Elza Soares passou um bom tempo de sua vida no ostracismo generalizado pela falta de oportunidade das grandes gravadoras em não lhe darem créditos para lançar discos. Elza tem potencial, tem uma voz privilegiada e um dom que poucas cantoras brasileiras têm: o poder de brincar com a própria voz. Os malabarismos que Elza consegue fazer com a voz é fantástico e a ajudou a subir na vida musical, sendo considerada por uma emissora americana nos anos 2000 como a melhor cantora do mundo. Mas aqui no Brasil sua popularidade só é reconhecida por poucas pessoas capazes de diferenciar o certo do errado, o samba do pagode, Paula Fernandes de Inezita Barroso. Elza Soares precisa ter seu lugar de volta no cenário musical, precisa com urgência mostrar sua voz para a nova moçada que está curtindo a música popular brasileira e para deixar claro que seu lugar na MPB será sempre o de destaque.
Do Coccix Até o Pescoço, de 2002: ótimo |
Elza voltou aos holofotes em 2002 com o sensacional disco Do Coccix Até o Pescoço, frase retirada da canção Dor de Cotovelo, muito elogiado pela critica e muito bem recebido pelo público. Com ares pop e uma levada mais festeira, Elza deixa claro que sua marca registrada ainda continuava em alta com sua voz de negra louvada pelos deuses e que sua popularidade continuava entre as melhores do mundo. Reuniu os melhores compositores e chamou os melhores músicos para darem a ela toda a receptividade possível. O resultado é espetacular. A faixa título veio de Caetano Veloso, a quem Elza disse em entrevistas na época que seria grata eternamente, mas a música que realmente estourou foi Dura na Queda, de Chico Buarque, que logo mais tarde o mesmo regravaria em seu belo disco Carioca (2006).
O lançamento do álbum Do Cóccix Até O Pescoço garantiu-lhe uma indicação ao Grammy. O disco recebeu críticas estupendas da imprensa da música e o lance impulsionou numerosas e bem-sucedidas turnês pelo mundo.
Chico Buarque também participou afetivamente do disco, gravando com Elza uma música de Cole Porter e que se transformou em sucesso absoluto, desde o clipe da canção até em telenovela: Façamos é uma deliciosa música adaptada por Carlos Rennó e que mereceu destaque no fechamento do disco. Mas Elza soube aproveitar o momento e chamou todos àqueles que estavam fazendo sucesso no momento para angariar seu destino. De Arnaldo Antunes veio Eu Vou Ficar Aqui, uma canção pop, rica em detalhes e notas musicais e de uma levada maravilhosa, que é impossível ficar parado ao ouvi-la. De Carlinhos Brown veio Etnocopop, música que soa estranha, com uma sonoridade nova e com palavras estranhas, mas vindo de Carlinhos tudo é válido. Fadas, um grande sucesso de Luiz Melodia, ganha uma regravação a altura e Bambino, de José Miguel Wisnik é tão perfeita que fica difícil escolher qual a melhor gravação: a de Elza ou a de Ná Ozzetti no disco Estopim (1999).
Músicas de protestos também estão no disco, como o racismo em A Carne, de Seu Jorge e Marcelo Yuka e Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que ficou densa e longa no disco. Letícia Sabatella, grande atriz, também deu o ar de sua graça cantando a faixa A Cigarra numa perfeição e delicadeza profundamente emocionantes. Elza soube aproveitar o momento do lançamento deste disco e soube, acima de tudo, ser humilde em reconhecer que os dois grandes responsáveis por sua volta ao mercado fonográfico se deram por conta de dois grandes medalhões da MPB: Caetano Veloso e Chico Buarque.
Em 2004, Elza lançou o álbum Vivo Feliz. Não tão bem-sucedido em vendas quanto suas obras anteriores, o álbum continuou a executar o tema de fazer um mix de samba e bossa com música eletrônica e efeitos modernos. O álbum apresentou colaborações de artistas inovadores como Fred Zero Quatro e Zé Keti.
Em 2007, nos Jogos Pan-americanos do Brasil, Elza interpretou o Hino Nacional Brasileiro, no início da cerimônia de abertura do evento, no Maracanã. E lançou o álbum Beba-me e neste disco Elza gravou as músicas que marcaram sua carreira.
Esse é um dos motivos pelos quais o artigo de hoje do Mais Cultura! homenageia Elza Soares e este disco tão grandioso tanto na carreira dela quanto para amantes da boa música popular brasileira. Um disco que não pode ser esquecido nem comentado como qualquer lançamento anual. É um disco a altura de uma grande cantora, de uma grande mulher, de uma grande dama, de uma grande Elza Soares.
********Oito Estrelas
Marcelo Teixeira.
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