sexta-feira, 29 de abril de 2016

25 anos sem Gonzaguinha


Gonzaguinha: saudades
Jamais haverá um cantor com a dimensão de Luiz Gonzaga Júnior: ele era mais do que um cantor. Era um dos melhores compositores de sua geração, um dos mais procurados pelas cantoras em ascensão dos anos 1980 e estava no auge da carreira artística quando sofreu um acidente de carro e partia para um outro plano, 1991. O Brasil perdia naquele momento seu filho mais ilustre, o artista completo, que conseguiu expor em canções todos os sentimentos possíveis e imagináveis, todas as amarguras e dissabores que uma pessoa possa ter, um cantor por excelência e um compositor por exatidão. Neste ano de 2016 completam-se 25 anos de sua morte e o Mais Cultura Brasileira faz uma ressalva para aqueles que não conhecem a obra magistral deste grande artista morto precocemente, na tentativa de poder resgatar sua imagem junto aos cantores que bradaram contra movimentos erradicados dentro do próprio país. É lastimável que um país com um vasto conhecimento musical fora de seu território, tenha populares que não conseguem enxergar para dentro de seu umbigo e reconhecer seus talentos. Essa injustiça acomete ao Gonzaguinha, um cantor que detestava holofotes, mas que gostava de entrar em brigas musicais, nas quais sempre ganhava. Mas e se vivo fosse, como seria a postura de Gonzaguinha? Na certa estaria bradando ainda mais contra a política, ainda mais contra os sentimentos aflorados e defendendo a figura feminina como sempre o fez.  No ano passado, o cantor faria 70 anos e pouca mídia fez questão de frisar isso, o que acaba pulverizando ainda mais o mecanismo de divulgação do artista para os dias atuais. A geração que nasceu com o advento da internet e das redes sociais em voga não teve a oportunidade de ouvir ou de acompanhar a carreira meteórica de Gonzaga Júnior, um cantor eletrizante e magnético, mas na certa essas mesmas pessoas já ouviram músicas como O que é, o que é, Grito de Alerta, Explode Coração ou Espere por mim, morena ecoando por ai nas vozes de outras cantoras. Mas essas mesmas redes sociais ajudam a fomentar a ideia de que Gonzaguinha está nas paradas de sucesso hoje e sempre, pois há várias páginas em homenagem ao cantor que faz com que o internauta possa conhecer a obra incandescente deste artista único.  São 25 anos de saudades, mas graças ao legado que o cantor nos deixou, nos apegamos às suas músicas e podemos sorrir sem medo e vergonha de sermos felizes.

 

25 anos sem Gonzaguinha
Por Marcelo Teixeira

 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

1976: o ano de Milton Nascimento

Capa estranha e disco mediano de Milton
O ano de 1976 era o décimo na carreira artística de Milton Nascimento, um cantor que vinha agradando ao público desde os anos 1960 pela potência de sua voz e pelas composições de força impactante que produzia em um país sem alma. Foi um ano intenso, marcante , profundo e determinante em sua carreira. Além de produzir o álbum Geraes com a participação dos novos amigos Chico Buarque, Mercedes Sosa e o conjunto chileno Agua e de musicar Maria, Maria, a peça de estreia do grupo de dança contemporânea Corpo, Milton ainda encontrou um tempo em seu calendário para gravar o seu terceiro disco nos Estados Unidos. Dessa vez, um álbum com todas as canções traduzidas para o inglês para facilitar a divulgação nos mercados norte-americano e mundial. Deu certo. O novo disco foi intitulado apenas de Milton e seria o primeiro do contrato recém-assinado do cantor e compositor com a gravadora de maior prestégio lá fora, a A&M Records. Das nove músicas selecionadas, duas eram inéditas: Raça, composta em parceria com o grande amigo e poeta Fernando Brant e a bela, visceral e prodigiosa Francisco, composição solo de Milton. Milton estava em todas as bocas com o lançamento deste disco, mas esse feito só aconteceu devido o lançamento anterior, Geraes, que comoveu o público com ricas e belas canções, lançado também no emblemático ano de 1976. Ao todo, Milton lançava dois discos simultaneamente, um feito e tanto para um artista nos anos 1970. A grande sacada deste álbum foi o fato de mesclar músicos brasileiros tarimbados na missão de tocar com o genial autor de Travessia, como Novelli no baixo, Toninho Horta na guitrra e Robertinho Silva na bateria com alguns brasileiros radicos nos Estados Unidos, caso dos percussionistas Airto Moreira e Laudyr de Oliveira e o trombonista Raul de Souza, o tecladista uruguaio Hugo Fattoruso e os jazzistas americanos Wayne Shorter no sax e Herbie Hancock nos teclados.  Milton (1976 / A&M Records / 24,99) não é um grande disco na carreira de Milton Nascimento, mas confirma a sua identidade dentro da música popular brasileira. Agora o disco volta com força total às paradas devido a faixa Francisco ser tema de abertura da novela Liberdade, Liberdade (2016, Globo), em que homenageia Tiradentes e sua filha Joaquina. Seja como for, a impactante e majestosa canção ganha todo o disco, faz uma entrada triunfal na novela e capitula o vacalise de Milton Nascimento para sempre.

 
Milton (1976) / Milton Nascimento
Nota 9
Marcelo Teixeira

terça-feira, 19 de abril de 2016

O Bang de Anitta



 



Sucessos descartados

Não existe comparação de Anitta com nenhuma outra cantora brasileira em atividade hoje em dia. E nem poderia existir porque Anitta é única e exclusiva: apenas ela consegue ser ela. E ela consegue ser melhor cantando do que falando, cantando do que dando entrevistas, cantando do que fazendo qualquer coisa. Mesmo que sua especialidade não seja a voz e nem a mente, Anitta se sobressai apenas com seus glúteos avantajados (Freud poderia explicar isso!). E só. Mas não posso deixar de dizer que Bang (2016 / Warner Music / 28,99), sua nova produção, é legalzinha dentro dos padrões do pop nacional. Mas as únicas músicas que se superam nesse disco é a faixa título e a número dois, Deixa ele sofrer, porque as outras faixas são de uma tristeza que só: músicas que não nos leva a lugar nenhum em questão de intelectualidade e/ou musicalidade. Óbvio que Anitta não é uma cantora que foi produzida para ser a musa da MPB e nem pensaram na possibilidade de fazer dela uma nova Elis Regina ou Gal Costa e, por esse mesmo motivo, a cantora consegue ser autoral naquilo que faz, consegue ser ingênua em suas entrevistas e muito sincera em suas opinões e, talvez por isso e nesse quesito, seja melhor ouvir suas músicas. Anitta é o tipo de cantora que precisa se conhecer mais e estar mais antenada com o mundo que gira ao seu redor e mesmo sabendo que isso poderá demorar muito para acontecer, ela parece que prefere ficar nesse mundinho pop fashion que não enriquece a ninguém culturalmente. Porém, preciso ressaltar aqui que a cantora consegue dar a volta por cima e lançar discos cada vez mais audaciosos, dispostos a estarem em primeiro lugar nas paradas de sucesso e a angariar status de diva da música popular brasileira. Anitta é a favorita de dez entre dez jovens e passou a ser a nova queridinha do momento glamour. Mesmo não cantando nada, a cantora mais esboça seu corpo do que canta suas músicas e isso não é um defeito maior, até porque Anitta passou a ter corpo para poder exibir nacionalmente. Mas o que peca aqui é a qualidade musical de seu novo álbum: apenas Bang consegue ser atraente, nada mais do disco é atrativo e isso se prova nas estações de rádio e programas de TV. Com várias participações especiais, Bang passa a ser o melhor da carreira da cantora por ser o mais bem produzido, o melhor adaptado, o mais hermético e o que traz uma sonoridade mais explícita de Anitta. Mas quem ouve Bang por inteiro logo pára para poder pincelar músicas antigas de sua carreira. De fato e tediosamente, a cantora consegue ser uma diva daquilo que produz, mas o que Anitta precisa entender é que as divas tropeçam, caem, se machucam, erram e umas nem levantam com o tempo.

 

Bang / Anitta
Nota 7
Marcelo Teixeira

 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Cantada: um disco arrastado, mas sútil de Adriana Calcanhotto

Disco experimental de Adriana
Há muitas singularidades informais no disco de Adriana Calcanhotto lançado em 2002: a começar pela título Cantada e pela boca com batom vermelho, o álbum também passei entre o nostálgico e as incertezas do amor, da paixão e do sentimento a dois. Não posso tirar aqui a qualidade musical de Adriana, mas posso conceber-te um apreço menor em notas comparando este com os seus trabalhos antigos e, automaticamente, posteriores. Não trata-se aqui de um disco maravilhoso, pautado entre as melhores rimas ou os melhores tinos poéticos, mas Adriana nos entregou um disco arrastado, cansativo na sua formalidade e pouco expressivo. Mesmo sendo um disco romântico e com levada mais pop que os anteriores, Adriana deixa a desejar em canções que poderiam ser melhor trabalhadas e melhor adaptadas. Os acertos foram poucos, mas consideravelmente aceitos, caso das músicas Depois de Ter Você (cantada anteriormente por Maria Bethânia) e Noite, em que a poesia de Adriana reina absoluto. Cantada (2002 / BMG / 27,99) é um disco mediano, bonitinho mas sem exageros, que passaria despercebido se não fosse algumas canções muito bem selecionadas para este projeto.  Sendo seu sexto álbum de carreira, a cantora apostou em sonoridades experimentais e evidencia mais o pop aqui que em discos mais autorais, o que fica evidente em releituras de Madonna e a sua entrega apaixonante e resistente à música Pelos Ares.  Seja como for, o disco de Adriana Calcanhotto não é dos melhores, não é o melhor de sua carreira, mas vale a pena ouvi-lo por ser um disco atípico, experimental e artistico no visual. Mesmo sendo arrastado e cansativo, vale a pena prestigiar a obra de Adriana nem que seja para acompanhar sua carreira.
 

Cantada / Adriana Calcanhotto
Nota 8
Marcelo Teixeira