quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sandy e o ostracismo



Sandy já encantou o Brasil, já fez o público pular, dançar, rebolar, chorar, rir e se emocionar com suas músicas. Por inúmeras vezes não abriu a porta de dona Mariquinha que seu irmão, Junior Lima, insistia nas apresentações em programas de auditório e shows. Sandy cantou e cantou muito, fazendo muitas crianças se sentirem como elas mesmas: crianças. Mas fez muitos adultos se encarem com seu jeito angelical, quase um anjo que estava ali no momento certo, entoando canções para seus filhos e para seus netos dançarem. Sandy era a criança mais famosa de seu tempo, depois da Simony e do Jairzinho, que cresceram ao som do grupo Balão Mágico, ou de Patrícia Marx, que sempre estava nos programas da Xuxa.


Sandy foi um verdadeiro sucesso. Juntamente com seu irmão, eles entoaram músicas que estão até hoje na memória fresca daqueles que cresceram ouvindo suas canções e que ainda insistem em dizer que a cantora é exemplo de civilização e postura feminina. Milhares de discos vendidos, a cantora cresceu em um mar de rosas, mergulhada no mais profundo gosto do sucesso e ressentida por não poder fazer parte do seleto grupo de cantoras da MPB que estavam com seu público cativo. Sandy queria crescer. Mas isso acontecia, de fato, a cada disco lançado e a cada entrevista concebida. Cantando MPB, jazz, canções americanas e adultas, Sandy aos poucos deixava de ser criança, deixava de ser adolescente e a mídia aprovava e as pessoas se sentiam impressionadas com tamanho talento e essas mudanças foram acontecendo e se transformando com cada disco surgido no mercado fonográfico.
Aos poucos a ideia de largar o irmão foi se sucedendo. Logo imaginou na carreira solo. Muitos apostaram que ela seria uma das maiores cantoras do Brasil, superando marcas de discos vendidos e constituindo na líder da MPB contemporânea. Sandy se desligou profissionalmente do irmão e iniciou uma carreira solo. Lançou o disco Manuscrito e, para surpresa geral, foi um verdadeiro vexame, vendendo 100 mil cópias, enquanto era estimado quase 300 mil.
Sandy fez errado ao iniciar carreira solo? Pra mim, sim. Sua voz é doce, agradável, não é enjoativa, mas o repertorio de moça comportada passou a ser questionado como mulher madura, mas sem sal. Uma adolescente rebelde. Uma criança indefesa que perde a chupeta para uma mulher superior. Uma careta chamada Sandy. E o seu disco, Manuscrito, é um conjunto de frases sem nexo, sem eixo, sem direcionamento. Músicas chatas, músicas estranhas com teor de “o que estou fazendo aqui?”. Sandy errou o caminho de casa, entrou na primeira porta que viu aberta e não pediu conselhos sobre se deve seguir reto ou virar a direita.
Manuscrito é horrendo. E mostra uma Sandy perdida em sua estreia livre e desimpedida dos conselhos infames do irmão e da caretice do pai e da intromissão do tio. Apenas a mãe pode dar conselhos (talvez seja por isso que a carreira de Sandy tenha sobrevivido até hoje). Mas acompanhar a carreira da ninfeta que virou estrela das crianças para o mundo adulto, um mundo que ela desconhece e que não lhe foi apresentado, é tecer no pior estado de lastimas.
Cantando desde Michel Jackson a Madona, Sandy está redondamente perdida em seu mundo. Poderia até mesmo chamar de um certo ostracismo, o que acontece com inúmeros cantores ao menos uma vez na vida. Hoje Sandy não acrescenta lhufas na vida de ninguém. Dentro de poucos anos desaparecerá e ninguém sentirá sua falta.

Marcelo Teixeira.

Um comentário:

kary disse...

Acho que sua teoria de 2011 estava errada, a Sandy não desapareceu suas musicas e sua voz continuam encantando. Seu jeito delicado e ao mesmo tempo forte e cheio de sentimentos ainda agradam muita gente.Venda de cds não podem definir o sucesso de um artista, hoje temos outras formas de poder apreciar as musicas.
A Sandy é capaz de esgotar shows em poucos dias de venda de ingressos(E já estamos em 2015). Talvez você diga " São os fãs da época da dupla", mas será que se o estilo que ela escolheu não nos agradasse estaríamos acompanhando sua carreira? Não...não mesmo.