Saiu o tão aguardado disco de inéditas de Chico Buarque, que estava de jejum há cinco anos, depois de ter lançado Carioca em 2006. Chico volta à mídia e aos palcos como ele mesmo: o velho e bom Chico. Depois de esperarmos tanto, Chico nos apresenta um disco mediano, mas não ruim, mas é um disco que merecia um tratamento melhor e mais audacioso. Mesmo assim, Chico Buarque está como ele mesmo quer, absorto de suas ideias e seus mantras e trazendo canções que mais parecem plágios de outras canções do passado e que força um pouco nas gírias atuais talvez para agradar. O fato é que Chico esteve entusiasmado com cantores como Crioulo e Seu Jorge e está usando o vocabulário destes para promover seu mais recente trabalho.
O novo disco de Chico Buarque, lançado em 2011 |
Chico (2011, Biscoito Fino, 35,00) é um retrato fiel às outras obras do cantor carioca. Mas suas letras não são inovadoras, não trazem proveito de uma grande obra e os fãs poderão cobrar isso futuramente, tendo em vista que este disco não figurará entre os melhores de sua carreira. Chico exagera em palavras chulas, que não condizem com o intelectual que ele é e expressa em algumas canções com as palavras mané e termos ditos periféricos como na boa. Esse não é o linguajar do cantor, como se nota em discos anteriores e escutar Chico falando gírias ou expressões assim é tenebroso. Mas vale lembrar que no CD Carioca, ele citou um palavrão logo na primeira faixa.
As mulheres que Chico sempre homenageia estão aqui representadas por Teodora, Ariela ou Anabela, na faixa Rubato. Mas o que mais impressiona neste novo disco é que Chico parece que não teve criatividade ao inventar novas melodias ou testar novos sons. Isso fica evidente em canções como Sem Você 2, que mais parece uma continuação da música Você, Você do CD As Cidades (1998). Barafunda se parece demais com Pivete, que foi lançada no disco Chico Buarque (1978), aonde um certo pivete vende chicletes no sinal, rouba e ainda assiste ao futebol. Em Barafunda, os nomes femininos estão de volta e a cadência nos remete ao futebol, característica de Chico. As duas canções se entrelaçam e parece que Chico só a continuou. O resultado é bom, mas não satisfatório.
Sinhá é uma parceria de Chico com o monstro sagrado João Bosco, mas João praticamente só assovia e toca seu violão e só ao final da música é que coloca voz, como num sussurro melancólico para finalizar a canção. Um grande desperdício vindo de Chico para com João, que já dividiram uma faixa no disco Chico Buarque (1984), na música Mano a Mano. Nina é uma canção sentimental, triste e a flor da pele, uma canção bonita, romântica e bela. Sou Eu, uma parceria com Ivan Lins e com participação de Wilson das Neves, é uma bela pedida, mas se parece um tanto com Deixa a Menina (com o mesmo Wilson das Neves), lançado no disco Chico Buarque Ao Vivo em Paris (1990). Uma melodia rica, dançante e vibrante, que já foi gravada por Diogo Nogueira.
Chico com sua nova namorada, a cantora Thaís Gulín |
Tipo um Baião mostra um certo Chico tentando entrar na era moderna e lançando tendências de vocabulários chulos. É nesta canção que algumas gírias se tornam notórias e a música se parece e muito com Fantasia, do disco Vida (1980), um dos melhores discos de sua carreira. Essa Pequena mostra a relação de uma garota com um velho, talvez a relação dele mesmo com a novata Thaís Gulín, sua nova namorada. A música que conta com a participação de Thaís Gulín é Se eu Soubesse, uma das melhores faixas do disco. Chico, como sempre se viu em sua carreira, gosta de dividir faixas musicais com as mulheres, tendo em vista que a mais contundente divisão vocal com ele foi na música Pedaço de Mim, com Zizi Possi, sendo considerada uma música marcante, pesada, difícil e cortante. Neste disco, Thaís reina absoluta e entra definitivamente para a seara das cantoras que poderá a vir a ser uma estrela, por sua técnica vocal e seu dom para o canto. Chico já dividiu faixas com a irmã Miúcha, com a sobrinha Bebel, com a ex esposa Marieta Severo, com Elba Ramalho, com a irmã Cristina Buarque, Mônica Salmaso, Bia Nunes e Branca Lima. Definitivamente, ele não vive sem elas, as mulheres.
Mas o novo disco de Chico não é o melhor de sua brilhante carreira e não acrescenta muita coisa em matéria de musicalidade. A capa mostra um Chico sorridente, mostrando nitidamente que a velhice lhe bateu a porta e que as rugas e linhas de expressão estão ali, no seu devido lugar. Queríamos mais de Chico: um disco sensacional, um disco merecedor de destaque, um disco aplaudido, um disco que não fosse parecido com obras antigas. Um disco que ficasse com a cara dele: intelectual e moderno ao mesmo tempo.
Uma pena esperarmos tanto e não ser assim. Mesmo assim, Chico, em algumas faixas, se supera. E esperaremos mais cinco anos para que venha uma obra-prima como Meus Caros Amigos (1976), Paratodos (1993), As Cidades (1998) ou Carioca (2006).
*******Sete Estrelas
Marcelo Teixeira.
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