quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A discreta Juliana Amaral em dois discos excelentes

O primeiro disco, de 2002, ótimo
Não é fácil cantar as músicas de Juliana Amaral: sua voz tem um timbre fino, apurado e na maior parte das vezes, cantar com ela dá aquela sensação de cansaço, exaustão. Talvez seja por isso mesmo que Juliana Amaral tenha um misto de querer mais e ousadia. Seus dois discos, Águas Daqui (2002) e Juliana Samba (2007) são de uma profundeza melancólicas misturadas com canções que nos fazem pensar sobre o amanhã, sobre a política, sobre o rumo da natureza perdida, sobre o amor. Juliana Amaral não é uma cantora qualquer, mas acima de tudo, eleva seu dom maior a criticar as mazelas de uma vida cotidiana, de um amor reprimido, da estupidez do ser humano, das Minas Gerais perdida numa estação qualquer do ano. Ouvir Juliana Amaral é ter a nítida sensação de bem estar, de afeto, de capricho, de solitude, de paixão.
Recomendo Juliana Amaral e seus dois belos discos pelo simples fato dela ser uma das expoentes da nova MPB que fazem sucesso sem incomodar  próximo, sem interferir na vida alheia e sem fazer rodeios. Ela simplesmente canta e canta tão maravilhosamente bem que fica impossível dizermos o contrário. Lembremos sempre de sua voz com uma mistura de qualidade e sabedoria e pensemos em suas músicas como um leitor lembra de um grande livro ou um jornalista de uma grande reportagem.
O segundo disco, de 2007, sambas perfeitos
Suas músicas são a prova de que a qualidade da música popular brasileira é a melhor possível e que estamos diante uma artista completa, difícil de ser cantada, mas fácil de ser compreendida. Sua emoção nos transmite a certeza de que a teatralidade musical ainda está viva, mesmo que esquecida nos dias de hoje por músicos que estão na mídia. Sua vivência em nos mostrar músicas da mais alta qualidade, da mais alta competência e do mais alto patamar está em seus discos, tão profundamente merecedores de aplausos quanto de prêmios.
Juliana Amaral não é uma cantora conhecida do grande público, suas músicas não tocam nas rádios, seu nome não é associado aos grandes nomes nem carimba seus shows em grandes eventos, mas vale ressaltar que Juliana Amaral lançou dois discos importantíssimos para a música popular brasileira e que merece toda a nossa atenção. Seu crivo maior é ser cantora e seu impulso artístico nos leva a certeza de que a MPB está salva de jenipapos do mundo globalizado de homens de ternos que manipulam o serviço daqueles que realmente podem nos mostrar algo realmente útil e satisfatório.
O aspecto vital do intimismo de Juliana Amaral está justamente na recriação de clássicos da MPB para a modernidade. Recriar o universo de uma canção e a recontar de uma forma sua, unilateral e ulterior é um fascínio e uma singularidade que poucos conseguem e Juliana consegue dar conta e brilho destes critérios com tamanha desenvoltura, que muitas vezes soa a intenção de música nova.
Prestem muito atenção neste nome e corram para obter seus discos, pois futuramente eles serão raros e artigos de luxo na sua coleção: JULIANA AMARAL.

Marcelo Teixeira


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