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Malditos Populares: grata surpresa na MPB |
Nos dias de hoje, em que a música pede
socorro e licença ao mesmo tempo, fazer com que uma boa canção adentre em nosso
ambiente é algo arriscado, difícil e muito comprometedor. Precisamos ter, acima
de tudo, paciência e competência para podermos ouvir com tímpanos abertos sobre
o novo, aquilo que realmente nos arremata, nos catalisa, nos envolve e nos
sabatina. É preciso termos fôlego para podermos dizer que o que ouvimos é de
qualidade, musicalmente brasileiro, puramente ético, excelentemente sambístico
e harmonicamente belo. Para tanto e com tantos dissabores musicais sendo
lançados a cada minuto Brasil afora, é preciso termos cautela para podermos
dizer o que é bom do que é plausível, do que é descartável, do que é sonoro e
do que é possível um reconhecimento cabível de nossa atenção. Dito tudo isso,
me surge de repente uma banda relativamente nova no mercado nacional brasileiro
que, a primeira audição, me encantou, me sabatinou, me deixou de queixo caído
por ter todos os ingredientes na qual me envolve: música milimetricamente
saudável, sambas de altíssima qualidade, letras competentes, empirismo musical,
estilo, categoria, sensibilidade e voz. Em um Brasil em que as mulheres
ganharam mais espaço na música brasileira, sempre busquei uma voz masculina que
pudesse ressoar pelos cantos do país como uma voz potente, saliente e temporal.
Cesar Capretti, o cantor e compositor da banda Malditos
Populares, consegue esse feito em um disco que beira a loucura entre
a elegância e a sordidez de um belo álbum. Com letras envolventes, sambas bem
compostos, marchinhas de carnaval com direito à recordação de um passado não
muito distante, a banda Malditos Populares consegue ser uma das melhores
surpresas na música popular atual. Aos Amigos
(2016) não é um disco qualquer: é um disco bem mais que popular, é um
soco no estômago da sociedade puritana, um tiro de misericórdia na cultura
brasileira, um esfolo na cara de quem precisa conhecer seu próprio estilo. Não
existe aqui uma melhor canção, pois todas são excelentes, casando-se uma com a
outra, sendo uma mistura calórica de abastada musicalidade. Sendo um disco
independente, a banda Malditos Populares conta um time da pesada: Cesar é o
compositor e vocal, Marcello Lervolino também é o compositor e toca violão de 6
e 7 cordas. Os músicos de apoio são formados pelos competentes Fabinho Reis
(bateria), Wellington Diniz (percussão) e Ale Sanfona (sanfona, piano e
contra-baixo e também produtor e diretor
musical do álbum). E tem as meninas fazendo backings em algumas faixas: Amanda
Pandolfelli, Juliana Taino e Mrina Jurado. Com críticas ácidas em praticamente
todas as suas letras, a banda extrai um lado político com senso comum pouco
incomum, politizando sua marca registrada e se tornando um dos melhores
produtos do mercado. Impossível não fazermos uma comparação entre a voz potente
de Cesar Capretti com a atual situação musical: nos faltava um cantor à altura
de seu talento para nos orgulharmos de sermos brasileiros. Aos
Amigos não é um disco qualquer que precisa ser apenas ouvido uma única
vez: é um disco que já nasceu pronto, nasceu para ser referência nacional,
nasceu para ser exemplo que de ainda podemos nos surpreender com a qualidade
musical escondida entre nós. Grata surpresa que surgiu na maior metrópole do
Brasil, Malditos Populares é uma
banda brasileira que canta samba, MPB e músicas altamente ricas, necessárias
para a nossa cultura oriunda e para aqueles que respiram a verdadeira alma
lírica musical. Precisamos ouvir a voz de Cesar Capretti para termos certeza
de que a nossa cultura não morreu, a nossa música está a salva de dragões
malditos e de que nossa certeza popular está aqui, diante nossos ouvidos!
Aos Amigos (2016) / Malditos Populares
Nota 10
Marcelo Teixeira
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