Os amigos do pagode |
Quando houve a explosão do pagode,
em meados da decada de 1990, muitos acharam que essa onda seria passageira.
Vínhamos de uma explosão sem igual da decada de 1980, a era do Rock Brasileiro
e tínhamos que aturar as dancinhas insignificantes do cantor Latino e a
categoria primordial do axé de Daniela Mercury que explodiu em todo o país. A
era sertaneja começava a desandar e a patinar no asfalto, enquanto o pagode
crescia numa forma alucinante, surgindo a cada semana um grupo diferente.
Originado do samba de raiz e tendo como média as orientações de grandes bambas
do passado, os pagodeiros (como ficaram conhecidos) eram todos mal vistos:
desde suas danças horrendas, passando por suas roupas ridiculas, culminando em
algumas trapaças sem igual, os pagodeiros da primeira leva eram rotos, chatos e
tinham a aparência suja. Cantavam o amor, os sentimentos mais puros com pitadas
de traição e isso divertia a todos que passaram a aderir ao movimento. Mas cada
grupo tinha o seu jeito de demonstrar a sua música e isso foi sendo respeitado
até o forró universitário tomar conta do pedaço e acabar de vez com os
passinhos mansos e desajeitados dos rapazes do suburbio. Mas o que naquela
época causava desgosto e repulsa, hoje causa uma sensação de alívio ao saber
que os Amigos do Pagode resolveram se juntar para formar um novo grupo.
Explico: àquela época eu detestava o pagode (e ainda o detesto) e hoje os
admiro pela garra e coragem com que vem demonstrando singularmente suas
canções. Hoje vejo uma grande diferença entre a música pagodeira e a música
sertaneja de péssimo gosto duvidoso que é produzida no país e confesso que o
grupo Amigos do Pagode fizeram um bem danado em poder reviver os tempos áureos
de realeza e constelação. Formado por Salgadinho (Katinguêle), Márcio (Art
Popular) e Chrigor (Exaltasamba), o Amigos do Pagode matam a saudade de hits
como Telegrama e de outras dezenas
que compunhavam as trilhas românticas de casais apaixonados em bares e
botequins. A ideia saiu de Salgadinho (que nunca abandonou a música, mesmo
depois do ostracismo) há cerca de quatro anos; juntou-se aos dois maiores
pagodeiros da época e formaram o grupo. E por que eu, um crítico ferrenho dos
pagodeiros, que já foi aos jornais criticar o estilo musical, está defendendo o
grupo hoje? Simples: comparando a música atual com a música que eles
produziram, a resposta fica fácil. Havia começo, meio e fim nas melodias e
havia carisma, havia simpatia e havia entusiamo nas canções, o que hoje não se
vê nas música sertanejas e pagodeiras que ouvimos. Havia, principalmente, voz.
A boa ideia de juntar as três vozes foi perfeita, porque tanto Salgadinho
quanto Chrigor e Márcio são as maiores vozes do pagode de todos os tempos.
Talvez Márcio seja ainda a melhor voz. Mas independentemente de voz ou estilo,
o Amigos do Pagode demonstra que o tempo é o melhor remédio para que o sucesso
possa vir mais uma vez bater em suas portas.
Amigos do Pagode
/ Salgadinho, Márcio e Chrigor
Por Marcelo
Teixeira
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