segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Melhor Álbum de Marisa Monte


Dos medalhões da MPB no quesito discos, ainda cismo em dizer que Marisa Monte têm apenas dois excelentes álbuns, sendo o Barulhinho Bom (1996), que veio logo depois do clássico Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão, lançado em 1994. Tido como um dos melhores e o mais bem acabado, este disco marca algumas mudanças da Marisa, tais como a primeira produção dela própria, na verdade uma coprodução com Arto Lindsay (que já produzira o anterior, Mais), além de reafirmar seu trabalho autoral e ao mesmo tempo ampliar o universo de seus colaboradores. Nos bons tempos do mercado musical físico (o virtual continua a toda!), o disco vendeu mais de um milhão de cópias.

O disco inicia com Maria de verdade (Carlinhos Brown, parceiro cada vez mais presente na sua vida e obra), sutil, com voz e violão a princípio, depois permitindo a entrada da banda inteira, tornando a música até dançante, com um baixo de dar gosto. Belo início. Na estrada (MM/Brown/Nando Reis, este também participando mais intensamente), mais uma quase acústica e cheia de vozes extras da própria cantora. Ao meu redor (Nando Reis) traz como diferencial um trompete sinuoso e a mesma atitude acústica. Saltitante.

 Segue o seco (Brown) deu origem a um vídeo lindíssimo, sem esquecer que é uma bela e forte canção, que logo se tornou um clássico. Berimbaus e vozes de Brown ao fundo, antecipando o que seriam os Tribalistas. Uma música de Lou Reed, Pale blue eyes, traz um aceno à cena americana. Boa e surpreendente escolha. Em seguida, a belíssima versão de Dança da solidão (Paulinho da Viola), com o auxílio luxuoso de Gilberto Gil no violão e vocais de apoio, sensacional, um dos pontos altos do disco!

O melhor álbum de Marisa Monte
De mais ninguém dialoga com o grupo Época de Ouro, do choro clássico carioca, mesmo a música sendo de Arnaldo Antunes e Marisa. Quase anacrônica, mas cabe no projeto abrangente do disco. Alta noite já havia sido gravada pelo autor, Arnaldo Antunes, mas aqui ganha uma versão linda, acredito que com o violonista Romero Lubambo. Belíssimas cordas ao fundo. O céu (Marisa Monte/Nando Reis) é mais alegre e quase balançada, você fica querendo dançar, seu corpo começa a querer sacudir, bem legal. É uma dessas músicas que ficam na lembrança e a gente se pega cantarolando a todo minuto. Sacada genial. Bem leve (MM e Arnaldo Antunes) é fiel ao seu nome, meio valsa, violãozinho discretíssimo e um pandeiro dando o ritmo. Enquanto que Balança pema (Jorge Ben) traz o balanço de volta, com violão, guitarra com wah-wah e bateria, com várias vozes da Marisa. Enquanto isso (MM/ Nando Reis) traz mais vozes e uma narrativa bem legal (incluindo trechos em inglês by Laurie Anderson), além de belos violões.

Pra terminar com extrema classe, Marisa traz as pastoras da Velha Guarda da Portela pra fazer uns vocais lindos nessa canção que poderia ser um samba-enredo, se o carnaval de desfile suportasse sutilezas e cadenciamentos mais lentos. Esta melodia foi um balão de ensaio do disco no qual a Marisa produziria esta mesma Velha Guarda, Tudo azul.

O Brasil não é só verde, anil e amarelo. O Brasil também é cor-de-rosa e carvão. Dos versos dessa música, Seu Zé, Marisa extraiu o título do disco e a partir dai passou a adotar títulos longos para todos os seus próximos trabalhos. Muito mais do que qualquer conotação política, esse título traz em si uma consideração estética, exemplificada através de suas 13 canções. Nomes consagrados participaram, como Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Nando Reis, Paulinho da Viola, Naná Vasconcelos e Laurie Anderson. Na minha opinião, até hoje, esse é o melhor CD que Marisa Monte já gravou.



Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão / Marisa Monte

Nota 10

Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: