Elis ontem, com menos de 30 anos |
Elis era uma constante. Vivia intensamente um amor e ao mesmo tempo o queria longe. Cantou o amor e as próprias dores. Era geniosa. Era piscinana e irritada. Gostava da solidão e gostava dos amigos por perto. Ria alto quando podia e ria da desgraça das pessoas quando queria. Odiava Maria Bethânia. Adorava Milton Nascimento, adorava tanto que o convidou a ser padrinho de Maria Rita. No início odiava Chico Buarque por sua timidez, mas depois passou a respeitá-lo. Odiava bossa nova. E odiava guitarras elétricas. Elis foi uma guerreira da voz, dos pensamentos, das frases cortantes e pulsantes em veias calmas e serenas. Elis foi uma mulher forte, determinada, sensível, frágil, amiga, mulher, esposa, mãe, cantora, atriz, diretora de seu próprio espetáculo. Revelou ao mundo cantores e compositores da melhor extirpe e deixou um legado jamais substituído na música popular brasileira. É lembrada como referência musical de nove entre dez cantoras atuais. E suas regravações são únicas, plausíveis de sentimentos, acalantadas pelo brilhantismo de sua competência e pelo teor magistral e potente de seu caráter. Elis foi gente. Elis viveu intensamente o amanhã pensando no presente. Elis foi de palavras. Elis foi de entusiasmos. Elis foi perigosamente uma cantora.
Elis hoje, com 64 anos. |
Vivenciou momentos únicos. Riu, talvez, do espetáculo Quem Tem Medo de Elis Regina?, uma provocação de seu ex-marido Ronaldo Bôscoli, cujo teve a presença marcante de uma cantora novata, mas muito competente e que hoje está praticamente esquecida, chamada Claudia. Chorou quando nasceu seus filhos, João Marcelo, Pedro Mariano e Maria Rita. Chorou quando cantou Atrás da Porta e fez o Brasil se debulhar em lágrimas quando essa mesma interpretação calou os que a odiavam. Elis viveu em busca da perfeição musical. E ela talvez não soubesse que era tida como a maior estrela entre as estrelas. Elis puramente viveu.
Muitas cantoras tentaram o lugar de Elis Regina, mas todas vãs. Muitas cantoras da época se perderam após mais de vinte anos de morte da maior estrela da MPB. E nunca haverá uma cantora que ocupará a vaga deixada por Elis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário