quinta-feira, 23 de maio de 2013

A riqueza maior de Jussara Silveira


Ame Jussara Silveira
Jussara Silveira traz a sua energia artística no desenho musical que sucede do canto valioso e límpido, caprichada pronúncia, timbre suave e feminino, repertório impecável, sutilezas cênicas de quem finge que não sabe que é uma rainha. Uma simplicidade que comove porque atesta ainda mais a sua grandeza. Cuidados estéticos com o figurino e a beleza natural que carrega em si na sua condição de mulher. Faz tempo que planejava escrever sobre Jussara, mas faltavam-me argumentos e o medo de errar ao contempla-la seria trágico. Mas ao ouvir o novo disco da cantora, pude sentar diante o note e escrever algo. Ou melhor, tentar. Escandalosamente: pura emoção. Como está cantando Jussara Silveira! Como se anuncia e se orquestra o talento e a dignidade da dama dos teatros e das eletrolas mais exigentes deste país! Jussara Silveira é uma cantora de teatro, uma anfitriã digna dos melhores shows e sua pele clara como nuvem nos emociona apenas pelo olhar.

É de fazer chorar o novo disco, intitulado Ame ou Se Mande. Costuras exatas na fala e no canto exprimindo poesia e realces da cultura amorosa entre os humanos. Querer envelhecer, fazer contato imediato, amar uma filha de Oxum, morar em Marte, não sair da Bahia, dançar um Semba, tocar piano misturado à percussão. O vestido de sereia no prata da deusa Iemanjá, no chumbo de Oxalá, para a voz da filha de Odé.

Jussara nasceu em Minas Gerais, mas foi criada na Bahia e dai nasceu o encanto pelos santos e orixás e por Dorival Caymmi. Ame ou Se Mande é o sexto disco de Jussara Silveira que o selo Joia Moderna, de Zé Pedro, lançou no início de outubro de 2011. Feito em parceria com Sacha Amback e Marcelo Costa, o CD traz composições de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos (A Voz do Coração), Cezar Mendes e Capinam (Ifá), André Carvalho e Quinho (Bom), Toni Costa e Luiz Ariston (O Dia que Passou), Roberto Mendes e J. Velloso (Doce Esperança) e até mesmo um poema de Fernando Pessoa musicado por Zé Miguel Wisnik (Tenho Dó das Estrelas).

Destaque também para as regravações de Babylon (Zeca Baleiro), Contato Imediato (Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown/Marisa Monte), Dê um Rolê (Moraes Moreira/Luiz Galvão), Marcianita (José Imperatore Marcone/Galvarino Villota Alderete) e Madre Deus (Caetano Veloso).

Foram quatro anos desde os lançamentos de Nobreza (em parceria com Luiz Brasil) e Entre o Amor e o Mar, que Jussara ocupou desenvolvendo projetos paralelos como o DVD Três Meninas do Brasil, gravado ao lado de Rita Ribeiro e Teresa Cristina, o show Viagem de Verão com André Mehmari e Arthur Nestrovski incluindo canções de Schubert a Caymmi, além de colaborar na trilha sonora do espetáculo Sem Mim do Grupo Corpo, junto com Zé Miguel Wisnik e Carlos Nuñes.

Ame ou Se Mande foi gravado em maio de 2011 nos estúdios Zega Music e Yahoo/BR Plus, no Rio de Janeiro. A direção é de Sacha Amback e Marcelo Costa. A distribuição nacional é feita pela Tratore.

O CD é espetacular. Há dois anos não parei mais de ouvi-lo. Voz, música, letras, arranjos: casamento perfeito. Se existe tudo isso junto, podem acreditar que está tudo aqui, no disco de Jussara. Para muito mais além da alma: ouvir Jussara Silveira é se permitir à raridade de uma cantora imprescindível para os ouvidos de quem não vive sem Música Popular Brasileira.

 

Ame ou se Mande – Jussara Silveira

Nota 10

Marcelo Teixeira

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