A bela Andreia Dias |
Terceira e mais recente obra em carreira solo da cantora e
compositora paulistana Andreia Dias, o álbum Pelos Trópicos
traz a proposta itinerante de passear por 10 diferentes capitais brasileiras um
estímulo para romper com a mesmice. Imerso em um cenário de versos e
sonorizações sempre agradáveis, o disco percorre as corredeiras do rock,
desbrava os ritmos mais exóticos, até desaguar em um composto adocicado por
diferentes temperos vindos dos mais remotos cantos do país. Do Rio de Janeiro
ao Maranhão, passando por Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Alagoas, o álbum
absorve uma variedade cativante de ritmos, resultando em um projeto que acerta
pela multiplicidade. Embora íntimo de uma grandiosa paleta de cores, sons e
preferências instrumentais, é preciso notar que o disco jamais tende ao exagero
ou se relaciona com apropriações sonoras que pareçam inexatas ao ouvinte. Por
mais variados os percursos assumidos pela cantora durante a execução de todo o
trabalho, cada uma das 12 composições que sustentam o disco se orientam dentro
de uma formatação regular e de extrema proximidade, resultado visível na
constante relação da artista (e seus distintos parceiros de gravação) em
reviver o pop-rock típico da década de 1970 de forma renovada e ainda assim
nostálgica. Uma viagem musical que absorve aspectos coesos da carreira de Rita
Lee nos primeiros (e inventivos) anos da carreira solo, mas que acima de tudo
deixa crescer a marca da própria Andreia.
Assumindo
a relação com as referências tropicais logo no título, Pelos Trópicos
rompe com os clichês que caracterizam o estilo (e aos poucos pervertem a música
nacional) pela construção assinada por diferentes colaboradores. Enquanto Xuxu
Beleza (em parceria com os cariocas da banda Do Amor) e Aquilo
(dividida com o duo de Blues Rock The Baggios) reforçam a identidade rock da
obra, o restante do trabalho deixa fluir de maneira imoderada uma apropriação
maior dos ritmos nacionais e até com a MPB. Surgem assim acertos diretos com o
brega paraense (em Beijin na Nuca, parceria com Felipe Cordeiro) e até
conversas com os ritmos latinos, proposta bem incrementada no toque caliente
de Feliz e mareado.
As viagens de Andreia |
De
natureza envolvente, Pelos
Trópicos encanta pela suavidade das melodias e principalmente por
não lidar com as referências que assume de maneira redundante ou pouco
inventiva. Ainda que o trabalho seja construído dentro de uma sequências de
sons e vozes traduzidos de maneira simples, Andreia Dias trata de cada aspecto
da obra dentro de uma formatação delicada e honesta, o que faz com que logo na
faixa de abertura sejamos fisgados pela proposta acolhedora do trabalho. Doce e
colorido à sua maneira, o disco é sem dúvida alguma o passeio mais delicioso e
seguro pela atual fase da música brasileira.
Pelos Trópicos / Andreia Dias
Nota 10
Marcelo Teixeira