segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O doce sabor das Chicas



Chicas: isso é música brasileira!
Chicas é a banda formada por Amora Pera, Fernanda Gonzaga, Isadora Medella e Paula Leal, que anda fazendo muito barulho por onde passam devido a técnica vocal e instrumental que todas carregam. Composições próprias e regravações de grandes canções da MPB, agitaram o lançamento do DVD em julho/2009. Sendo uma banda exclusivamente feminina, As Chicas é uma da melhores  bandas de MPB dos últimos anos. Prezam pela musicalidade, notas perfeitas, instrumentos maravilhosos, zabumba, xilofone, violoncelo e violino. Percussão, um dedo de forró misturado com um maracatu atômico. Enfim, música brasileira de qualidade. Em 1996, as quatro amigas decidiram formar uma banda. Nascia, até então denominada, banda Las Chicas. Composta por quatro excelentes musicistas, Amora Pêra, Fernanda Gonzaga, Isadora Medella e Paula Leal, a banda que já era agraciada pela herança genética de Gonzaguinha (pai de Fernanda e Amora), tocou durante 2 anos em festas de amigos, pequenos palcos, mas nada muito comprometido. A banda se desfez, fruto da imaturidade das meninas ainda muito novas naquela época, mas retornou quatro anos após essa pequena pausa. Mais experientes, as meninas seguiram tocando em festivais, pequenos palcos e dessa forma, foram testando seu repertório e conquistando um público fiel. Em 2006, após três anos de espera e experimento, a banda Chicas, lança seu primeiro CD Quem vai comprar nosso barulho?, fruto de uma produção independente e investimento das quatro cantoras. Mesmo com uma pequena divulgação, basicamente composta pelo boca-em-boca, uma ativíssima comunidade na internet e busdoor só para um show, a banda lotou a casa de show Rival, em uma única apresentação. Além disso, já conquistou alguns prêmios em importantes festivais como o Prêmio TIM da Música, gravação de programas televisivos, venda de milhares de cds, consecutivas semanas entre as 10 mais tocadas em algumas rádios FM's, lotação de casas de shows no Rio e estados vizinhos. Pois é, não precisa ser só filha do astro Gonzaguinha, tem que saber fazer música também. E isso, as Chicas sabem fazer bem.

 

O doce saber das Chicas / Chicas
Nota 10
Marcelo Teixeira

domingo, 21 de setembro de 2014

As várias facetas de Bebel Gilberto em Tudo (2014)


 

Bebel em português, inglês e francês
Filha de João Gilberto e Miúcha e sobrinha de Chico Buarque de Hollanda a cantora Bebel Gilberto é praticamente a guardiã legítima do som que seus pais ajudaram a criar no Brasil, mas com uma diferença que soa bem para a sua carreira: Bebel consegue misturar a bossa nova de outrora com o som dançante de hoje em dia. Sim, Bebel é pop, o que na língua comum dos dias de hoje, significa popular. Mas Bebel não é tão popular assim: seus discos são a característica física de uma cantora com significação maior que o seu sobrenome, pois suas músicas são produzidas com requintes de qualidade superior e suas letras são redondas, perfeitas e simétricas. A cada disco, Bebel Gilberto trás uma ou outra canção que nos eriça e isso vem acontecendo desde o seu lançamento oficial com Tanto Tempo (2000), um dos discos mais comentados e aplaudidos nos Estados Unidos, Japão e, por incrível que possa parecer, aqui no Brasil também. De lá pra cá, a cantora não parou mais de produzir discos sensacionais, com parcerias incríveis e com uma sofisticação ímpar. Sendo o CD mais aguardado do ano pelos americanos e pelos brasileiros que lá moram, Tudo (2014 / Sony Music / 28,99) pode-se dizer que a cantora se superou em praticamente tudo, principalmente na ousadia de compor, no atrevimento de compactuar duetos sensacionais e no arremesso de cantar em uma terceira língua. Tudo tem tudo e um pouco mais: é um dos discos mais experimentais de Bebel Gilberto, por se tratar de um disco acima de sua capacidade de inovar. Aqui Bebel canta em inglês (Somewhere Else, Harvest Moon, Lonely In My Heart), em português (Nada Não, Tom de Voz, Novas Ideais, Tudo, Saudade Vem Correndo, Areia, Vivo Sonhando, Inspiração) e em francês, na deliciosa Tout Est Bleu, que parece que foi posta no disco para ser um hit das pistas de dança pelo mundo afora. Bebel se arriscou e conseguiu se distinguir de outros discos de sua carreira, que chegaram a ser calorosamente frios (mas não menos importantes em sua discografia), por terem letras e melodias densas demais, caso do disco Momentos (2007) ou All in One (2009), que fora praticamente produzido para o mercado internacional. Bebel Gilberto, acima de tudo, é uma cantora brasileira nascida nos Estados Unidos e, por esse motivo, recriou o jeito de se fazer música ao seu gosto e estilo e introduziu no Brasil uma linguagem nova (e muito aplaudida) em seus discos. Tudo é a prova maior dessa sua capacidade de se impor entre as melhores letristas e cantoras do mundo e, para que essa consagração seja maior, convidou a cantora e compositora Adriana Calcanhotto para fazerem juntas a letra da música que dá título ao disco. Convidou também o cantor e compositor Seu Jorge (que está bem nas paradas de sucesso em terras americanas) e, claro, não poderia faltar Tom Jobim marcando de vez que seu lado bossa novista fala mais alto. Tudo é um dos melhores discos de Bebel Gilberto, depois de Tanto Tempo, sem trocadilhos, literalmente.

 

Tudo / Bebel Gilberto
Nota 10
Marcelo Teixeira

domingo, 14 de setembro de 2014

As releituras de Mônica Salmaso em Corpo de Baile (2014)


Ótimas releituras
O penúltimo disco de Mônica Salmaso, Alma Lírica Brasileira, lançado em 2011, foi passado desapercebido pelo grande público e pela crítica especializada e acabou sendo um disco qualquer na sublime carreira da cantora, mesmo sendo esse disco um paralelo de divisor de águas na carreira de Mônica, por se tratar de um disco produzido com requintes de rica musicalidade e que no frescor de sua alma de cantora, expôs todo o seu sentimento para com as canções ali cantadas. Teve Adoniran Barbosa, José Miguel Wisnik, Paulo Vanzolini e o sambinha de Herivelto Martins, Meu rádio e meu mulato, mas o disco não emplacou. Agora a cantora acaba de lançar um dos discos mais nobres de sua carreira. Corpo de Baile (2014 / Biscoito Fino / 31,99) é um punhado de canções da dupla Guinga e Paulo César Pinheiro e mesmo sendo um disco de releituras, as músicas dão um novo frescor na delicada e sútil voz de Mônica. Destaques para a lindíssima Porto Araújo, já cantada brilhantemente pela cantora Simone Guimarães em seu disco Virada pra Lua (2001) e Bolero de Satã, imortalizada na voz de Elis Regina, que no disco Elis, Essa Mulher (1979) cantou ao lado de Cauby Peixoto. Recentemente, a cantora e filha de Elis, Maria Rita, deu um banho de interpretação nesta mesma música, pouco gravada do cancioneiro de uma das maiores vozes do Brasil. Quase todos os discos de Mônica são um convite para que possamos crer que a música popular brasileira está a salvo e Corpo de Baile prova mais que isso: que a música de dois gênios da música está para ser ouvida por todos e em todos os cantos. Mônica Salmaso apenas deu um verniz e explicou a importância de Guinga e Paulo César Pinheiro dentro da MPB. Corpo de Baile é um disco que merece ser ouvido. E respeitado!


Corpo de Baile / Mônica Salmaso
Nota 10
Marcelo Teixeira

domingo, 7 de setembro de 2014

Zerima, o novo disco de Luiz Melodia


Zerima por Melodia
Sem sombra de dúvidas, Luiz Melodia lança seu melhor disco nos últimos anos. Embora Zerima esteja bem próximo do álbum Pérola Negra, Luiz Melodia prova que é um dos melhores cantores da música popular brasileira e toda essa semelhança passa desapercebido já na segunda audição embora o Pérola não tivesse tantos sambas quanto este. Mas teve essa variedade de ritmos. Em 1973, o cantor e compositor carioca marcava a estreia da carreira musical com o lançamento de Pérola Negra, sua marca registrada até hoje e imortalizada na voz de Gal Costa. Aclamado pela crítica à época, o disco é até hoje notado pelas composições bem ordenadas e pelo atrevimento do carioca ao se enveredar pelo samba, choro, rock, forró, soul e o blues em um único trabalho. Esta mistura virou uma marca do artista e volta a se repetir em Zerima (2014 / 26,99 / Som Livre), seu 14º álbum em mais de 40 anos de estrada, recém-lançado maravilhoso trabalho. No novo álbum, a excursão musical de Luiz Melodia faz escalas no samba, bossa, blues, jazz, reggae, funk, valsa, entre outros ritmos. Tudo isso em 14 faixas, sendo 11 autorais inéditas e três regravações. Entre estas, a composição Maracangalha, de Dorival Caymmi. A cantora Céu, assim como o filho de Melodia, Mahal, dão as caras em Zerima. Ela empresta a voz na canção Dor de Carnaval. O resultado é um belo dueto em forma de bossa nova. O convite de Céu, cantora que Melodia aprecia muito, aconteceu como forma de retribuição ao convite que ele recebeu para fazer uma ponta no disco Vagarosa, que a cantora lançou em 2009, onde os dois artistas ilustres fizeram uma parceria formidável.

 

Zerima / Luiz Melodia
Nota 10
Marcelo Teixeira

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O pagode de ontem vira referência no pagode de hoje



Os amigos do pagode
Quando houve a explosão do pagode, em meados da decada de 1990, muitos acharam que essa onda seria passageira. Vínhamos de uma explosão sem igual da decada de 1980, a era do Rock Brasileiro e tínhamos que aturar as dancinhas insignificantes do cantor Latino e a categoria primordial do axé de Daniela Mercury que explodiu em todo o país. A era sertaneja começava a desandar e a patinar no asfalto, enquanto o pagode crescia numa forma alucinante, surgindo a cada semana um grupo diferente. Originado do samba de raiz e tendo como média as orientações de grandes bambas do passado, os pagodeiros (como ficaram conhecidos) eram todos mal vistos: desde suas danças horrendas, passando por suas roupas ridiculas, culminando em algumas trapaças sem igual, os pagodeiros da primeira leva eram rotos, chatos e tinham a aparência suja. Cantavam o amor, os sentimentos mais puros com pitadas de traição e isso divertia a todos que passaram a aderir ao movimento. Mas cada grupo tinha o seu jeito de demonstrar a sua música e isso foi sendo respeitado até o forró universitário tomar conta do pedaço e acabar de vez com os passinhos mansos e desajeitados dos rapazes do suburbio. Mas o que naquela época causava desgosto e repulsa, hoje causa uma sensação de alívio ao saber que os Amigos do Pagode resolveram se juntar para formar um novo grupo. Explico: àquela época eu detestava o pagode (e ainda o detesto) e hoje os admiro pela garra e coragem com que vem demonstrando singularmente suas canções. Hoje vejo uma grande diferença entre a música pagodeira e a música sertaneja de péssimo gosto duvidoso que é produzida no país e confesso que o grupo Amigos do Pagode fizeram um bem danado em poder reviver os tempos áureos de realeza e constelação. Formado por Salgadinho (Katinguêle), Márcio (Art Popular) e Chrigor (Exaltasamba), o Amigos do Pagode matam a saudade de hits como Telegrama e de outras dezenas que compunhavam as trilhas românticas de casais apaixonados em bares e botequins. A ideia saiu de Salgadinho (que nunca abandonou a música, mesmo depois do ostracismo) há cerca de quatro anos; juntou-se aos dois maiores pagodeiros da época e formaram o grupo. E por que eu, um crítico ferrenho dos pagodeiros, que já foi aos jornais criticar o estilo musical, está defendendo o grupo hoje? Simples: comparando a música atual com a música que eles produziram, a resposta fica fácil. Havia começo, meio e fim nas melodias e havia carisma, havia simpatia e havia entusiamo nas canções, o que hoje não se vê nas música sertanejas e pagodeiras que ouvimos. Havia, principalmente, voz. A boa ideia de juntar as três vozes foi perfeita, porque tanto Salgadinho quanto Chrigor e Márcio são as maiores vozes do pagode de todos os tempos. Talvez Márcio seja ainda a melhor voz. Mas independentemente de voz ou estilo, o Amigos do Pagode demonstra que o tempo é o melhor remédio para que o sucesso possa vir mais uma vez bater em suas portas.

 

Amigos do Pagode / Salgadinho, Márcio e Chrigor
Por Marcelo Teixeira