A mansidão de um recanto escuro |
O que poderia ser um disco de
mesmices, transformou-se em um dos mais belos discos ao vivo da carreira de Gal
Costa, que coleciona inúmeros álbuns neste formato, desde homenagens à Tom
Jobim como gravando os maiores sucessos. Recanto, disco que saiu
no finalzinho de 2011, foi um estranhamento a primeira audição, mas que foi
entrando em nossos poros a cada música sentida. Se foi experimentalismo ou
inovação, como eu enfatizei no texto, não importa mais. O disco Recanto é um primor e alça mais uma vez, graças às mãos de
Caetano Veloso, que fez com que Gal Costa saísse do marasmo de canções ora
tropicalientes, ora bossa novista e/ou canções regravadas. O acerto foi
tamanho, que o publico mais jovem passaram a ver Gal Costa com mais brasilidade
e ao mesmo tempo, passaram a ouvi-la com mais intensidade.
Recanto Gal Ao Vivo por
si só já valeria as canções originais do original, pois são de um brilhantismo
maravilhoso ouvir músicas como Miami
Maculelê e Tudo Dói, mas a
direção assinada por Caetano Veloso preferiu inserir canções que fizeram
sucesso na voz de Gal em cada etapa de sua vida, fazendo, assim, uma nova
roupagem para músicas como Folhetim,
Modinha para Gabriela, Baby e Vapor
Barato. Destaque para Barato Total,
que ficou bacanérrima.
Exceto
Folhetim (Chico Buarque), Barato Total (Gilberto Gil), Deus é o Amor (Jorge Bem), Vapor Barato (Jards Macalé / Waly
Salomão), Um Dia de Domingo (Michael
Sullivan / Paulo Massadas) e Modinha para
Gabriela (Dorival Caymmi) o resto do repertório é de autoria de Caetano
Veloso sozinho ou acompanhado, caso de Divino
Maravilhoso, que foi feita em parceria com Gilberto Gil.
Geralmente,
as grandes músicas, os grandes sucessos, quando vem embalada de novos sons,
nova sonoridade e novo arranjo, tendem a mascarar as músicas que estão sendo
trabalhadas ultimamente e aqui em Recanto Ao Vivo não é o que acontece.
Grande sacada colocarem Baby
(cantadíssima até hoje dentro e fora do país) e que foi acoplada com o mega
sucesso dos anos 70, Diana, como
música incidental. Outra grande sacada
foi não estender as canções antigas, talvez para não abafar e soterrar as
novas; sendo assim, Modinha para
Gabriela, Meu Bem Meu Mal e algumas outras do passado glorioso de Gal,
tiveram tempos curtos no álbum ao vivo.
A
homenagem à Tim Maia fica por conta de Um
Dia de Domingo, cantada na primeira parte por Gal e na segunda por uma Gal
imitando, engraçadamente, a voz de Tim Maia. O público vai à loucura e ri e
canta e aplaude, tudo isso num misto de encantamento.
Gal
está leve no show e isso fez com que o CD saísse praticamente perfeito. Sua
dramaticidade, suas emoções, sua voz, sua música, tudo se encaixou
perfeitamente no recanto escuro que se tornou o Teathro Net Rio.
Em
comum, Recanto traz o desejo de
transgredir, de ir além, e mostra as várias
Gals que pontuam uma carreira prestes a completar meio século de estrada.
Além da voz límpida e do repertório que mescla composições inéditas com
clássicos da MPB, todos devidamente reembalados para o século 21, o êxito do
novo álbum também deve muito ao clima familiar dos bastidores e do visto em
cena.
Por
isso Recanto Gal Ao Vivo tem tudo para ser o
melhor CD de 2013.
Recanto Ao Vivo – Gal
Costa
Nota 10
Marcelo Teixeira
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