o início da Bossa Nova, o surgimento da Tropicália, o Samba, o Rock... Roberto Carlos conseguiu uma proeza e tanto para a sua velhice musical: se manter entre os melhores e maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Mas há muitas cinzas no mundo artístico de Roberto Carlos: como uma cólera, o cantor sempre teve obsessões pela imagem e por sua vida retratada em livros. Não deixa praticamente ninguém cantar suas músicas sem sua devida autorização e exige ouvir antes de todos para ver se ficou realmente boa. Ficando de fora os TOCs que o cercam, o chamado dito popular rei não é rei em um país regido por pajés: Roberto Carlos está muito abaixo da cultura intelectual de Chico Buarque, Caetano Veloso ou até mesmo Milton Nascimento, artistas estes capazes de levar coroas sem serem reis.  É notória que a música dos anos 1970 e 1980 que Roberto produzia fazia muito mais barulho que as músicas lançadas nos anos 2000 e mesmo com essa distância de tempo, é impossível dizer que Roberto é o maior cantor do Brasil: ele continua muito abaixo de qualquer cantor racional deste país. Roberto produziu muita coisa bacana para a cultura brasileira, músicas românticas de qualidade nada duvidosa, mas essas músicas não chegam a ser de qualidade superior, não trazem intelectualidade alguma para o nosso dia a dia e não transmitem nada senão serem apenas músicas românticas. As cinzas musicais de Roberto são apenas cinzas cristalizadas no breu mais distante produzida para que a massa o alimentasse de qualquer forma e jeito, traduzindo o que há de melhor de sua capacidade mental: o de fazer música romântica sem ser apelativa, mas meramente comercial. Não duvido da capacidade intelectual de Roberto em se fazer crer que é o maior cantor do Brasil, assim como não questiono suas músicas, que são, de todo modo, caricaturas de rostos normais aqui e ali, mas o que quero dizer é que o rei Roberto Carlos não merece esse título que lhe designaram, pura e simplesmente porque no país do futebol, do samba, das mulatas, das coroas e das ninfetas, quem reina absoluto são os pajés, que mesmo com seus cocares de pena, ainda assim perdem sua majestade.

O rei não é rei no país do samba
Marcelo Teixeira

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