Micróbio Vivo se mostra chato às vezes |
Adriana
Calcanhotto lançou Micróbio Vivo Multishow (Minha Música / Sony Music / 24,99)
como uma referência ao seu bem sucedido disco de samba (o primeiro) lançado no
ano passado, pegando a todos de surpresa, até mesmo porque ninguém esperava um
lançamento da cantora para aquele momento e, o que era o mais impressionante,
um disco totalmente voltado para o samba. Mas há algumas diferenças notáveis
entre O Micróbio do Samba (2011) para este novo lançamento. Adriana
Calcanhotto tentou ousar, tentou disfarçar, tentou cantar, mas o resultado não
foi um dos melhores. Diferentemente do que aconteceu com Público, lançado no
século passado, aonde teve a audácia de regravar um grande sucesso, Devolva-me, do ocorrido, e aonde este
disco teve praticamente todos os seus grandes sucessos gravados no formato ao
vivo numa forma divertida, distinguida e sobre o aspecto de novo, aqui em Micróbio,
temos uma Adriana pautada no nervosismo e na sensação de que ela está
envelhecendo. Em seu novo trabalho, a cantora gaúcha de 46 anos, se propôs a
explorar em sua forma mais bruta o mais
celebrado dos ritmos brasileiros, o samba.
A voz de Adriana em algumas
canções soa enfraquecida, quase uma voz tremula, esganiçada e isso fica muito
evidente logo no primeiro passo, a abertura com Eu Vivo a Sorrir, uma canção difícil de cantar e cansativa conforme
os minutos passam, mas engraçada ao mesmo tempo. A voz de Adriana tentar a todo
custo ficar firme, mas o nervosismo a deixa abatida e sua voz quase não aparece
e percebemos sua respiração ofegante e puxada. O que não acontece com a faixa
seguinte, Aquele Plano Para Me Esquecer,
aonde vemos uma Adriana um pouco restabelecida do nervosismo e tenta, aos
poucos, se mostrar uma cantora de presença. Seguindo com Dos Prazeres, Das Canções, uma divertida e apaixonante música de
seu fiel companheiro Péricles Cavalcanti, Adriana se mostra mais autoritária e
dona de seu palco, de sua voz e de seu carisma diante do público que a assiste
ao vivo. É a partir desta música que ela canta melhor.
Pro caso de você virar a esquina
E adentrar a livraria
Pro caso de o acaso estar num bom dia
Pro caso de o destino me haver reservado a
alegria
E o meu fado estar fadado a ser a sua sina
Eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
Trecho
de Eu vivo a sorrir, de Adriana
Não tem muito que falar
deste disco. Adriana acerta o tom nas canções, tem um samba cadenciado, combina
harmonia com técnica vocal e sensibiliza em algumas faixas por onde os poros
possam dilatar, nos fazendo crer que ela acertou ao fazer um disco ao vivo. Se
não fossem pelas canções que não estão no disco original, caso de Argumento, de Paulinho da Viola e Maldito Rádio (que não está ao vivo e
sim gravado em estúdio) e a própria canção de Péricles, o disco iria cair na
mesmice logo, logo. Mesmo assim, o disco não tem grandes novidades. A não ser
pelas batidas, tendo em vista que a reclamação de alguns fãs foram resolutos na
preparação do disco ao vivo. A reclamação maior foi que o disco original tinha
as mesmas batidas cadenciadas de samba da primeira à última faixa e aqui temos
quase a mesma coisa, mas em algumas faixas o rap, o instrumental, as batidas de
caixas e até a parte eletrônica se fazem presentes.
Quando Adriana canta Argumento, ela praticamente imita
Paulinho da Viola. Não que a música não tenha ficado legal com ela, mas o fato
é que a canção ficou a cara do criador e parece que Adriana reduz o som da
própria voz para cantar igual ao dono. Maldito
Rádio é uma justa homenagem à Ângela Maria e é boa, nos faz sentir falta de
uma peça que foi muito utilizada anos atrás e que hoje virou artigo de
esquecidos ou apreciadores do passado.
Nas fotos exibidas nos
encartes, temos uma Adriana masculinizada, que é o motim dessa nova temporada,
mas deixando claro também sua preferencia sexual: vestida de preto, cabelos
repartidos ao meio, rosto corado e sério, sisuda e chapéu bicolor, sem falar nos
pares de sapatos que me soam masculino. Mas Adriana é muito mais do que uma vestimenta
masculina: ela canta e encanta quem a assiste.
O fato geral do disco é que
Adriana Calcanhotto errou ao lançar um disco ao vivo e seguir praticamente a
mesma linha do disco original. O bom é que ela pôde brincar com a própria voz,
elevando o tom em algumas passagens ou simplesmente dando pausas propositais
como forma de enaltecer a canção. As faixas ficaram longas demais e em algumas
músicas é inevitável ouvi-las até o fim.
Micróbio Vivo / Adriana
Calcanhotto
Nota 7
Marcelo Teixeira
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