O CD: bem caprichado |
Virgínia Rosa é, sem dúvidas, uma
das maiores cantoras deste país. Como bem disse uma vez o jornalista Donizete
Costa, no Brasil existem três rosas: a Passos, a Colin e a Virgínia. E isso é
comprovado no excelente disco Samba a Dois, seu terceiro disco de carreira.
Lançado pela Eldorado em parceria com a Distribuidora Independente, Virgínia
passei por ritmos bem brasileiros e escolheu a dedo os melhores compositores
para cantá-los com sofisticação, dando uma nova releitura para músicas como As Rosas Não Falam, do mestre Cartola. A
multiplicidade de seu canto vem da escola de Virgínia, que foi vocalista na
banda de Itamar Assumpção. Em seu caminho solo sempre primou pelo bom gosto
musical e coloca seu vozeirão a serviço de grandes obras. Longe do marasmo
óbvio das regravações, Virgínia pesquisa seu repertório com afinco e desenvolve
com sua personalidade forte e marcante.
Em
Samba a Dois, Virgínia da uma nova fardagem para o clássico
e até incursões pelo samba de compositores como Bebel Gilberto, Marcelo Camelo,
Orlando Moraes e Celso Fonseca. Mas também apresenta os novos nomes de Luísa
Maita e Tito Pinheiro. De Luísa, que já teve músicas gravadas por Mariana
Aydar, Virgínia escolheu duas músicas: Madrugada
e Amado samba. Da obra de Tito Pinheiro
escolheu Sereno.
O
disco abre com a faixa-título, composição de Marcelo Camelo apresentada como um
samba atual e a versão de Virgínia segue um caminho diferente das cantadas por
Marcelo Camelo, seu criador, que a deixa com ares melancólicos ou por Fernanda
Porto, que ridicularizou a canção com suas incursões eletrônicas. Virgínia mostra
a versatilidade da ótima canção.
Ares
da bossa nova, os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle aparecem com a contagiante
quebrada Que bandeira, em uma ótima
releitura. Filhos da bossa, Celso Fonseca é representado com Meu samba torto e Bebel Gilberto em O caminho, já gravado no segundo álbum
internacional da cantora.
A
bem sucedida parceria com o músico Dino Barioni, cujo já trabalharam juntos no
excepcional CD A Voz do Coração Ao Vivo, responsável pelos
arranjos, é outro ponto a favor de Virgínia. As rosas não falam ganha um acompanhamento único, flertando com um
tango argentino. Cartola dança com a dama pelo salão com desenvoltura
acompanhado pelo acordeon de Lula Alencar, ficando impossível ficar parado.
Entre os mestres do samba ainda colheu Quero
estar só (Candeia, Wilson Moreira e Selma Candeia) e Voltei (Baden Powell e Paulo César Pinheiro). Apresentada como
faixa-bônus no final do CD, Virgínia mostra sensibilidade em Sonho e saudade, composição de Tito Madi
gravado pela cantora para a trilha sonora do filme Bens confiscados.
Apesar
do título, Samba a Dois vai além e se junta com fados, tangos e outras
praias. Mas sempre com o sangue quente do bom samba e a cadência da voz da
paulista. Criada nos palcos da vanguarda, Virgínia Rosa tem jogo de cintura
para brincar com a música sem se impor limites. Conhece bem sua praia e sabe o
que lhe cai bem. Seu canto maduro e sua veia de artista fazem desse Samba a Dois
um trabalho digno das grandes cantoras da música brasileira.
Samba
a Dois – Virgínia Rosa
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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