quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Rita Lee que a Ná Ozzetti recriou com perfeição


Ótimas releituras de Rita por Ná
Adesarqueou a Rita! Geralmente, as músicas compostas por Rita Lee ficam mais legais quando cantadas por outros cantores e isso não acontece somente com ela: com o Jorge Vercilo, com o Cazuza e com a Ana Carolina isso acontece com tamanha frequência, que fica impossível ouvir a canção original na voz de quem a criou.  A cantora Ná Ozzetti realçou o som da Rita com cores díspares, mais leves, com as cores de sua tradição vinda do extinto grupo Rumo e também de sua formação lírica. Demorei pra me convencer que o LOVELEERITA era legal, que podia sim, transformar o rock da Rita Lee em outra coisa e no fim, sair algo bonito. E também acho que toda tentativa de interpretação tem muito de coragem, ousadia e amor. E que deve ser massa cantar Rita Lee. Irresistível. Enfim, uma super homenagem com um repertório escolhido a dedo, com muito carinho, muita determinação e que ficou um disco gostoso, caprichado e precioso.

Atlântida (Saúde 1981) fica onde? Não sei se ela desapareceu do mapa ou sumiu mesmo foi do meu imaginário. E como a música diz Que o mundo é dos que sonham/ Que toda lenda é pura verdade. Ná Ozzetti canta bonito, lento, cada palavra fica nova com sua voz. O violão dá um som de roda, circular, que embala o ouvinte. O CD abre sonhando. Com a boca no mundo (Entradas e Bandeiras 1976) tem um suingue gostoso e logo já vai dando aquela vontade de dançar. E aos poucos vou sendo levada por esse novo tom que Ná Ozzetti imprime às canções. Essa música é a cara da Rita Lee! Ela ainda meio menina, encontrando seu passo entre seu corpo, sua voz e sua vontade de botar a boca no trombone. Com a boca no mundo é uma verdadeira descoberta. É interessante como a Rita Lee (sozinha ou com outros compositores que não o Roberto de Carvalho - pelo menos no LOVELEERITA) compunha músicas completamente viajantes, grandes. Aqui eu falo de amplitude mesmo. Ela viaja em milhares de temas, descobre cavernas, anda por outras estradas. Com o Roberto, as composições já são mais sexuais, apaixonadas, muitas quase corporais. Que também é o máximo.

Mania de você (Rita Lee 1979) na versão da Ná chega mais rápida, dançante. Acho que mais pop mesmo, menos carregada de estória. Mania de você foi composta pelo casal quando ainda estavam na cama. Na delícia da hora. Foi interessante essa mudança de estilo, já que com a Ná a estória é outra. No lugar da cama, entram os mil sopros que são de matar.

Bem, Mutante (Saúde 1981): a Ná simplesmente arrebenta na canção e dispensa comentários. Ela chega de mansinho, entrando e tomando conta de mim sem pedir licença. E eu deixo. Mutante é linda sempre e ainda mais nessa versão, que de quebra tem um trombone. É um escândalo simplesmente. É delicada, é exagerada, é a combinação perfeita das palavras. Tudo isso junto explode nessa música de amor temperada de todos os cheiros: dor, ressentimento, paixão, tesão e abandono.

 Fruto Proibido (Rita Lee & Tutti Frutti 1975): malandrada! Essa versão está cheia de percussão e guitarra. Ótima! A canção é aquela vontade de desanuviar, de trocar de fantasia e sair vivendo. Em Luz Del Fuego, que também está no disco Fruto Proibido, Ná Ozzetti não aguenta e se transforma em uma roqueira total!  Hoje eu represento o segredo/ Enrolado no papel. É incrível como Luz Del Fuego mexeu com o imaginário feminino. Muita cantora já cantou essa música e sempre muito bem. É que Luz Del Fuego não tinha medo. O título Raio X (Bombom 1983) é perfeito para a velocidade da música. O som se arrasta e se espalha por cada vão e aí a gente se dá conta de Quem nunca teve um sonho/ Quem é que não é sozinho. Essa música me faz pensar nessas cidades grandes, onde a janela da sala dá vista para enormes viadutos de concreto. O que a modernidade pode trazer de mais solitário.

A modinha mais poética que eu já vi é essa Modinha (Babilônia 1978) aqui. Linda. Todo remédio que me cura tem uma contraindicação. Perfeito. Ná Ozzetti se descabela em Mãe Natureza (Atrás do Porto tem uma Cidade 1974). Não segura a onda dessa música e pira. Pira ela, pira a guitarra. E bem que fazem! Mãe Natureza na minha opinião é a nossa erva de cada dia, aquela que embaça a mente na pitada certa e a gente já não sabe se estamos pirando ou as coisas é que estão melhorando!

Lembro-me da primeira vez que ouvi Doce Vampiro (Rita Lee 1979). Eu ainda era menino e tinha uma amiga mais velha que respirava Rita Lee. Um dia ela me chamou pra me mostrar essa música, e eu mesmo ainda menino, achei o máximo. Doce Vampiro com Rita é imbatível. Com a Ná é irresistível.

E o LOVELEERITA acabou. E eu que comecei esse texto ressabiado, enciumado da Ná roubando a uma Rita roqueira, dona do mundo, cruel com todos os que iam contra aos seus pensamentos, termino esse artigo numa sensação de curtição total. Que delícia isso!

Ponto para Ná Ozzetti e um milhão de pontos para Rita Lee.

 

LOVELEERITA / Ná Ozzetti

Nota 10

Marcelo Teixeira

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