Haverá outra Elis ou outra Clara? |
Conversando
com o filósofo e amigo Antônio Nascimento da Silva, numa dessas boas conversas
em que se pode ter com alguém tão antenado com a cultura e com a dissipação da
música, dos livros, do teatro e da arte em geral, nasceu um conflito entre nós:
de onde parte a falta de essência na música? Havia um certo tempo em que
cantoras de MPB eram cultas, refinadas e não caiam em demasia na boca da
fadigada galera que estava mais ansiada em ouvir uma música menos rechaçada,
menos combinada e mais pluralista. Cantoras com estilo e sabedoria, cujo sua
musicalidade jamais era tida como povão. Eis que essa tal essência perde-se no
exato momento em que a cantora culta e refinada deixa-se ganhar pela gíria do
povão, com um apelo mais popular, com palavras de cunho popular,
transformando-se, assim, em uma cantora popular.
Marisa Monte talvez seja uma
dessas grandes cantoras que, ao lançar discos importantes para uma cultura
pouco privilegiada no Brasil, entrou na onda de tentar garimpar ouvidos menos
solenes ao lançar discos e músicas com um forte apelo comercial. Hoje,
indiscutivelmente, sua música é pop. Seus discos são apelativos numa forma
contextualizada e geral. O que antes vinha com um rótulo de tradicionalmente
essencial, transformou-se em um produto meramente comercial.
Há uma série de cantoras e
cantores que apelaram para o comércio barato da musicalidade. Há autonomias de
formas banais que de uma perspectiva utilitária e utópica e racionalista, não
têm finalidade alguma, mas que não deixam de ter sentido mesmo que este se
esgote no próprio ato. Para tanto, há um novo movimento intercultural que
assola a mediocridade oca de cabeças menos pensantes e que tentam menosprezar a
cultura de uma forma generalizada.
Será que teremos uma nova
Elis ou uma nova Clara? Será que poderemos ver, neste século, os velhos teatros
como palcos para artistas consagrados? Será que teremos o prazer de ver
cantores representando seu papel maior em uma sala repleta de cabeças pensantes
e que sonham com a musicalidade boa e capacitada para o amanhã? Onde está o
amanhã? Como será o amanhã?
Há autonomias de formas banais que de uma perspectiva
utilitária e utópica e racionalista, não têm finalidade alguma, mas que não
deixam de ter sentido mesmo que este se esgote no próprio ato.
Antônio Nascimento da Silva
Conheci homens de roupas
parecendo ternos de azul e branco (sem gravata) e com cabelos alinhados metidos
a intelectuais convencidos a convencer o inconvencível. Mal sabem esses
senhores de azul e branco que a capacidade deles de pensar é fraca, medíocre e insensata,
pois eles tentam impor seus trejeitos e suas maneiras de absorver o nosso
conteúdo cultural ao invés de nos mostrar o caminho certo. Esses homens de azul
e branco eram homens de saraus, desses que tentam impor na nossa cabeça que as
pessoas são inferiores à eles, que somos submissos à eles e que não temos a
capacidade de trilhar um pensamento brilhante sobre qualquer forma de conduta.
Será que teremos outro
Gonzaguinha, outro Antônio Marcos, outro Chico Buarque? Outra Maria Bethânia?
Hoje em dia temos um punhado gigantesco de cantores e cantoras que mal
conhecemos. Os tempos mudaram e esses cantores também mudaram. A essência
desses profissionais mudou, porque mudaram os tempos e a direção dos ventos.
Talvez eles nem saibam o verdadeiro significado da palavra essência. A bem da
verdade, estamos diante da catástrofe generalizada e contida de homens que
vestem camisa branca e calça social azul e que esquecem suas gravatas. Homens
que pensam assim, pequeno, quase nada, também esquecem de usar suas gravatas. E
esquecem que a música tem essência.
Belas frases proferidas por
meu amigo Antônio Nascimento da Silva, de que a música resvala no sentimento
mais puro do homem e que escutar a verdadeira música é a coisa mais agradável
do mundo.
A Essência da Música
Marcelo Teixeira
Entrelinhas: Antônio
Nascimento da Silva
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