sábado, 21 de dezembro de 2019

É o fim da MPB?

MPB: os clássicos resistem
Não é fácil escrever sobre música. São muitos detalhes para serem analisados, muitas horas de escutas, muita leitura sobre os encartes, entender o que cada músico faz naquele trabalho, observar a capa, contracapa, o miolo. Direcionar cada fase do disco resenhado sem se esbarrar na impessoalidade do artista, ou seja, o trabalho do artista não pode interferir no meu gosto pessoal referente ao cantou ou cantora criticada. Isso já me aconteceu diversas vezes por divergir do disco de determinada cantora e saber que seu potencial era muito maior. Também já me aconteceu o contrário: o disco ser uma maravilha o artista não me agradar em nada. Isso é impessoalidade. Mas criticar a fundo, positiva ou negativamente, os discos de música popular brasileira nos dias de hoje não está sendo nada fácil. Tornou-se um trabalho cansativo em que sentar-se à frente do notebook, selecionar o álbum a ser resenhado, esmiuçar aquele trabalho, criticar o todo, passou-se a ser danoso. Os tempos mudaram, as pessoas mudaram, o mercado fonográfico mudou. As críticas também mudaram. Antes as pessoas ficavam lendo textos enormes sobre os discos lançados. Hoje não conseguem se entreter nem com uma crítica ou uma leitura de mais de três parágrafos. Meu jeito de escrever teve que se adequar aos novos tempos, às novas leituras e às novas interpretações. Não desistirei desta página, que está no mercado desde Novembro de 2011, mas as publicações estão e serão mais escassas devido ao tempo. Criticar não é errado quando a obra é pública, mas sinto que a MPB está perdendo o foco e ficar focado apenas nos discos antigos não está sendo legal. As novidades não têm mais espaços nas mídias, os cantores novos desaparecem em questão de segundos, a música verdadeiramente boa não tem seu devido valor e quem vos escreve sente que não está sendo lido. É o fim da MPB? Há quem diga que não, mas eu não ouso mais dizer se temos esperança na música ou se a música persistirá por mais algum tempo. Por enquanto, me pego ouvindo os clássicos da música popular brasileira com as novidades de hoje em dia sem grandes emoções ou sentimentos que possam me arrebatar para criticar.


É o fim da MPB?
Por Marcelo Teixeira

domingo, 7 de julho de 2019

O adeus a João Gilberto

João Gilberto: a morte em silêncio de um ídolo
Ninguém está preparado para perder alguém. Ainda mais se esse alguém for João Gilberto, o pai da bossa nova, o homem que revolucionou a música popular brasileira nos anos 1960 e que mostrou ao mundo que nós tínhamos a melhor música de todos os tempos. Graças ao João que a bossa sobrevive até hoje, mesmo com alguns retoques, mesmo com algumas sonoridades novas, mas ela permanece intacta, única e saborosamente nova. Nos anos 2000 sua filha, a também cantora Bebel Gilberto, renovou ainda mais a bossa nova criada por seu pai quando lançou o excelente Tanto Tempo (2000, Ziriguidum) e o mundo voltou a se ver embalado pela sonoridade límpida que o estilo proporciona. João Gilberto é o maior cantor desse país, quiçá do mundo! É uma pena que os jovens de hoje em dia não saberão de sua tremenda importância para nossa música brasileira. Ainda há esperança e tempo para que isso possa acontecer. João Gilberto é a mais fina flor desse seleiro musical, a intelectualidade refinada transbordada em poesia e muita criticidade artística. João cantou o amor, a flor, o riso, o silêncio e silenciou o silêncio com um silêncio estarrecedor. João Gilberto não morreu porque sua música é imortal, logo, o mestre torna-se imortal também. João apenas pediu passagem e foi atendido: agora ele encontrou o verdadeiro significado da palavra silêncio.


O adeus a João Gilberto
Por Marcelo Teixeira