Ária: poderia ser melhor |
Agora Djavan está de novo com um álbum aquém de seu profissionalismo e prestígio, lançando o morno Ária (2010, Biscoito Fino, 29,99). Ária significa música, canto, balada e o que Djavan fez foi apenas tentar aprimorar seus dotes como cantor com sua voz de timbre fino para composições de cantores tarimbados. De Chico Buarque a Gilberto Gil, de Luiz Gonzaga a Caetano Veloso e passando por Cartola, Tom e Vinicius, Djavan deixa uma profunda sensação de que ainda falta aprimorar e pensar melhor em um repertório novo, moderno e com o seu estilo musical.
Não é um disco ruim, mas ouvir Djavan está ficando cada dia mais cansativo e a originalidade que poderia estar neste álbum, deu lugar a canastrice gerada por um cantor excepcional. Disfarça e Chora, de Cartola, é uma samba de choro, desses que precisamos de consolo por muito tempo, mas Djavan não colocou a emoção para fora e o resultado é horrendo e vale lembrar que Zélia Duncan a regravou no belo álbum Eu Me Transformo em Outras (2005). Oração ao Tempo é uma música sobre divindades místicas que vez por outra Caetano Veloso insiste em homenagear e que fica cansativa em quase 4 minutos de canção. Rita Ribeiro a regravou no disco Tecnomacumba (2006) e o resultado ficou muito melhor. Sabes Mentir é uma das obras primas do disco e Djavan não faz feio em homenagear Othon Russo, o autor da perola. Bem sintonizado, sons em harmonia e a voz límpida do cantor ajudam muito neste samba dolorosamente ardente. Silas de Oliveira é honrado no bem elaborado Apoteose ao Samba e Djavan soube interpretar magistralmente esta música nos puxados 4 minutos e 29 segundos de canção sem exagerar. Luz e Mistério (também de Caetano em parceria com Beto Guedes), Palco (de Gilberto Gil) e Valsa Brasileira (de Chico Buarque e Edu Lobo) são cansativas e em nada acrescenta neste álbum.
Mas o que é ruim mesmo é ouvir Djavan e seu timbre fino cantando inglês: é horrível. E mesmo que a canção tenha perto de dois minutos e cinquenta segundos, parece uma eternidade sem fim ouvi-la. Assim como cantar em espanhol não é a praia de Djavan, as duas músicas de cunho internacional foram meros descasos na seleção do repertorio.
Homenagear Tom e Vinicius é tarefa difícil, mas que muitos artistas da MPB tentam fazer a cada disco lançado e com Djavan não poderia ser diferente. Brigas Nunca Mais, um sucesso na voz de Elis Regina para o que é considerado o álbum indispensável nas prateleiras de fãs da música popular brasileira, Tom & Elis (1974), Djavan chega a desperdiçar a melodia com sua estridente voz: os sustenidos e gemidos são horripilantes.
Vale ressaltar que a capa do disco é de um primor absurdo e o encarte é muito bem trabalhado. Remete-nos aos velhos discos do século passado com seus brasões e seus detalhamentos supinos.
Recentemente o músico lançou um novo álbum ao vivo e com praticamente todas as suas vertentes de sucessos, o que me remete ao passado de quando ele passara a ser um cantor de sucessos para um cantor que só canta sucessos. Djavan mesmo assim segue em frente, vendendo muito bem seus álbuns, sendo respeitado dentro e fora do Brasil, seja com discos excelentes, seja com discos inferiores (como Ária).
Três Estrelas.
Ária / Djavan
Marcelo Teixeira.
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