terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Caetano Veloso e Maria Gadú: a junção que não deu certo.

De quem foi a ideia de juntar Caetano Veloso e Maria Gadú? Esta pergunta foi feita aos dois cantores repetidas vezes e por vezes ela é respondida numa forma ilusória: em um programa de televisão, nos bastidores, os dois se encontraram e rolou um clima artístico. Que Caetano é um cantor e compositor de todos os méritos, disso todos sabem, basta ver sua trajetória e sua carreira e seus discos e suas músicas e até mesmo ouvir o que o velho e bom Caetano tem para nos dizer sobre a vida. Que Maria Gadú poderia ser uma cantora espetacular, dessas que paramos tudo para ouvi-la e dessas que comentamos a todo instante, poderia ser até um atrativo para reverenciar o disco que ambos acabam de lançar juntos. Mas o fato é que o disco é um festival de músicas chatas (do repertório da cantora, óbvio), um clima nada agradável e os fãs de Gadú a reverenciando a cada palavra dita, o que irrita boa parte do Cd.
Que Caetano Veloso gosta de dividir discos com outros cantores, isso é fato e notório e a lista de cantores é diversa e atemporal a ele. De Chico Buarque (o disco que ambos fizeram juntos na década de 1970 entrou para a história da MPB como a mais polêmica, pois a mídia insistia que ambos eram desafetos declarados e a carga emotiva e política do álbum é surpreendente), com Jorge Mautner, com Roberto Carlos, com Gal Costa. Isso para ficarmos nas preliminares. Caetano gosta dessa arte de misturar vozes e estilos e o resultado muitas vezes não é satisfatório e sai aquele festival de egocentrismo ou, na pior das hipóteses, chatice.
 
 
O velho e o novo. Ontem e hoje. O bom e o mediano. Classifico assim a junção dos dois cantores. E foi nesse clima de lembranças do passado e com a alegria do presente, que ambos lançaram um disco que futuramente não acrescenta em nada. Multishow Ao Vivo Caetano e Maria Gadú (2011, Universal Music / Som Livre, 34,99) é um disco recheado de músicas antigas (e excelentes) de Caetano e boa parte do primeiro disco de Gadú. Maria sempre disse ser fã confessa do baiano – tanto que tatuou no corpo a música enorme e linguística O Quereres - e este se mostrou feliz com a receptividade. Mas a verdade é que os dois não combinaram, não entraram em sintonia e não teve clima bom para o bom andamento do disco.
Músicas como Beleza Pura, Nosso Estranho Amor, Vaca Profana, O Leãozinho entre outras preciosidades caetânicas soaram péssimas na voz rouca de Gadú. Sampa e Trem das Onze são lástimas e horrendas. Sozinho, um hit de Peninha cantado por estrondo sucesso por Caetano alguns anos atrás, volta a este disco em mais uma regravação desnecessária. E o disco dois (lado B) é todo voltado para o cancioneiro de Gadú: estão ali todas as faixas de seu bem lançado disco, incluindo o sucesso Bela Flor. Ao menos este disco nos trouxe de volta sucessos antigos de Caetano, como Rapte-me Camaleoa e Genipapo Absoluto, músicas que valem a pena na intepretação da moça.
Um disco que nasceu para angariar dinheiro e deixar a carreira de Maria Gadú mais fortalecida e com um curriculum ainda mais favorável. Quem, no inicio de carreira, não adoraria ter um certo Caetano Veloso como padrinho para angariar o futuro? O disco é desprovido de méritos, desproporcional à medida que avança e a voz de Maria Gadú não é a das melhores. Ela não encanta. Ela não motiva. Ela tem trejeitos chatos e cansativos e não manifesta nenhum sentimento nas canções. Caetano tenta fazer o melhor, mas o público só quer saber de Gadú. Desnecessária a parceria, desmerecido o critério do disco e mais uma junção que poderia não ter passado de um encontro de bastidores.
Um disco para não ficar na história.
Duas Estrelas.
Marcelo Teixeira.

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