quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Beijo Bandido de Ney Matogrosso


Ney Matogrosso é uma metamorfose ou um camaleão, como ele mesmo se auto define ultimamente. Passou por diversas fases, transvestiu-se de diversas maneiras, usou varias maquiagens, brincou com o imaginário das pessoas, cantou as mais diversas canções, interpretou a ele mesmo, cantou Cartola, Chico Buarque, rebolou ao lado de Elza Soares, lançou discos importantes na MPB, caiu no ostracismo por um tempo, voltou radiante e com discos ainda mais dinâmicos, maravilhosos, unilaterais, perfeitos, rítmicos, habilidosos e com muita garra, personalidade e originalidade. Ney Matogrosso voltou ao cenário musical com o belo disco Olhos de Farol (1996) e o que parecia incrível ainda estava por vir: o sensacional disco Ney Matogrosso Ao Vivo (1999), aonde o cantor exprime em 20 faixas todo o seu cancioneiro, dando lugar aos novatos compositores da MPB ao lado de músicas antigas, sucessos já consagrados. Em seguida, Ney nos prestigia com Vagabundo (2004) e eleva sua popularidade com o grupo Pedro Luís e A Parede. Ney volta à vertente musical ainda mais abrilhantado pelo sucesso e o que os críticos menos acreditavam era o poder de superação de Ney: o disco foi elogiado o melhor do ano de 2004, ganhando diversos prêmios e um Ney tímido, retraído e miúdo ganhando ainda mais destaque.
Logo em seguida, Ney brinca com as sonoridades e o pop moderno em Inclassificáveis (2007), um disco bom, divertido, com músicas de compositores novos e talentosos, que vai desde Arnaldo Antunes a Pedro Luís, Marcelo Camelo, Jorge Drexler e regravações de Cazuza, Chico Buarque e Caetano Veloso. Um disco morno, mas que não é de todo ruim, tendo em vista que as músicas são de um alto astral incomparável. Mesmo assim, a luminosidade de Ney Matogrosso estava em alta e ele voltou aos holofotes e aos palcos como um artista capaz de demonstrar seu talento através da dança e nas vestimentas dos tempos de Secos e Molhados.
Mas é com Beijo Bandido Ao Vivo (2010 / EMI / 34,99) que Ney nos surpreende mais uma vez. Mesmo com músicas já batidas, surradas e cantadas por outros cantores à exaustão, o timbre e a musicalidade de Ney não impedem que tais canções sejam regravadas e cantadas numa forma diferente. Ney envolve tanto com este disco, que fica impossível dizer qual faixa é a melhor. Bela interpretação, bela voz, excelente repertório e um figurino impecável, Ney nos deleita com 14 faixas trilhando o caminho do passado, do presente e já pensando num futuro próximo para seu outro trabalho.
Beijo Bandido Ao Vivo, de 2010
Beijo Bandido nos enfeitiça a tal ponto de não abandonarmos o disco. Músicas como Tango pra Tereza, De Cigarro em Cigarro e Segredo, que são do século passado e muito batidas para o dia de hoje, viraram peças fundamentais para o disco, porque Ney sabe interpretar as palavras no seu momento e na sua condição. Bicho de Sete Cabeças II é tão envolvente e cativante que mais parece que o cantor vai nos engolfar a qualquer momento, tamanha a sombriedade musical que nela existe, assim como Incinero, que é uma música rápida, nova na discografia do artista e muito prazerosa de ouvir.
Regravando duas faixas bônus para o disco e que foram temas de duas novelas ao mesmo tempo, Ney não se mostra cansativo quando canta a música Fala, dos tempos de Secos e Molhados nos shows e programas de TV. A Distância, de Roberto e Erasmo Carlos, ficou tão emocionante que mais parece uma prece, uma louvação, assim como Nada Por Mim, de Paula Toller e Herbert Vianna, que mais parece um mantra.
Seja como for, Ney Matogrosso, no auge de seus 70 anos, ainda canta, encanta, vibra, cativa, emociona e se expõe da melhor maneira possível sendo um líder de frente da MPB. E enquanto muitos cantores sessentões ou setentões estão pensando na sua aposentadoria, Ney Matogrosso pensa em apenas uma coisa: cantar.

********Oito Estrelas
Marcelo Teixeira

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