Sambassim, 2002, o primeiro sucesso |
Quando Fernanda Porto surgiu na MPB, fiquei na dúvida se seria ou não uma grande cantora para estar naquele posto, no posto mais alto ou muito próximo do mirante para ser considerada uma grande estrela. Seu primeiro disco, Sambassim (2002, Trama, 22,00) é um bom disco, mas peca pela repetição de frases em várias músicas e pelo eletrônico que a cantora fez questão de abordar em praticamente todo o disco. Mas se levarmos em conta a canção Só tinha que ser com você, podemos pensar que Fernanda é sim uma grande cantora, exceto pelas suas excentricidades eletrônicas que são berrantes e cansativas às vezes. Regravar um grande compositor e uma música que já fora sucesso na voz de Elis Regina para o antológico disco Elis e Tom (1974) não é tarefa das mais fáceis e fazer deste sucesso outro grande sucesso em pleno século vinte e um é ainda mais arriscado para uma artista que está chegando ao mercado fonográfico.
Mas Fernanda Porto apostou e conseguiu emplacar não apenas um, mas diversos sucessos com seu primeiro belo, harmonioso e charmoso disco. Não a classifico apenas como uma cantora de MPB, que tentou salvar a música popular brasileira, mas como uma cantora, acima de qualquer suspeita, de eletrônica. Seja qual for o caminho que Fernanda tenha escolhido, o fato é que após o charme do primeiro disco e o encantamento pelo segundo, a cantora tenha se perdido em seu próprio mundo, ficando a espreita do ostracismo e da negatividade que o sucesso a consagrou.
Lançando em seguida Giramundo (2004, Trama, 32,00), Fernanda deixou Tom Jobim de lado e foi prostrar-se ao lado de outro grande nome da MPB de todos os tempos: Chico Buarque de Hollanda. O cantor fez uma participação em sua própria canção, Roda Viva, gravada nos anos 60 como música de protesto e que ficou ainda mais consagrada na voz de Maria Bethânia. Giramundo é um disco que classifico menos eletrônico e mais pop de Fernanda, mas ainda assim é um disco voltado para a MPB. As escolhas das canções foram importantes para o consagramento de Fernanda e ter ao seu lado Arnaldo Antunes, Lina de Albuquerque e Martha Medeiros foi a principal harmonia do disco, pois praticamente os três conseguiram tirar proveito de um bom disco, com boas canções e boa sonoridade.
Giramundo, 2004, um bom disco |
Em ambos os discos, Sambassim e Giramundo, Fernanda canta bem e consegue captar a sutileza que a música popular brasileira necessitava para o momento. A falta de uma cantora no início do século vinte e um era notória e o estreitamento do pagode e da música brega sertaneja estavam em baixa, deixando espaço livre para novos sons e foi justamente neste ínterim que surge Fernanda Porto, com sua nova sonoridade e seu novo encantamento. Lançou dois discos importantes, gravou seu nome como uma cantora de eletrônica e MPB e não deixou de ser pop por isso.
Mas o que aconteceu com Fernanda após o lançamento de dois grandes discos, para ter que lançar remixes? Bebel Gilberto fez isso uma vez e o resultado foi péssimo. Assim como estragaram com algumas músicas de Elis Regina ao abordar o eletrônico e remixe, Fernanda Porto deixou por um tempo seus sons para angariar outros, se perdendo no fio condutor de uma jornada de sucesso, para cair no marasmo do esquecimento, pois não foi tão bem aceito assim no mercado. Recentemente Gal Costa lançou um disco charmoso de MPB mais voltado à eletrônica (não remixado) e o resultado foi gratificante, novo, divertido e curioso. Mas o que Fernanda Porto fez após lançar Giramundo foi apenas se perder, não encontrar seu caminho e tendo ao seu lado Dj’s que apenas estragaram seu brilhante sucesso.
Lançou discos tão ímpares, díspares e unilaterais que fica impossível dizer que Fernanda lançou antes dois bons discos. Esqueceu de vez a paixão por Chico Buarque e Tom Jobim e enveredou por um caminho próprio (o que não é de todo mal), mas ainda assim, a falta de direcionamento a fez ficar caduca, arcaica e sem noção de espaço. Infelizmente, Fernanda Porto produziu após Giramundo discos tão aquém de sua originalidade, tão fora de um lugar comum de sua personalidade e tão singular que fica difícil lembrarmo-nos de alguma canção realmente merecedora de aplauso nos dias de hoje.
Mesmo assim, Fernanda nos brindou com dois discos importantes para a coleção de qualquer amante da música popular brasileira. E esperemos que um dia ela possa nos servir de bandeja mais uma vez um bom disco, jorrando em nossos ouvidos um bom som e uma boa partitura.
Como eu disse: esperemos.
Marcelo Teixeira
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