quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ana Cañas - uma grata surpresa na MPB

Quando Ana Cañas surgiu com o maravilhoso disco Amor e Caos (2008, Sony / BMG, 24,99) eu pensei: a música popular brasileira está realmente salva das agruras de pagodeiros e sertanistas. Ana encantou logo de cara, foi muito elogiada por seu crivo musical, muito pautada como jazzista e muito bem vinda na nova música popular. Timbre perfeito, repertorio invejável e um disco a sua altura, Ana provou que para se fazer um belo disco, não era necessário servir ao sistema como um cristão serve o seu dízimo.
Disco simples, músicas calibradas e bem arranjadas, Amor e Caos não demorou muito para entrar na minha lista de discos considerados excelentes. A começar pela música que abre o CD, Mandinga Não e pela sofisticação de seu retrato autobiográfico em A Ana, uma música cheia de auto definições e paradigmas de uma Ana temperamental, mas alegre. Homenagem à Clarice Lispector e Marisa Monte na canção Para Todas as Coisas, que mais se parece com a música Diariamente, que Marisa Monte gravou no disco Mais (1997) e uma bela homenagem a Caetano Veloso na faixa Coração Vagabundo, uma linda interpretação para uma música antiga e batida do cancioneiro do cantor. O tom jazzístico vem nas faixas Devolve, Moço e Super Mulher, que de tão harmoniosas, o disco já valeria a pena se estivesse só estas duas canções.
Amor e Caos, o primeiro disco
Logo em seguida veio Hein?, (2009, Sony Music, 19,99) um disco mais pop, mais moderninho e mais voltado à música eletrônica, que perde sua naturalidade com relação ao primeiro disco e a pergunta que ficou no ar foi: o que deu em Ana Cañas para fazer esse disco? O álbum não é ruim, pelo contrário, mas é o inverso do primeiro, que tinha um apelo menos popular, mais MPB, embora jazzístico e mais moderno que o primeiro. Para tanto, invés de Naná Vasconcelos do primeiro disco, veio Arnaldo Antunes no segundo e o resultado foi puro pop moderninho. Arnaldo Antunes não é de todo ruim, não é um artista maldito e muito menos um compositor qualquer. Ao sair dos Titãs, vestiu a própria roupa e se mostrou fiel àquilo que sempre quis demonstrar ao público, deixando claro que seu estilo era atemporal a banda. Ele coloca brilho e luminosidade por onde passa e algumas canções ficaram boas na voz suave de Ana. Porém, o pop popular de uma forma generalizada, não é o perfil de Ana. O jazz sim.
Músicas como Na Multidão, Sempre Com Você e Gira são tão popularescas e estranhas que me pergunto qual cantora poderia regravá-las. Em contrapartida, canções como Na Medida do Impossível, Problema Tudo Bem e A Menina e o Cachorro dão uma sonoridade perfeita e nítida a ouvidos solenes de boa música.
Ambos os discos são bons. Ana apostou na voz, nos timbres, na sua competência e nos brindou com um disco tão arrebatador, tão conquistador, tão maravilhoso, que fica impossível voltarmos ao primeiro como pensamento de inicio de tudo. Hein? é um delicioso disco e Ana Cañas se firma definitivamente como uma cantora de verdade.
Hein?, segundo disco
Mas ouvir Ana Cañas não é simplório. Ela não é tida como uma pessoa simpática, mas isso é o de menos para sua musicalidade. Recentemente fez um show em homenagem ao aniversário de São Paulo e cantou ao lado de Tiê e Mariana Aydar, para deleite do grande público. Ana Cañas é, acima de tudo, uma musicista capaz de nos envolver em seus mistérios. Ela canta com emoção, determinação e ouvir Ana Cañas é uma das oitavas maravilhas do mundo, porque seu timbre de voz é tão marcante, tão vibrante, que fica difícil nos desfazermos dele.
O equilíbrio de sua naturalidade é tão cativante que nos faz perceber o quão necessária se faz sua presença. Ana Cañas é música. Ana Cañas é qualidade.

Amor e Caos
*******Sete Estrelas
Hein?
********Oito Estrelas
Marcelo Teixeira.

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