domingo, 7 de fevereiro de 2016

O samba não pertence à Zélia Duncan





O samba não é da Zélia
Não era de hoje que Zélia Duncan queria fazer um disco apenas de samba e isso ela já deixara gravado em várias entrevistas e até fazendo incursões de sambinhas e sambões em seus discos anteriores. No excelente disco Eu Me Transformo em Outras (2005), a cantora desenvolveu uma técnica impressionante na arte de se reinventar, cantando em estilo ao vivo e mostrando-se como uma vertente expoente de nossa música. Mas são raras as interpretações de Zélia que realmente ficam boas. Cantando samba não chega a empolgar como quando nos empolga com músicas mais românticas ou que nos revelam sua identidade camuflada em letras originais e emotivas. Zélia cantou samba em quase todas as suas obras, não inteiramente, mas em partes e esse feito foi comemorado bravamente como sendo uma cantora de MPB. Isso também aconteceu com Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005), na faixa Quisera Eu, um samba mais puxado para a marchinha de carnaval composta em parceria com Lulu Santos. Esse disco foi uma concepção de harmonias sintéticas entre a música popular brasileira e a plataforma roqueira de Zélia, que vinha de experiências em que mesclava esses ritmos sempre com sofisticação. Mas determinar um disco inteiramente ao samba, a um estilo musical que lhe foge dos padrões, não é uma tarefa fácil e muito menos para qualquer cantor. Zélia errou ao se dedicar de corpo e alma ao samba, assim como errou ao selecionar músicas de compositores carimbados como forma de enriquecimento musical. Explico: Zélia Duncan não consegue segurar um disco inteiro ao samba porque sua voz cansa, entoja um sentimento que não soa verdadeiro e não faz parte de sua identidade. Quando digo que a voz de Zélia cansa, não digo no sentido figurado, pois Zélia é uma das melhores cantoras da atualidade, mas cantar um ritmo que lhe exige competência vocal acima dos limites, é para poucos. Mas Antes do Mundo Acabar (2015 / Biscoito Fino / 28,99) tem uma capa perfeita, assim como as muitas das capas de disco de seus trabalhos anteriores. Tentar perpetuar ou adentrar em um universo desconhecido pode ser fatal para muitas pessoas e no caso de Zélia Duncan não fora diferente: ao invés dela dominar o samba, foi o samba quem negou a sua permanência dentro dele.


 


Antes do Mundo Acabar (2015) / Zélia Duncan
Nota 8
Marcelo Teixeira

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