Maria Rita acaba de lançar novo disco, intitulado ELO (2011, Warner Music, R$ 29,99) e este álbum não poderia sair no momento mais propício: é o mês de aniversário da cantora. Mas o que poderia ser um belo disco, desses que agente pega, carrega, comenta e devora, passa desapercebido quando o assunto é originalidade. Faltou muito folego para que Maria Rita atingisse o ápice de um maravilhoso disco e os motivos são tantos, que eu poderia ficar aqui enumerando por vários dias. O disco não chega a ser de todo ruim, salvo pela bela interpretação da cantora, mas peca pelo repertório manjadíssimo do grande público e sem nenhuma novidade.
Elo significa ligação, pacto, amarração, trama e uma música interliga ou puxa a outra, mas isso não acontece no disco. Neste caso emblemático, Maria Rita quis diversificar, colocando no disco músicas na qual ela se identifica, cantarola em casa ou nos ensaios (foi assim que a música Conta Outra, do disco Segundo, entrou para esse disco, de tanto que ela cantava certos refrãos em shows do primeiro disco). A cantora trouxe as mensagens do porque estava gravando determinada faixa ao invés de nos mostrar as letras (que por vezes fica impronunciável e nada audível) e estava mais preocupada em agradecer aos amigos e fiéis escudeiros ao final do encarte do que nos brindar com uma capa mais sensata e mais dinâmica. Capa está que, por sinal, mostra um certo sutiã caindo no antebraço e um biquinho de atriz francesa da década de quarenta. Capa horrorosa, por obséquio.
O ELO de Maria Rita está enfraquecido, pobre e sem sentimentos. E isso é demonstrado em faixas como “Perfeitamente” e “Para Matar Meu Coração”. Claro que Maria Rita trouxe para o público músicas ate então desconhecidas, mas já gravadas, como o caso de “Conceição dos Coqueiros”, de Lula Queiroga, grande amigo e parceiro de Lenine, uma interpretação densa e carregada de sentimentalismos e cantada com uma emoção profunda. Em seguida vem “Santana”, uma bela musica de Junio Barreto e João Araújo, que traz uma sensação de que Maria Rita precisava cantar essa musica para aprimorar a anterior, dando a intenção do verdadeiro elo, da interligação, do sentido da palavra. Vale ressaltar que “Santana” é uma musica mística, que vale muito mais a pena ouvir a bela interpretação de Gal Costa em seu disco Ao Vivo, lançado recentemente.
Duas musicas manjadas e batidas são “Menino do Rio”, de Caetano Veloso e “A Historia de Lilly Braun”, de Chico Buarque e Edu Lobo. “Menino do Rio” é uma das canções mais conhecidas do repertório de Caetano e, no entanto, uma das mais gravadas. Martnália recentemente a regravou num tom malicioso e gostoso de ouvir e Elis Regina a gravou como single em seu disco póstumo, o último ao vivo. “A Historia de Lilly Braun”, o blues do teatro musical de Buarque e Lobo, virou atração e uma quase “descoberta” depois que Maria Gadu a gravou em seu disco de estreia e fez enorme sucesso pela técnica vocal. No entanto, é com Monica Salmaso que essa musica ganha respeito, no bem elaborado disco “Alma Lírica Brasileira”, também lançado recentemente.
“Nem um Dia”, de Djavan é cansada e arrastada, parece que foi cantada por pressão e mostra uma Maria Rita enjoada demais. “A Outra” é uma bela musica de Marcelo Camelo, lançada no álbum “Ventura” e que mostra toda a versatilidade do compositor e Maria Rita não desperdiçou ao mostrar seus timbres vocais harmonizais. A canção acaba sendo irritante só no final, devido aos sustenidos e gemidos da cantora. “Só de Você” é uma musica batida, velha, porém esquecida de Rita Lee e seu marido, Roberto de Carvalho, mas que ficou muito boa na voz de veludo que Maria Rita imposta nela e vale dizer que esta canção entrou para o disco depois do pedido formal de Hebe Camargo. Pra fechar com chave de ouro esse disco, é colocada como faixa bônus a musica tema de abertura da novela Insensato Coração, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, “Coração em Desalinho”, uma boa interpretação, mas que fica cansativa ao ouvir durante nove meses em que a trama esteve no ar.
Há contras e prós no novo disco de Maria Rita. Há o lado bom e o lado ruim. Mas Maria Rita tinha o dever de nos mostrar um repertório novo, agudo, adulto e com uma responsabilidade única: novas músicas sempre são bem vindas, no entanto, a cantora demonstra estar fraca ao nos apresentar um repertorio cansado, suado, batido, mas não menosprezável. Outras cantoras, como Mallu Magalhães, Vanessa da Matta e Ná Ozzetti nos brindaram com canções saborosas e por que Maria Rita, filha da grande Elis Regina e do maestro e pianista Cesar Camargo Mariano e irmã caçula de Pedro Mariano e João Marcelo Bôscoli nos apresenta algo irreconhecivelmente arcaico?
Talvez o tal elo não tenha surtido efeito. Mas é, sem sombra de dúvidas, um elo sem elo de Maria Rita.
Sete Estrelas.
Marcelo Teixeira.
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