sexta-feira, 28 de junho de 2013

Os trópicos e viagens musicais de Andréia Dias


A bela Andreia Dias
Terceira e mais recente obra em carreira solo da cantora e compositora paulistana Andreia Dias, o álbum Pelos Trópicos traz a proposta itinerante de passear por 10 diferentes capitais brasileiras um estímulo para romper com a mesmice. Imerso em um cenário de versos e sonorizações sempre agradáveis, o disco percorre as corredeiras do rock, desbrava os ritmos mais exóticos, até desaguar em um composto adocicado por diferentes temperos vindos dos mais remotos cantos do país. Do Rio de Janeiro ao Maranhão, passando por Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Alagoas, o álbum absorve uma variedade cativante de ritmos, resultando em um projeto que acerta pela multiplicidade. Embora íntimo de uma grandiosa paleta de cores, sons e preferências instrumentais, é preciso notar que o disco jamais tende ao exagero ou se relaciona com apropriações sonoras que pareçam inexatas ao ouvinte. Por mais variados os percursos assumidos pela cantora durante a execução de todo o trabalho, cada uma das 12 composições que sustentam o disco se orientam dentro de uma formatação regular e de extrema proximidade, resultado visível na constante relação da artista (e seus distintos parceiros de gravação) em reviver o pop-rock típico da década de 1970 de forma renovada e ainda assim nostálgica. Uma viagem musical que absorve aspectos coesos da carreira de Rita Lee nos primeiros (e inventivos) anos da carreira solo, mas que acima de tudo deixa crescer a marca da própria Andreia.
 

Assumindo a relação com as referências tropicais logo no título, Pelos Trópicos rompe com os clichês que caracterizam o estilo (e aos poucos pervertem a música nacional) pela construção assinada por diferentes colaboradores. Enquanto Xuxu Beleza (em parceria com os cariocas da banda Do Amor) e Aquilo (dividida com o duo de Blues Rock The Baggios) reforçam a identidade rock da obra, o restante do trabalho deixa fluir de maneira imoderada uma apropriação maior dos ritmos nacionais e até com a MPB. Surgem assim acertos diretos com o brega paraense (em Beijin na Nuca, parceria com Felipe Cordeiro) e até conversas com os ritmos latinos, proposta bem incrementada no toque caliente de Feliz e mareado.
 

As viagens de Andreia
O mais curioso no passeio musical assumido por Andreia Dias é perceber que mesmo abraçando diferentes gêneros pelos mais distantes cantos do país, todas essas peças regionais se encaixam em um composto único. É como se a cantora amarrasse propostas musicalmente distintas de forma coesa, convertendo a possível multiplicidade de ritmos em um bloco sonoro de força constante. Dentro desse universo de referências diversas que se completam, a cantora e os parceiros de banda possibilitam o surgimento de pequenos passeios experimentais. É o caso da curtinha Corpo e Mente, que brinca com inexatos realces sonoros ou mesmo a faixa-título, canção que encerra o álbum e solidifica uma proposta ainda menos óbvia para o futuro da cantora.
 

De natureza envolvente, Pelos Trópicos encanta pela suavidade das melodias e principalmente por não lidar com as referências que assume de maneira redundante ou pouco inventiva. Ainda que o trabalho seja construído dentro de uma sequências de sons e vozes traduzidos de maneira simples, Andreia Dias trata de cada aspecto da obra dentro de uma formatação delicada e honesta, o que faz com que logo na faixa de abertura sejamos fisgados pela proposta acolhedora do trabalho. Doce e colorido à sua maneira, o disco é sem dúvida alguma o passeio mais delicioso e seguro pela atual fase da música brasileira.
 

 

Pelos Trópicos / Andreia Dias

Nota 10

Marcelo Teixeira
 

 

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