quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O samba de Aline Calixto

Do universo do samba cadenciado e influenciado por Clara Nunes, Alcione e Leci Brandão, nasceram cantoras com qualidade e disposição para mostrar que samba também é coisa de mulher. Há tempos não se via cantoras realmente com potencial no samba, no samba de roda ou no partido alto e este segmento está sendo novamente preenchido por cantoras como Fabiana Cozza, Tereza Cristina e Aline Calixto, cantoras estas que conseguem dar um banho de qualidade musical. E hoje o Mais Cultura! veio para mostrar o talento reconhecido por Aline Calixto.

A cantora mineira é mais conhecida no Rio de Janeiro, onde é apontada com muito entusiasmo por sua bela voz e por seu estilo, brilho único e capaz de nos enfeitiçar a primeira audição. Realmente muito bonita, Aline Calixto prefere não comentar sobre beleza, mas sim demonstrar que entende de samba no pé e que sua única qualidade é cantar. Afilhada de Zeca Pagodinho, a cantora se mostra surpresa com a repercussão de seu segundo trabalho, Flor Morena e por captar ainda mais fãs por onde passa.

O disco de Aline Calixto realmente é uma obra prima gerada da combinação entre samba e pagode de mesa, dos tempos de Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus ou Jovelina Perola Negra. Sua voz energiza o disco e o que se tem neste álbum é a compilação de um trabalho gostoso de ouvir, delicado e sensato. Aline acertou quando o intuito era agradar ou simplesmente mostrar o samba de verdade. O título do disco veio de Zeca Pagodinho e é uma música tão agradável, que fica impossível não sambarmos. De Martinho da Vila veio a faixa que abre o disco, Gemada Carioca, praticamente uma autobiografia da cantora, mostrando de onde vem sua origem, numa bem elaborada composição.

Flor Morena (2011 / Warner Music / 24,99) compõe catorze faixas e só de bambas do samba. De Martinho da Vila a Zeca Pagodinho, passando por Moacyr Luz e Paulinho da Viola, indo até Mauro Diniz e concluindo com Edil Pacheco e Paulo Cesar Pinheiro, o disco promete e diz a que veio. Aline também é compositora e das boas e isso é provado na bela canção Conversa Fiada, que trata o falso amor como motim de uma separação. O disco de Aline é composto pela desenvoltura do pagode de mesa, pelo samba sincopado, pelo partido alto e pelo bom samba que estava meio escondido e só absorto graças a Fabiana Cozza atualmente.

Engraçado, espontâneo e que trata das mazelas do amor são retratado de uma forma autentica por Aline Calixto. Na canção de Paulinho da Viola, Coração Vulgar, está provado que o amor e a desilusão são provas cabais de que no samba defendido por Cartola e Candeia ainda são suficientes para se criar notas sambísticas. A canção é uma das mais belas do disco e Aline derrama toda sua versatilidade para o samba rasgado, assim como na faixa mais cômica do álbum, Blá Blá Blá, que fica difícil ficarmos só ouvindo.

O prazer em ter Aline Calixto no cenário da música popular brasileira e do samba não se remete a apenas obter um excelente disco, com composições de qualidade e com uma desenvoltura inteligente. Não basta somente ouvir Aline Calixto, temos que absorver Aline Calixto, ver Aline Calixto, adorar Aline Calixto. E, acima de tudo, idolatrar uma das melhores sambistas dos últimos tempos.



Flor Morena

*********Nove Estrelas

Marcelo Teixeira

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