Bebel em português, inglês e francês |
Filha de João Gilberto e Miúcha e sobrinha de
Chico Buarque de Hollanda a cantora Bebel Gilberto é praticamente a guardiã
legítima do som que seus pais ajudaram a criar no Brasil, mas com uma diferença
que soa bem para a sua carreira: Bebel consegue misturar a bossa nova de
outrora com o som dançante de hoje em dia. Sim, Bebel é pop, o que na língua
comum dos dias de hoje, significa popular. Mas Bebel não é tão popular assim:
seus discos são a característica física de uma cantora com significação maior
que o seu sobrenome, pois suas músicas são produzidas com requintes de
qualidade superior e suas letras são redondas, perfeitas e simétricas. A cada
disco, Bebel Gilberto trás uma ou outra canção que nos eriça e isso vem
acontecendo desde o seu lançamento oficial com Tanto Tempo (2000),
um dos discos mais comentados e aplaudidos nos Estados Unidos, Japão e, por
incrível que possa parecer, aqui no Brasil também. De lá pra cá, a cantora não
parou mais de produzir discos sensacionais, com parcerias incríveis e com uma
sofisticação ímpar. Sendo o CD mais aguardado do ano pelos americanos e pelos
brasileiros que lá moram, Tudo (2014 / Sony Music / 28,99)
pode-se dizer que a cantora se superou em praticamente tudo, principalmente na
ousadia de compor, no atrevimento de compactuar duetos sensacionais e no arremesso
de cantar em uma terceira língua. Tudo
tem tudo e um pouco mais: é um dos discos mais experimentais de Bebel Gilberto,
por se tratar de um disco acima de sua capacidade de inovar. Aqui Bebel canta
em inglês (Somewhere Else, Harvest Moon,
Lonely In My Heart), em português (Nada
Não, Tom de Voz, Novas Ideais, Tudo, Saudade Vem Correndo, Areia, Vivo
Sonhando, Inspiração) e em francês, na deliciosa Tout Est Bleu, que parece que foi posta no disco para ser um hit
das pistas de dança pelo mundo afora. Bebel se arriscou e conseguiu se
distinguir de outros discos de sua carreira, que chegaram a ser calorosamente
frios (mas não menos importantes em sua discografia), por terem letras e
melodias densas demais, caso do disco Momentos (2007)
ou All in One (2009),
que fora praticamente produzido para o mercado internacional. Bebel Gilberto,
acima de tudo, é uma cantora brasileira nascida nos Estados Unidos e, por esse
motivo, recriou o jeito de se fazer música ao seu gosto e estilo e introduziu
no Brasil uma linguagem nova (e muito aplaudida) em seus discos. Tudo é
a prova maior dessa sua capacidade de se impor entre as melhores letristas e
cantoras do mundo e, para que essa consagração seja maior, convidou a cantora e
compositora Adriana Calcanhotto para fazerem juntas a letra da música que dá
título ao disco. Convidou também o cantor e compositor Seu Jorge (que está bem
nas paradas de sucesso em terras americanas) e, claro, não poderia faltar Tom
Jobim marcando de vez que seu lado bossa novista fala mais alto. Tudo é
um dos melhores discos de Bebel Gilberto, depois de Tanto Tempo,
sem trocadilhos, literalmente.
Tudo / Bebel
Gilberto
Nota 10
Marcelo Teixeira
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