Chico: polêmica desde 2005 |
Odeio
Rodeio
acabou se tornando um grito de guerra das entidades protetoras dos animais e o
bordão dá nome à campanha lançada pela Associação Paulista de Auxílio aos
Animais (Apaa), que tem até adesivos. Odeio
Rodeio também estampa camisetas - uma delas usada pela cantora Pitty, que
usou ostensivamente após o lançamento da canção.
Odeio rodeio e
sinto um certo nojo
Quando um sertanejo começa a tocar
Eu sei que é preconceito, mas ninguém é
perfeito
Me deixem desabafar
(Trecho de Odeio Rodeio, de
Chico César)
Rodeio
e religião: se me perguntarem, digo que sou contra aquele e antipatizo com este.
Mas só se me perguntarem. Tolero bem a existência destas duas expressões – a
cultural e a divinação ao culto, ao ponto de buscar algo que as una em mim para que eu
possa dar minha opinião. Sei que ninguém pediu, mas ideias ganham vida própria
sem que digamos sim ou não.
Lá
se vão quase sete anos do lançamento do desafio do cantor sertanejo Zezé di
Camargo à roqueira Rita Lee para que esta provasse denúncias de maus tratos a
animais durante os muitos rodeios realizados Brasil afora. Houve, por aquela
época da composição, em parceria cantada com Chico César (hoje
ocupando o cargo de secretário estadual de cultura da Paraíba), a proibição da canção ODEIO RODEIO, que viria enfurecer a ala
pop de intérpretes de música caipira (gênero dominante em eventos country).
Polêmica
velha e que se consumiu no deslinde do mau enfrentamento de ideias
preconceituosas (Rita/Chico) versus defesa baseada em números (não levaram em
conta o sofrimento dos animais) tais como a quantidade de empregos que os
rodeios geram, retorno financeiro para as cidades que sediam grandes eventos, e
que tais sertanejos usam e abusam. Reclamaram da música, reclamaram de Chico e
Rita, houve muita discussão entre sertanistas com calças apertadas e cabelos
arrepiados e nada pensaram sobre os animais.
Acompanhei
a pantomima saboreando um bom contrafilé assado e dando razão à vegetariana
Rita, mas sem dizer a ninguém minha opinião. Dizia apenas de si para si que o
desnecessário e o ocre do rodeio poderiam ser testados com os peões sendo montados
pelos bois e cavalos. Opinar contra isto ou aquilo, só se encostassem um punhal
de prata em um dos meus olhos e dissessem: - Opine! Diga! E eu diria que sou contra rodeio, que vejo naquilo
apenas crueldade e sadismo, nada mais.
A calça
apertada, a loura suada, aquele poeirão
A dupla cantando e um louco gritando “segura
peão”
Me tira a calma, me fere a alma, me corta o
coração
Se é luxo ou é lixo, quem sabe é bicho que
sofre o esporão
(Trecho de Odeio Rodeio, de
Chico César)
O
fato é que este que vos escreve é homem comum como outro qualquer, e por ser
comum tem hábitos considerados normais, anseios e ambições rastaqueras, desejos
inimputáveis e sonhos tão recorrentes quanto ordinários. Ou seja, uma estrela
no céu, uma gramínea no descampado, um automóvel em um congestionamento. Apenas
mais um. Mais um entre tantos.
Assim
sendo posso afirmar que, no mesmo instante que a música causa repulsa e
estranheza, a mesma me atrai, me completa e me comove. Me atrai porque me faz
observá-la (mesmo que longe); me completa porque ainda aposto que a canção
poderia fazer parte de uma aventura minha e me comove pois sei que, para o
indivíduo sertanejo, não é nada bom ler ou ouvir aquilo que lhe causa prazer,
noutro provoca profundo, danoso e irreversível asco.
É bom pro
mercado de disco e de gato, laranja e trator
Mas quem corta a cana não pega na grana, não
vê nem a cor
Respeito Barretos, Franca, Rio Preto e todo o
interior
Mas não sou texano, a ninguém engano, não me
engane, amor
(Trecho de Odeio Rodeio, de
Chico César)
Todavia,
não sou do tipo que faz comícios ou ergo bandeiras. Confio acreditando que as
pessoas são livres para sentirem o justo, o grande e pequeno daquilo que
realmente sentem, pública ou sofregamente. Só não encostem um punhal colorido em
um dos meus olhos, dizendo: - Opine!
Diga! Direi que sou contra o sertanejo sujo que se propaga em praça pública.
Creio
piamente que ideais não devam ser impostos. Então, que os peões guardem seus
punhais e deixem as pessoas refletirem a cerca de questões postas, nunca na
ordenança falsa de formadores de opiniões charlatãs, que visam esconder a
verdade e destroem o direito de um prazer existir naturalmente. Não acho
possível que um boi pule daquele jeito só porque tem um peão em seu dorso, nem
acho justo que uma parada evangélica seja realizada com dinheiro público (no
único evento do interior paulista foi utilizado este expediente). Se me
perguntarem, digo que sou contra. Aliás, sou contra a tudo o que seja
manifestação pública: contra rodeios, contra sertanejos rotos e contra
evangelizações fora do contexto.
E
a polêmica Odeio Rodeio, que lançou
pelo seu próprio selo e foi recusada em praticamente todos os canais de rádio e
televisão para não ferir interesses econômicos óbvios e a suscetibilidade de
alguns colegas, fez com que Chico César ficasse recluso por um tempo, lançando
discos maravilhosos, mas que a mídia controladora não as permitiu divulga-las
com exatidão. Uma pena.
Compacto
e Simples / Chico César
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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