terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Diogo Nogueira: a semelhança do pai e um gingado próprio

Diogo Nogueira tem o jeito do pai, João Nogueira, a voz do pai, João Nogueira, o andar do pai, João Nogueira, o estilo do pai, João Nogueira, a cadência do pai, João Nogueira, o samba na palma na mão e no pé do pai, João Nogueira e estilo único dele mesmo, Diogo Nogueira. Diogo Nogueira é simplesmente ele mesmo no palco, mas sendo fiel ao escudo do pai, João e sendo autentico, espontâneo, único. O sorriso também herdado do pai demonstra a característica física do homem que revolucionou o samba na década de 1970 e conquistou respeito e honestidade por onde passava. Hoje, quase vinte e tantos depois, crescido e sendo considerado um dos principais nomes do samba atual, Diogo Nogueira olha para trás e canta a música Espelho, grande sucesso do pai e um retrato autobiográfico do próprio, cujo verso dizia “de fazer canções como as que fez meu pai”. É impossível não olhar Diogo Nogueira e não se surpreender com tamanha aparência com o pai. Mas não é de se espantar que Diogo tenha entrado definitivamente para o grupo seleto de sambistas que fazem sucesso não só cantando a herança do pai, como seus próprios sambas.


Seja cantando sucessos antigos, seja cantando músicas novas e contemporâneas, Diogo pode ser considerado um fenômeno. Ganhador de considerados prêmios, tendo manifestado tendências a outros estilos, como a MPB e o romantismo, Diogo pode (e consegue) flertar com cantores de outras estirpes sem cair na caretice de ser um estrangeiro no ninho. E essa miscelânea de ritmos é tão benéfica e agradável que faz do cantor um ser iluminado, respeitado e, acima de tudo, humano. Distinguir o que é samba de pagode é uma tarefa árdua, complicada e sagaz, mas pode-se apontar nos dedos quantos se diferenciam do ritmo pagodeiro que conquistou metade da população na década de 1990. Dudu Nobre já teve seu posto de sambista nato, tendo Zeca Pagodinho como seu padrinho musical e dele pode-se tirar proveito de sambas honestos, caprichados e sem malícias. Pois o samba é justamente isso: samba! Um estilo que consegue unir forças para sobreviver, capaz até de deixar o mais católico dos sertanejos embasbacados.
Cantando sucessos de Agepê, Bezerra da Silva e de outros bambas, incluindo ai seu magnífico pai, Diogo segue seu destino, traçando cada linha de chegada como se fosse um futebolista que está driblando a bola, um maratonista que está a frente da linha de chegada e um cadenciador nato por natureza, prestes a carimbar seus ouvidos com músicas agradabilíssimas e harmoniosas. Diogo não cansa, têm carisma e presença de palco, sua simpatia é visível e a sensação que ele nos passa é a de um homem que está feliz e realizado. E isso é importante para um musico.


Diogo Nogueira é o que há de melhor na música popular brasileira e não tem como ter distinção entre samba e pagode. Com discos realmente sensacionais, o cantor é a prova de que sucesso ministrado com cautela pode seguir sempre de mãos dadas. Diogo embala, emociona, cativa e seduz e ainda por cima é tímido. São agravantes que poderiam passar despercebido, talvez nem se lembrar de sua paternidade, mas que com sua energia positiva isso passa em branco. Diogo Nogueira fala pouco do pai, mas quando fala, é de uma emoção cognitiva tremenda e fabulosa. A saudade é enorme e a ausência o incomoda. Mas são situações que não frustram Diogo em momento algum.
Sambista de mão cheia, Diogo tem gingado e consegue deixar rastros por onde passa. Cativa pessoas. Canta bem e tem presença de campo. Samba e pagode se entrelaçam. Cantou com os mais diversos medalhões da música popular brasileira, de Chico Buarque a Ivan Lins, passando por Mariene de Castro e Maria Rita. O rapaz tem graça. E recomendo todos os seus discos, seus shows, sua historia, seu passado e seu futuro. Diogo Nogueira nada mais é do que cultura. E esperemos que o espelho que ele viu refletir em si, nunca se quebre.

Marcelo Teixeira.

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