sábado, 1 de outubro de 2016

A obra, o legado, a decadência e o mito Raul Seixas


Raul: mito do Rock
Raul Seixas morreu em agosto de 1989, derrubado pelos excessos. Deixou músicas que se tornaram hinos à rebeldia e à inconformidade com as coisas caretas do mundo e milhares de fãs desolados. Gente de todos os tipos choraram sua partida, desde ricos, pobres, caminhoneiros, roqueiros, urbanóides, sertanejos e estudantes. Raul não tinha rótulos, embora o rock estivesse em sua veia, mas o cantor passeio pelo baião, pelo samba e pelas baladas, compondo pérolas como Rock das Aranhas, Metamorfose Ambulante, Ouro de Tolo, Al Capone, entre tantas outras maravilhas. Mas o que esperar de um garoto problemático que cresce ouvindo Elvis Presley, Luiz Gonzaga, Chuck Berry e Jackson do Pandeiro? Raul transitava por todas as searas musicais, dizendo que não tinha um título que o rotulasse. Gostava de Genival Lacerda, mas também admirava Cauby Peixoto. Nascido na Bahia em 1945, Raul Seixas gostava mesmo era de intimidar as pessoas com suas tiradas e sacadas geniais. Várias de suas músicas foram censuradas pela Ditadura Militar, algumas foram engavetadas para uma gravação futura, outras tiveram que ter letras trocadas para não serem grampeadas pelo governo. Seu primeiro disco foi lançado em 1986, com o título de Rauzito e os Panteras, pela EMI-Odeon, não sendo um grande sucesso de público e muito menos de crítica. Com tanta desilusão musical, o cantor desfez a banda e voltou aos estudos, no curso de Filosofia. Não tardou muito e o cantor voltou à música, em 1972, inscrevendo-se para o VII Festival Internacional da Canção, classificando aqui duas músicas que se tornariam hinos consagrados: Let me Sing, Let me Sing e Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo. Através dessa classificação sensacional, o cantor e agora compositor reconhecido é contratado pela grande gravadora, a Phillips. Com sua ida à Phillips, Raul deparou-se com um escritor fracassado, metido a bruxo e com um lado místico efervescente: Paulo Coelho, que acreditava em discos voadores e extraterrestres. Através desse encontro, a vida de ambos, cantor e escritor, passa por uma transformação avassaladora: eis a parceria mais importante da música popular brasileira. Em 1973 lança sua mais pura perfeita tradução musical com Ouro de Tolo e a irônica e zombeteira Mosca na Sopa. Perseguido pelos militares em 1974, Raul exila-se nos Estados Unidos e mais uma vez é surpreendido pelo acontecimento histórico e inacreditável: o encontro com o ícone da música americana John Lennon. Volta ao Brasil no mesmo ano e compõe Sociedade Alternativa, O Trem das Sete e Gita, que se transformou em um disco antológico. Mas nem tudo eram flores na vida musical de Raul e, por esse motivo, em 1975 lança Novo Aeon, um disco fraco e que vendeu muito pouco, deixando a todos os empresários cabisbaixos, mas a qualidade desse disco é igual ou melhor que o de 1974. É nesse disco que se encontra um dos maiores selos românticos da obra do cantor: A Maçã. Já em 1977 lança O Dia em que a Terra Parou, compondo ao lado de Cláudio Roberto o hino hippie Maluco Beleza e que, por consequência disso, passa a ser o apelido de Raul. Esse disco passa a ser uma obra-prima também para o próprio Raul, pois Gilberto Gil dá uma canja no violão na música Que Luz é essa? Em 1978 lança Mata Virgem e retoma a parceria com o escritor Paulo Coelho, que estava meio estremecida desde 1975. Deprimido com público e crítica que rejeitaram seu disco Por quem os Sinos Dobram (1979), Raul exagera no consumo de bebidas e drogas, onde passa por várias internações e perde metade do pâncreas em uma cirurgia. Apesar dos problemas pessoais, o cantor volta com carga total e lança um mediano álbum, Abre-te Sésamo (1980), com relíquias como Anos 80 e Rock das Aranhas. Tendo uma boa repercussão por causa desse disco, Raul inicia uma pequena turnê pelo interior de São Paulo, preferindo apresentar-se em cidades pequenas, levando sua arte àqueles que não podiam ir aos seus shows de grandes proporções. Essa iniciativa não deu tão certo assim, embora a crítica o aplaudisse de pé: o cantor era visto bêbado nas padarias, sempre ao lado de um copo. Raras vezes o encontravam com um bloquinho e uma caneta rabiscando alguma música. Desse bloquinho ainda surtiram efeito de luz no fim do túnel e Raul põe no mercado, agora pelo selo Eldorado, o disco Raul Seixas, que conseguiu emplacar Carimbador Maluco e a música infantil Plunct-Plact-Zumm. Já em 1984, o cantor lança Metrô Linha 743, pela Som Livre, que teve uma música censurada: Mamãe Eu Não Queria (Servir o Exército).  Depois desse disco e sendo cada vez mais chamado de Maluco Beleza, Raul passaria por outras gravadoras e isso virou piada entre o meio musical, pois mostrava a já decadência do artista. Porém, em 1987, no disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Bém-Bum!, pela Copacabana, nasceu um de seus últimos hinos: a bela Cowboy Fora da Lei. O ano de 1988 não começou bom para o cantor, que vinha se tratando de vários problemas relacionados a álcool e lança um disco mais fraco que o de início de carreira, em 1968 e o de 1979. A Pedra do Gênesis (1988) foi muito mal recebida por todos e Raul decide-se se isolar por completo. Mas graças ao amigo e cantor Marcelo Nova (nesse tempo, Paulo Coelho já estava afastado de Raul), o convence a gravar novamente. O último disco da carreira de Raul chama-se A Panela do Diabo (1989), sendo um convite a sua saída derradeira aos 44 anos de idade e sendo um ícone da música nacional brasileira. O grande legado que Raul Seixas deixa para a música contemporânea é o seu mundo representado por músicas místicas envolvidas por ritmos até então nunca imaginadas juntas.  Raul não fora apenas um cantor que ministrou o baião, o samba e o rock no mesmo palco, mas sim, um grande cantor que estava desenhando o seu mundo imaginário através daquilo que achava justo e correto cantar.

 

O legado de Raul Seixas
Por Marcelo Teixeira

 

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