A mudança de Milton em 1985 |
Os anos de 1984 e 1985 foram
especialmente intensos para Milton Nascimento.
Além de entrar de corpo e alma na campanha pelas eleições diretas para
presidente, chegando a compor duas músicas – Coração de Estudante e Menestrel
das Alagoas – que seriam cantadas em todos os comícios em praça pública,
transformando-se em verdadeiros hinos de liberdade, Milton curou a decepção
pela derrota da emenda das diretas no Congresso Nacional com o apoio à
candidatura de Tancredo Neves à presidência. Abalado com a morte de Tancredo e
vendo o país chorar a morte de seu filho querido, Milton resolvera mudar os
ares de sua vida por completo: além de se mudar de Belo Horizonte para Rio de
Janeiro, ele já se sentia mais confortável como pessoa e artista, pois era mais
valorizado e respeitado por dentre entre
dez artistas mundiais. Por esse mesmo motivo, o cantor e compositor carioca
sentiu-se à vontade para fazer o que bem quisesse no ano de 1985 e, para seu
bel-prazer, inpirou-se em seus sentimentalismos para desfilar um fiandeiro de
músicas emotivas e sensatas para o belo disco Encontros
e Despedidas (1985 / Phillips) 19,00), que tem uma ancestralidade e
uma africanidade incrível. No início de carreira, Milton assinou a melodia, mas
também as letras de várias canções – Canção
do Sol e Morro Velho talvez sejam
os melhores exemplos de seu talento como letrista. À medida que foi encontrando
os parceiros certos, porém, o cantor passou a se concentrar na elaboração das
frases musicais, abrindo espaço para que seus amigos Márcio Borges, Fernando
Brant e Ronaldo Bastos participassem ativamente de sua obra. Escolhia o
parceiro para cada música, determinava o tema, dava palpites e logo voltava-se
à criação de novas composições. Era a efervescência de Milton Nascimento dando
nova roupagem à sua carreira a partir de 1985. No disco Encontros
e Despedidas, o cantor quebrou a regra de todo um protocolo
artistíco: as 12 músicas deste álbum foram feitas por Milton com a participação
de sete parceiros diferentes e em sete faixas Milton aparece não como autor das
melodias, mas o autor das letras. Não chega a ser um disco fácil de ser ouvido,
porque Milton utiliza de um artíficio que nos impede de contermos a emoção em
faixas como a homenagem à Mandela (Lágrimas
do Sul), a africanidade em Raça,
a participação forte e vibrante de Clara Sandroni em A Primeira Estrela e na própria canção-título do disco. Nascia aqui
um novo Bituca, mais autêntico e mais forte do que nunca.
Encontros
e Despedidas (1985) / Milton Nascimento
Nota
10
Por
Marcelo Teixeira
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