sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Pérolas aos Poucos, de José Miguel Wisnik: obra-prima!




Obra-prima de um grande gênio da música
Pérolas aos Poucos rouba a gente pelo feixe de Hiss: aquele delicado sistema elétrico do coração que nosso corpo utiliza de tomada, entre outras coisas, para nos plugar às coisas bonitas da vida. A conexão aqui é pelo coração e não pelo cérebro. É amor e não razão. Pérolas aos Poucos entra pela tua esquina, em frases cristalinas – efeito circular que te envolve na roda. São enlaces sonoros, a voz, o piano, as rimas, as não rimas, a dor, o tempo e a cura. E tudo termina numa concha de cor escura, onde o sol se despede. Tudo é macio, suave, música que pede calma, que te toma pela mão. A cadência das frases, as palavras faladas, as vírgulas, o canto é alegre, de alma viva. Se a gente pudesse ver o som, Pérolas aos poucos teria os olhos brilhantes e curiosos.

É também um CD em que cabe o mundo – que se estica entre o campo e a cidade. Há a magia da escuridão em Anoitecer, a hora de se ver com a verdade, que parece estar lá fora, mas não, ela está lá dentro, dentro da gente. Dessa hora tenho medo. Adoro a canção Tempo sem Tempo. Gosto porque celebra o encontro. O verdadeiro – com todos os ingredientes. Comemora o desejo, o pedido e o risco. O risco das feridas e das despedidas.

Sem Receita – Música de amor temperável e comestível, como mesmo deve ser o melhor amor. E a lembrança é aquela hora em que a gente lambe os lábios com saudades de tudo o que rolou. Porque amor não tem receita, é inédito a cada vez!

Pérolas aos poucos é todo gracioso. Com uma malandragem aqui e outra ali, o disco é cheio de pequenos prazeres escondidos no tom da voz de Zé Miguel, nas parcerias, nas percussões e nas palmas. Presente é aquela que só é realmente sentida depois que teus pés entram no compasso e levam teu corpo inteiro ao movimento. Gozo sem fundo. Está canção já fora gravada por Zélia Duncan, enquanto a faixa título foi cantada magistralmente por Ná Ozzetti.

Pérolas aos poucos é a certeza de que no amor não há nem nunca haverá culpado. Sem palavras.



Pérolas aos Poucos / José Miguel Wisnik

Nota 10

Marcelo Teixeira

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