A confusão gerada entre a cantora Rita Lee e os policiais em um show no Nordeste este final de semana rendeu muitos holofotes, muita conversa e muita briga para ambos os lados. Após anunciar que aquele seria o último show de sua carreira, a cantora tentou interceder o trabalho da polícia, que estava transitando entre os presentes no evento. Rita parou o show e num misto de revolta e ironia, perguntou o que os policiais estavam procurando por ali. Com o show parado, a cantora, detentora de inúmeros sucessos antológicos e clássicos da MPB e do rock nacional, perguntou se os policiais estavam procurando “baseado” e “alegria”. O público presente vaiou a atitude da polícia e vibrou com a postura ofensiva da roqueira, que logo em seguida voltou ao show normal. Ao final, Rita foi levada diretamente para a delegacia, prestou depoimento, mas será processada pela corporação por desacato.
Rita Lee insultou os policiais, chamando-os cachorros e cavalos, quando as autoridades estavam revistando os espectadores do concerto, organizado pelo governo local. A cantora afirmou ter visto membros de seu fã clube, que viajam com ela pelo Brasil, sendo agredidos pelos policiais. Ao avistar policiais na plateia, declarou que não os queria em sua apresentação. “Vocês são legais, vão lá fumar um baseadinho.”
Rita Lee sempre foi a favor da legalização da maconha e ela mesma já provara diversas drogas, como já disse em várias entrevistas. E a mesma Rita Lee que é detentora de inúmeros sucessos antológicos, é também a rainha dos escândalos. Claro que para sua derradeira dos palcos e holofotes, ela teria que dar um showzinho extra para entrar definitivamente para o mundo das artistas encrenqueiras e que, devido a idade já avançada, poder ter o direito de dizer o que quer e na hora que quer.
Quem não se lembra do momento em que ela, juntamente com o vovô do rock, Lulu Santos, usaram de sarcasmo para criar o tal bairrismo entre São Paulo e Rio de Janeiro? Rita Lee também participou do disco de apenas duas faixas do cantor Chico Cesar, defendendo os animais que participam de rodeios cantando uma música que ofendia os nordestinos, os que não suportam a música brega e, acima de tudo, o sertanejo. Em seguida, Rita Lee lançou o disco Amor e Sexo e na faixa As Mina de Sampa, mais uma polêmica ao afirmar que a praia de paulista era o Parque do Ibirapuera.
Neste caso não poderia ser diferente. Rita causou mais uma polêmica mundo afora e desta vez com toda a razão. É intolerável a presença de policiais militares em rondas e vigílias em pleno evento musical, tirando a alegria das pessoas ali presentes e tirando, acima de tudo, o poder de ir e vir dessas mesmas pessoas. Já critiquei muito a presença da polícia militar em jornais e revistas e até mesmo em meu romance Entre Parvos e Alarves e Outros Getúlios e para dizer a verdade, o que a cantora Rita Lee fez não foi apenas servir de exemplo à sociedade como cidadã que paga seus impostos e que quer fazer com as pessoas se sintam bem ouvindo suas canções. Rita fez, acima de tudo, uma prestação de serviço, deixando claro que quem frequenta shows fuma baseado, bebe cerveja e outras porcarias mais.
Por que esses mesmos policiais não frequentam estádios de futebol? Não entram em favelas perigosas? A mesma polícia que entra nos shows sem a permissão daquelas pessoas, é a mesma polícia que matou o dentista negro Flavio Santana, que tirou a vida de inocentes e que não deixa o lazer de ninguém em paz. A mesma polícia que ali estava atrapalhando a festa e descontração das pessoas é a mesma polícia que finge que vê o ladrão e prende o trabalhador. É a mesma polícia que vai até o baile funk e deixa o traficante subir e descer na hora que quer.
Não tiraremos o prestígio das palavras de Rita Lee. Não ficaremos de luto por suas belas frases. Rita acertou ao direcionar sua metralhadora ambulante diretamente na cabeça daqueles homens fardados e em seguida vomitar suas músicas com alto teor de rock in roll nas veias. A sensação de prazer em ouvir aquelas frases proferidas por uma senhora foi única e plausível de merecimentos.
Parabéns, Rita.
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