Titãs hoje: sem criatividade |
Desde
o início deste ano, como comemoração, os Titãs tocam na íntegra o emblemático
disco Cabeça Dinossauro em alguns shows especiais. De 1986 até hoje
muita coisa mudou. No mundo e na história deles. Se quase trinta anos depois
você ainda não se deu conta, entenda porque este álbum é tão cultuado, foi tão
revolucionário e é um dos mais importantes da extensa discografia da banda. Os
Titãs já eram consagrados por hits como Sonífera
ilha e eram assíduos nos programas das tarde de sábado na TV, entre eles, o
Chacrinha. Era, ainda mais naquela época, a banda ideal para agradar a todos os
públicos: da família que se reunia na sala para ver televisão, aos new waves
que frequentavam as casas noturnas e agitavam a pista com New Order, Depeche Mode e Kraftwerck. Ou
ainda aos punkers que frequentavam os inferninhos, contavam na capital paulista
com apoio de bandas locais e espaço escasso para tocar. Essa era uma aventura
porque além da falta de estrutura, a banda
enfrentava com o público brigas de gangues e todo tipo de curtição para
uma geração que começava, politicamente, a colher os frutos das Diretas Já e
sentia um pouco da liberdade que antecedeu marcos históricos como as eleições
para presidente, Sarney no poder e a constituição de 88.
A falta de dinheiro, de
perspectiva, a violência, cenário político incerto, toda essa mistura de
assuntos eram traduzidos em música, em contestação, em revolta, em verborragia.
Gravado no estúdio Nas Nuvens (RJ) entre março e abril e lançado em junho de
86, Cabeça
Dinossauro é o terceiro álbum de estúdio dos Titãs. Esse disco rendeu
algumas estreias para a banda: o início da parceria com o produtor Liminha e o
primeiro disco de ouro da carreira conquistado no mesmo ano do lançamento. A
formação era ainda a clássica composta por
Arnaldo Antunes (vocal), Branco Mello (vocal), Charles Gavin (bateria e
percussão), Marcelo Fromer (guitarra), Nando Reis (baixo e voz), Paulo Miklos
(voz, baixo, guitarra), Sérgio Britto (teclados e voz) e Tony Bellotto
(guitarra).
Cabeça Dinossauro: um clássico |
Em 1985, Tony Bellotto e
Arnaldo foram presos por porte de heroína. Juntando o fato com toda a
indignação jovem e típica do período, apesar de ter sonoridades diversas,
faixas políticas e pops, Cabeça é considerado o disco com
mais influência do punk na discografia dos Titãs, no sentido da revolta, da
sujeira, das letras curtas e diretas – fato que passou a ser característico das
músicas deles a partir de então. Enquanto se revezavam nos vocais, como de
costume, principal compositor na época, Arnaldo assina sete das treze faixas em
co-autoria com os outros integrantes.
Os Titãs hoje não vendem
mais discos como antigamente. Seus melhores integrantes, os cantores e
compositores Nando Reis e Arnaldo Antunes, ao saírem da banda para seguirem
carreiras solos, deixaram os outros com uma psique intelectual menos agressiva,
menos ácida e mais imbecil. Os Titãs mudaram, o Brasil mudou, alguns fãs
permaneceram, outros desistiram da ideia de seguirem a banda, muitos novatos
por música preferem suas músicas mais antigas. Hoje em dia o grupo não agrada
mais e um virou apresentador de TV, outro virou ator, outro descobridor de
raridades. Cada um seguindo a sua vida. Mas a bem da verdade, os Titãs só estão
relançando o clássico Cabeça Dinossauro por duas
fatalidades: 1) são 26 anos de diferença entre aquele Brasil e este de hoje, o
que separa 1986 de 2012, incluindo a música de ontem com a de hoje e 2) os
Titãs não sobrevivem mais com discos de inéditas.
Cabeça
Dinossauro – Titãs
Nota
7
Marcelo
Teixeira
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