sexta-feira, 17 de maio de 2013

O mediano (e cansativo) disco de estreia de Maria Gadú


O CD: cansativo às vezes
A estreia da paulista radicada no Rio de Janeiro Maria Gadú não poderia ser mais luxuosa. Era preciso conhecermos uma grande cantora, que estivesse antenada com o seu tempo, mas também relembrando sucessos antigos. Maria Gadú foi uma promessa que deu certo no primeiro disco, pois sua cultura musical era imensa e repleta de suspense, pois até então, ninguém sabia seus gostos prediletos. Com o tempo, descobriu-se que Caetano Veloso era seu cantor preferido, Ana Carolina se tornou a melhor amiga e Maria Gadú continuou trilhando seu universo musical brilhantemente. Seu primeiro CD, autointitulado e lançado pela Som Livre em 2009, tem apresentação belíssima, com direito a capa dura, encarte colorido com letras, informações e inúmeras fotos.

A embalagem é diferenciada, em formato digipack que sai do padrão, digno das grandes estrelas. Além disso, amúsica, Shimbalaiê, estava em trilha de novela global e, curiosamente, praticamente todas as faixas tocavam nas rádios de todo o Brasil, inclusive o grande sucesso francês Ne Me Quitte Pas, imortalizada na voz de Edith Piaf, já cantada por Cássia Eller e Maysa.

Gadú, cujo nome de batismo é Mayra, tem um bonito timbre vocal, sem sombra de dúvidas. Existe uma semelhança com o som de Marisa Monte, sim, e isso se ressalta devido à sonoridade que a moça segue, que tem muito a ver com o estilo MPB pop da autora da estrela carioca. O clima fica ainda mais próximo devido ao uso de músicos de estúdio de ótimo gabarito, mas que acabaram por ajudar o disco a soar meio pasteurizado, semelhante demais ao que se tem feito no que se rotulou de nova MPB, e que frequentemente cai em um clima redundante e soporífero demais.

Oito das treze faixas incluídas em Maria Gadú, o CD, são de autoria da própria, e ela se mostra ainda em busca de uma assinatura própria, com repetição de frases melódicas e letras que investem mais em forma do que em conteúdo. Nas releituras, mostra-se mais à vontade, mas pouco acrescenta a clássicos como Ne Me Quitte Pas (de Jacques Brel) e A História de Lilly Braun (de Chico Buarque e Edu Lobo) em relação a gravações de outros artistas. O pior momento é a faixa que encerra o disco. Gadú tenta dar a Baba, aquela mesma de Kelly Key, um clima acústico descolado, e só consegue evidenciar o quanto essa música é fraca.

Muita gente deve ter ouvido Shimbalaiê (e depois se cansar com ela) e achado se tratar de uma nova de Marisa Monte, devido a sonoridade. Teve pessoas que juravam que a letra era de Marisa, assim como achavam que Altar Particular, um samba cadenciado, era uma parceria de Paulinho da Viola com Tereza Cristina. Creio que Maria Gadú tem futuro, apesar de tudo, apenas dos pormenores. Maria Gadú canta mais ou menos, mas o disco de estreia é legalzinho, não chega a ser ótimo, mas pode ser que ela sofra da mesma síndrome de outra cantora talentosa, Ana Cañas: faz bons shows, mas não consegue trazer esse clima para seus discos de estúdio. Vejamos o que o futuro irá proporcionar a elas. Tomara que algo melhore.

Escudos é a melhor faixa, assim como a delicada Linda Rosa. Tudo Diferente se torna cansativa e arrastada demais, chega a ser tão irritante, que prefiro nem ouvi-la, mas isso deve-se ao tempo que a canção leva com repetidas frases e a mesmice de sua mensagem. Laranja, cantada em parceria com Leandro Léo, é uma canção engraçada e Lounge parece ser feita por Ana Carolina, tamanha a semelhança. Seja como for, Maria Gadú canta bem, com sua voz meio rouca, meio masculinizada e isso por vezes soa satisfatório.

Maria Gadú tenta, através do CD de estreia, demonstrar tudo: boa música, boa voz, boas letras, arranjos sensacionais, mas esqueceu-se de que a música carece de muito mais do que tudo isso: o público fiel. Angariou diversas pessoas ao seu leque, cantou de Chico Buarque a Caetano em seus shows, mas a sua maior plateia é o público GLS, que lotam seus espetáculos. Maria Gadú é um disco gostoso de ouvir, mas apenas algumas vezes. Logo o mais, você o guarda na estante e só o descobre quando passa por ali despercebido. Pensa se ouve, pensa mais um pouco, e escuta uma faixa, pula a outra. Maria Gadú é assim: ainda encontrando sua identidade. Mas para um disco de estreia, patrocinada por uma grande empresa televisiva, tendo amigos diretores de telenovela como ajudantes centrais, fica muito mais fácil fazer um disco com pitadas de qualquer coisa. Só acho que Maria Gadú poderia ser melhor. Como? Cantando as suas verdades. Apenas as verdades.

 

Maria Gadú - Maria Gadú

Nota 7

Marcelo Teixeira

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