Carmen, a maior |
Todas
as imitaram. Todas queriam ser Carmen. E existiu um movimento musical antes e
depois do surgimento da cantora Carmen Miranda. Carmen marcou tanto com seu
jeito de cantar, revirando os olhos, mexendo as mãos e gingando seus
balangandãs, com seu sorriso contagiante e a graça de seus trajes cheios de
frutas e miçangas e etc etc etc, que até hoje, mais de 50 anos após sua morte,
é o símbolo brasileiro mais conhecido no mundo. Mais do que uma voz, foi um
fenômeno do show business norte-americano. Aportando nos Estados Unidos no
início da Segunda Guerra Mundial, representou vivamente a terra desconhecida e
exótica, cheia de coqueiros, bananas, abacaxis, atendendo às necessidades
fantasiosas e consumistas do povo norte-americano e alcançando a glória e a fortuna.
Ninguém foi maior que Carmen. Ninguém conseguia ficar sem Carmen. Os fãs a
adoravam. O mundo a adorava. Carmen Miranda é até hoje símbolo de uma marca. E
todas as cantoras que estiveram presentes na lista têm, tiveram ou terão um
pouco de Carmen, seja na música, seja numa regravação, seja numa citação, seja
numa dança.
Carmen Miranda. A Pequena
Notável. The Brazilian
Bombshell. Nome mágico. Mito. Hoje, apenas uma lembrança. Mas
lembrança em tudo que nos cerca. Sua influência é sentida não só na música popular
brasileira, como em outros ritmos do resto do mundo. A moda lançada por ela dos
turbantes, dos sapatos de plataforma, das coloridas joias de fantasia (os
célebres balangandãs), coberta de plumas e paetê, mas de barriga de fora — tudo
isso é hoje copiado pela juventude feminina e pelos gays e travestis, que
sequer a conheceram, pois a maioria nem era nascida quando Carmen morreu, em 5
de agosto de 1955 (nem mesmo eu, mas ao menos corri atrás das qualidades que
existiram um dia!). Ainda recentemente, a festejada cantora de rock, Madonna,
confessou que suas roupas exóticas foram inspiradas em Carmen Miranda.
Quem foi, afinal, essa
artista tão diferente, tão revolucionária para a sua época e até para a atual?
Na verdade, nem era brasileira de nascimento. Como Carlos Gardel que, embora
francês, tornou-se o rei do tango argentino, a nossa maior sambista nasceu em
Portugal, na aldeia de Marco de Canavezes, perto do Porto, no dia 9 de
fevereiro de 1909. Vinda para o Brasil ainda bebê (um ano de idade), Maria do
Carmo Miranda da Cunha (seu verdadeiro nome) foi aluna de um colégio de freiras
em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, mas não completou sequer o curso ginasial
porque, por necessidade financeira da família (o pai, barbeiro; a mãe, servindo
refeições em uma pensão), a menina precisou começar a trabalhar muito cedo,
primeiro vendendo gravatas, depois, como balconista de uma loja de chapéus, onde
aprendeu a bolar seus futuros adornos da cabeça. Já, então, fora rebatizada
como Carmen por um tio que a achava tão exuberante como a heroína da ópera de
Bizet e não se conformava com o pacato nome Maria do Carmo.
Descoberta pelo compositor e
violonista baiano Josué de Barros, Carmen Miranda gravou três discos, sem
grande repercussão, até atingir o sucesso total com a música de Joubert de
Carvalho, Pra Você Gostar de Mim, que
passou a ser conhecida como Taí.
Lançado em janeiro de 1930, esse disco bateu todos os recordes da época,
vendendo 35.000 exemplares em um mês. Depois disso, nunca mais Carmen Miranda
deixou de brilhar. Fazia sucesso não só no Brasil — com gravações e shows ao
vivo — como na Argentina e Uruguai, tornando-se a estrelíssima do show business
sul-americano nos moldes internacionais impostos pelos americanos do norte, em
Hollywood e na Broadway. Era inevitável, portanto, que viesse a conquistar
também aquele tipo de público tão exigente. Quando os artistas hollywoodianos
Tyrone Power e Sonja Henie a viram se exibindo no Cassino da Urca, já com a
primeira fantasia de baiana idealizada por ela própria, ficaram tão encantados
que a recomendaram ao empresário Lee Schubert, que não hesitou em contratá-la
para ser uma das principais intérpretes da revista musical Ruas de Paris, montada no Broadhurst Theatre, em plena Broadway ,
também com a dupla cômica Abbott & Costello e o cantor francês Jean Sablon.
A figura — já carismática —
de Carmen Miranda tomou de assalto o público nova-iorquino, que nunca havia
visto algo igual: uma exuberante criatura, exoticamente vestida, cantando com
as mãos, com os olhos, com os pés e com os quadris, pois ninguém entendia suas
palavras em português (ela ainda não falava inglês) e, já naquela época, foi
considerada a rainha da comunicação internacional. As lojas da luxuosa Quinta
Avenida substituíram as criações de Dior e Chanel pelas fantasias de baiana de
Carmen, seus turbantes, sapatos e balangandãs, com bons royalties para a
cantora brasileira, já, então, carinhosamente apelidada pela imprensa
nova-iorquina de The Brazilian Bombshell. Ao contrário de diversas traduções, bombshell
não quer dizer bomba em português — na gíria americana, bombshell significa uma
explosão, mas no sentido de uma grande surpresa — então, a tradução certa seria
A Grande Surpresa Brasileira ou A Explosão Brasileira.
No Brasil, anos antes,
recebera outro apelido, A Pequena Notável, que lhe fora dado pelo locutor César
Ladeira, da extinta Mayrink Veiga, e que pegou de tal maneira, que ela passou a
ser assim apresentada nos seus shows. Atriz, cantora, dançarina, mulher. Carmen
chega ao primeiríssimo lugar como a Maior Cantora Brasileira de Todos os
tempos. Portuguesa de nascimento, brasileira naturalizada, americana,
argentina, uruguaia, indiana, equatoriana, cubana... não importa. Carmen chega
ao primeiro lugar com a grandeza de ser a maior e a única.
A
Maior Cantora do Brasil: Carmen Miranda
Marcelo
Teixeira
Um comentário:
Infelizmente muitos não dão tal valor. Carmem é unica e admiro toda sua potencialidade e perfeição em seu canto. Linda e incomparável. Parabéns pelo seu trabalho.
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