Ótimas releituras de Rita por Ná |
A Ná desarqueou a Rita! Geralmente, as
músicas compostas por Rita Lee ficam mais legais quando cantadas por outros
cantores e isso não acontece somente com ela: com o Jorge Vercilo, com o Cazuza
e com a Ana Carolina isso acontece com tamanha frequência, que fica impossível
ouvir a canção original na voz de quem a criou.
A cantora Ná Ozzetti realçou o som da Rita com cores díspares, mais
leves, com as cores de sua tradição vinda do extinto grupo Rumo e também de sua
formação lírica. Demorei pra me convencer que o LOVELEERITA era legal,
que podia sim, transformar o rock da Rita Lee em outra coisa e no fim, sair
algo bonito. E também acho que toda tentativa de interpretação tem muito de
coragem, ousadia e amor. E que deve ser massa cantar Rita Lee. Irresistível.
Enfim, uma super homenagem com um repertório escolhido a dedo, com muito
carinho, muita determinação e que ficou um disco gostoso, caprichado e
precioso.
Atlântida (Saúde
1981) fica onde? Não sei se ela desapareceu do mapa ou sumiu mesmo foi do meu
imaginário. E como a música diz Que o
mundo é dos que sonham/ Que toda lenda é pura verdade. Ná Ozzetti canta
bonito, lento, cada palavra fica nova com sua voz. O violão dá um som de roda,
circular, que embala o ouvinte. O CD abre sonhando. Com a boca no mundo (Entradas e Bandeiras 1976) tem um
suingue gostoso e logo já vai dando aquela vontade de dançar. E aos poucos vou
sendo levada por esse novo tom que Ná Ozzetti imprime às canções. Essa música é
a cara da Rita Lee! Ela ainda meio menina, encontrando seu passo entre seu
corpo, sua voz e sua vontade de botar a boca no trombone. Com a boca no mundo é uma verdadeira descoberta. É interessante
como a Rita Lee (sozinha ou com outros compositores que não o Roberto de
Carvalho - pelo menos no LOVELEERITA) compunha músicas
completamente viajantes, grandes. Aqui eu falo de amplitude mesmo. Ela viaja em
milhares de temas, descobre cavernas, anda por outras estradas. Com o Roberto,
as composições já são mais sexuais, apaixonadas, muitas quase corporais. Que
também é o máximo.
Mania
de você (Rita Lee 1979) na versão da Ná chega
mais rápida, dançante. Acho que mais pop mesmo, menos carregada de estória. Mania de você foi composta pelo casal
quando ainda estavam na cama. Na delícia da hora. Foi interessante essa mudança
de estilo, já que com a Ná a estória é outra. No lugar da cama, entram os mil
sopros que são de matar.
Bem, Mutante (Saúde 1981): a Ná simplesmente
arrebenta na canção e dispensa comentários. Ela chega de mansinho, entrando e
tomando conta de mim sem pedir licença. E eu deixo. Mutante é linda sempre e ainda mais nessa versão, que de quebra tem
um trombone. É um escândalo simplesmente. É delicada, é exagerada, é a
combinação perfeita das palavras. Tudo isso junto explode nessa música de amor
temperada de todos os cheiros: dor, ressentimento, paixão, tesão e abandono.
Fruto
Proibido (Rita Lee & Tutti Frutti 1975): malandrada! Essa versão está
cheia de percussão e guitarra. Ótima! A canção é aquela vontade de desanuviar,
de trocar de fantasia e sair vivendo. Em Luz
Del Fuego, que também está no disco Fruto Proibido, Ná Ozzetti não
aguenta e se transforma em uma roqueira total!
Hoje eu represento o segredo/
Enrolado no papel. É incrível como Luz
Del Fuego mexeu com o imaginário feminino. Muita cantora já cantou essa
música e sempre muito bem. É que Luz Del
Fuego não tinha medo. O título Raio X
(Bombom
1983) é perfeito para a velocidade da música. O som se arrasta e se espalha por
cada vão e aí a gente se dá conta de Quem
nunca teve um sonho/ Quem é que não é sozinho. Essa música me faz pensar
nessas cidades grandes, onde a janela da sala dá vista para enormes viadutos de
concreto. O que a modernidade pode trazer de mais solitário.
A modinha mais poética que
eu já vi é essa Modinha (Babilônia
1978) aqui. Linda. Todo remédio que me
cura tem uma contraindicação. Perfeito. Ná Ozzetti se descabela em Mãe Natureza (Atrás do Porto tem uma Cidade
1974). Não segura a onda dessa música e pira. Pira ela, pira a guitarra. E bem
que fazem! Mãe Natureza na minha
opinião é a nossa erva de cada dia, aquela que embaça a mente na pitada certa e
a gente já não sabe se estamos pirando ou as coisas é que estão melhorando!
Lembro-me da primeira vez
que ouvi Doce Vampiro (Rita
Lee 1979). Eu ainda era menino e tinha uma amiga mais velha que
respirava Rita Lee. Um dia ela me chamou pra me mostrar essa música, e eu mesmo
ainda menino, achei o máximo. Doce
Vampiro com Rita é imbatível. Com a Ná é irresistível.
E o LOVELEERITA acabou. E eu que comecei esse texto ressabiado,
enciumado da Ná roubando a uma Rita roqueira, dona do mundo, cruel com todos os
que iam contra aos seus pensamentos, termino esse artigo numa sensação de
curtição total. Que delícia isso!
Ponto para Ná Ozzetti e um
milhão de pontos para Rita Lee.
LOVELEERITA
/ Ná Ozzetti
Nota
10
Marcelo
Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário