Existe crítico verdadeiro? |
Sibelius
(1865 – 1957) um dia disse: não devemos
dar demasiada atenção ao que os críticos dizem. Nunca foi erguida uma estátua
em honra de um crítico. Discordando da frase do compositor filândes de
música erudita, mas acreditando sumariamente que não é preciso de estátua para
criticar algo ensaísticamente, acredito na liberdade de imprensa para poder
escrever aquilo que bem quiser em um blog totalmente independente, estando
liberto das agruras dominadoras de patrões e chefes alienados com o pudor de
escrever corretamente sobre determinado cantor ou cantora, sobre seus discos e
sobre suas atemporalidades. Talvez
Sibelius soubesse que sua música erudita não atraía multidões e acreditando em
sua impopularidade mundo afora, tenha creditado que os críticos de música o
criticavam veementemente. Criticavam sua música e não sua pessoa – arrogante,
feroz, atroz, mas intelectual, culto e refinado. Acredito na significativa despudorada de
poder resenhar tal artista com as minhas próprias palavras, marca
característica e herdada de uma forma natural e que angaria um semblante
favorável à minha pessoa. E acredito, piamente, que o mundo precisa de críticos
de música com mais verdade, com mais ideal, com mais frescor, com mais tinta,
com mais austeridade, com mais postura, com mais crítica. Gustave Flaubert (1821 – 1880), esritor francês de
personalidade psicológica marcante, disse faz-se
crítica quando não se pode fazer arte. Concordo plenamente com a frase de
Flaubert, mas o que seria de nós, críticos de arte, se também fossemos artistas
de artes como a música ou a dramaturgia? Quem poderia nos criticar? O público é
leigo no assunto criticidade e quando o fazem, não conseguem discernir o que é
capaz de ser criticado daquilo que pode ser uma solução para a crítica. Acima
de qualquer coisa, sou um crítico que critica o que precisa ser criticado. Sou
um ensaísta, um cronista, um escritor que escreve sobre aquilo que realmente
precisa ser escrito. Não procuro aquilo que deve necessariamente estar postado
e prostrado no meu mural: eu escrevo conforme meu tempo, sem a necessidade
sumária de preencher a alegria de patrões, de gravadoras, de artistas. Não sou
pago para escrever aquilo que não acho legal e não sou pago para elogiar um
artista só porque está na mídia. Artistas precisam ser criticados, assim como
seus discos precisam de notas avaliativas para estarem no crivo de uma sensata
resenha. Escrevo sobre música porque gosto, porque aprecio e porque sinto a
necessidade ulterior de divulgar a nossa música popular brasileira ao outro.
Não preciso escrever sobre o cantor da modinha, não preciso exaltar a cantora
que lançou um disco mediano apenas para dizer que sou antenado com a música. A
música está jorrada aos quatro ventos e a cada dia nasce uma cantora nova, um
cantor novo. Mas não preciso, categoricamente afirmo, me humilhar para escrever
aquilo que acho desnecessário. Existe um milhão de artistas que não merecem
sequer uma crítica negativa, assim como existe uma infinidade de artistas que
vivem enclausurados para um seleto grupo de seguidores e é sobre esses artistas
que gosto de resenhar: seja o artista de beco, seja o artista consagrado, seja
o artista popular, seja o artista impopular, seja o artista ruim, seja o
artista bom, seja o artista da grande mídia ou seja o artista de pequena mídia,
eu escrevo para que o meu leitor tenha ciência de que existe uma seleção de
achados e perdidos espalhados por aí que precisam ser (re) conhecidos para um
devaneio de musicalidade. O verdadeiro crítico de música não busca apenas
palavras confortantes para agradar ao artista, mas busca na sua interpretação,
no seu projeto, no seu propósito aquilo que está escondido por trás de cada
música. Não julgo o disco pela capa, não julgo o artista pela voz, não julgo o
artista pela roupa, não julgo o artista por outrora: julgo o conjunto da obra,
incluindo aqui a capa, o artista, a voz, a roupa, o que ele representou no
passado. O bom crítico de música sabe reconhecer que o disco X foi merecedor de
nota alta enquanto o disco Z é merecedor de uma nota mais baixa: saber
reconhecer isso é o mínimo de todo e bom crítico de música. Não podemos nos
vender por tão pouco, como vejo outros críticos se rendendo ao brasão da
empresa em que trabalham. Sejamos mais humanos. Sejamos mais realistas. Sejamos
mais críticos de música verdadeiramente honrados em criticar com gosto, com
vontade, com verdade. A música agradece. A escrita agradece. O leitor
agradece. Fechando com a bela frase do
mágico californiano Channing Pollock (1926 –
2006) um crítico é um homem sem pernas
que ensina a correr. Que venha 2017!
O
crítico de música e o crítico cliclê: as nuances musicais.
Por
Marcelo Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário