quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O chão, o som e a ousadia de Lenine.


Ousado, abusado, diversificado, contemporâneo. Estes quatro adjetivos são capaz de definir o estilo único e arrojado de um dos cantores e compositores mais criativos da atual MPB. O pernambucano Lenine prova, mais uma vez, que é possível nos fazer viajar através de sua música. Em mais de vinte anos de carreira, Lenine acaba de lançar o álbum Chão (2011, Universal Music, 25,00), onde experimenta de todos os tipos de sons e ousadia para cada faixa.

Essa experimentação se faz presente na vida do cantor há muito tempo. Em Falange Canibal (2002, BMG, 19,99), boa parte das canções tem sons variados e em Na Pressão (1999, BMG, 19,99) o que chama a atenção é a capa, muito bem elaborada com um carro pegando fogo em plena avenida arborizada, o que já significa um ar sonoro.

Mas é em Chão que Lenine utiliza e abusa de seus sons captados ao longo de várias caminhadas. Volume de gás, som de pássaros, passos, palmas, serra elétrica e chaleira são um dos sons encontrados neste maravilhoso e inquieto álbum. Lenine engatilha para a direção certeira e nos brinda com um disco recheado de adversidades e canta com o coração, com a alma pernambucana e com entusiasmo encontrado também em outros discos. Mas em Chão, Lenine se mostra mais presente.

Inquieto, intrigante, emocional e sensível ao extremo, Chão nos dá a sensação de que Lenine precisa falar algo. Na faixa que leva o título do álbum, Lenine mostra com requinte que é capaz de fragmentar sobre uma parte esquecida por todos nós: o chão, o solo em que pisamos, o chão aonde podemos conhecer o mundo.



Romântico, o disco segue com Se não for amor, eu cegue, uma levada rítmica rápida e leve e surpreendentemente bela. A música de trabalho é a terceira do disco, Amor é pra quem ama e essa canção é para ser ouvida ao pé do ouvido, com os olhos fechados e esperando a farpa cortante da próxima canção, Seres Estranhos, uma resposta ríspida às pessoas apáticas e estranhas que habitam a Terra. Esta musica é a mais política de todo o disco e mesmo que Lenine não queira aceitar, é a musica mais emblemática e complexa, simplesmente por dizer a cada frase um enigma causado por um ser humano.

A participação com o amigo de longa data Carlos Rennó fez com que a dupla criasse Envergo mas não quebro, um excelente repente para as pessoas sofridas e fracas, mas que ao final se mostram acima de qualquer malefício. E encerra com Isso é só o começo, uma das músicas mais impressionantes de todo o disco, justamente porque a faixa título da canção fixa na nossa memória a todo instante.

Impossível não parar de ouvir o novo disco de Lenine, ousado e criativo. O disco tem apenas dez canções e, quando se chega ao final, a sensação é de que passou muito rápido tudo aquilo. Uma injeção de animo, uma gota d’agua, um equilíbrio saudável, uma temperatura aquecida a cada faixa, Lenine nos surpreende pela magia de compor, pela amplitude de cantar e pelos sons de terra, de solo batido, de pássaros alegres, de motosserra, da cozinha com sua chaleira e das tardes de sábado que passávamos na sacada. Um disco sensacional, atemporal ao trabalho de Lenine, diferente aos seus estilos e muito comparado ao Falange Canibal no segmento de palavras.

E esse disco não poderia ser o melhor do cantor: na capa, ele traz ao peito o neto, dormindo, carinhoso e quieto, ao som do estribilho do avô coruja.

Dez Estrelas.

Marcelo Teixeira.

O belo disco de Vanessa da Mata

O último disco de Vanessa, de 2010: excelente

 
Vanessa da Mata lançou Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias (2010, Sony Music, 24,00) no final de 2010 e esse disco trás uma nova etapa na carreira da cantora, que coleciona grandes sucessos, boa parte deles em telenovelas. Mas a verdade é que Vanessa da Mata é uma artista única e detentora de boa voz e de excelente repertorio. Depois de nos dar de presente um belo disco, intitulado Sim (2007, Sony Music, 19,00), a cantora nos agracia com um CD recheadas de músicas belas, românticas e engraçadas. Vanessa da Mata é uma cantora única, capaz de se expressar através da música que canta e não teme a rótulos. Iniciou sua carreira ao lado de Chico Cesar, Maria Bethânia e Caetano Veloso e viu sua carreira destrinchar logo no primeiro disco, Vanessa da Mata (2002, Sony Music, 19,00), aonde nos brinda com seu charme e delicadeza em cada faixa.

 
Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias praticamente é a um recital de emoção e em cada faixa Vanessa brinca com os timbres de sua voz e com a perspicácia de seu estrondoso talento. Exceto pela música Fiu Fiu, que se torna cansativa e arrastada, o disco é todo maravilhoso. E é justamente nesta faixa menos comercial, que a cantora se mostra mais uma vez defensora de algum padrão. Isso se faz presente em praticamente todos os seus discos – em Essa Boneca Tem Manual (2004, Sony Music, 19,00), ela mesma se defende com relação ao seu corte de cabelo, que Vanessa sempre deixou muito claro que é uma homenagem à Clara Nunes (no disco Bicicleta, isso se mostra presente na faixa Meu Aniversário). No disco Sim, ela defendeu com maestria o desmatamento de florestas e a preservação do meio ambiente na faixa Absurdo. E neste último disco, a cantora faz voz firme em depositar na canção a beleza de estar fora dos padrões de beleza que muitos exigem.

Conta ainda com a participação honrosa de Gilberto Gil na bela faixa que encerra o álbum, Quando Amanhecer, que parece que foi feita para dormir em um acalanto. E em todo o disco a suavidade, a alegria, a emoção e o carinho se faz presente. Desta vez Vanessa fez um disco mais autoral, direcionando para o bem do público músicas menos apelativas e densas e parece que fez músicas para ela mesma e não para as novelas.

Mas o que tem de especial neste disco? A sofisticação. Vanessa reconhece que agora é uma vertente da MPB e que precisava melhorar ainda mais na equação de suas próprias composições. E percebeu que um disco para ser bom, não precisa de apelo comercial, basta ter criatividade e agir como se estivesse compondo para si mesma. Não há complexidades neste álbum e uma música não puxa a outra (como anda fazendo muitos outros artistas). O Cd é absorto de qualquer parâmetro, seja musical, seja sonoro. A bela voz, a técnica, o profissionalismo, a decência, a doçura, a amplitude e a vocação de líder da MPB atualmente não deixa marcas e dúvidas de que seu próximo disco será triunfal e o mais importante: belo!


Dez Estrelas.


Marcelo Teixeira.

domingo, 27 de novembro de 2011

A farsa dos caipiras.

Quando a dupla de caipiras anunciaram que estavam se desfazendo, muita gente acreditou. Durante uma semana inteira foi o comentário mais aplaudido por intelectuais e defensores da boa música e foi uma festividade de choros e consolos por parte de fãs histéricas e desoladas. Os dois filhos de Francisco foram em todos os programas existentes e de máxima audiência se defenderem após o "ocorrido". Jô Soares foi o primeiro a entrevistar os irmãos Zezé de Camargo e Luciano em dois blocos cansativos de muita música brega e desnecessária. Em seguida foi a vez de Serginho Grossman e seu Alta Horas, programa tardio que prima muitas vezes pela qualidade, foi um dos programas que deram vazão à criativa marca da falsidade imposta por essa dupla.
Que a carreira de Zezé de Camargo e Luciano não anda bem das pernas, isso é um fato comprovado há alguns anos: seus discos não vendem milhões, suas músicas não são mais batizadas como sucessos e seu público não renova. Agora são as senhorinhas quem mais incentivam a dupla.
Mas chega a ser ridículo a atemporalidade imposta pela mídia para alavancar a carreira da dupla. Depois de tanta participação em programas de TV aberta e com toda a repercussão inútil aos cantores, a Rede Globo abriu uma rara exceção no programa Som Brasil (programa este que privilegia a verdadeira música popular brasileira), para mostrar a carreira de Zezé de Camargo e Luciano.
Que saudades de Mazzaroppi!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Mais Cultura

Este blog foi criado com um propósito: reverenciar ou criticar um Cd ou artista. O Brasil, um país rico em diversidade e único em conter os melhores cantores e compositores, infelizmente, perdeu a essência de uma palavra forte e merecedora de aplausos: memória. Muitos esqueceram de cantores que outrora fizeram sucesso ou ajudaram o Brasil a se tornar mais político, mais liberal ou mais moderno e criativo. Por esse motivo criei o Blog. A cada semana homenagearei um artista (falecido ou não) e criticarei livremente sobre o trabalho de cada artista lançado no mercado fonográfico, dando estrelas merecedoras para cada desempenho.

Brasil com música é um Brasil com Mais Cultura.

MT.