terça-feira, 14 de maio de 2013

O Recanto de Gal Costa


A mansidão de um recanto escuro
O que poderia ser um disco de mesmices, transformou-se em um dos mais belos discos ao vivo da carreira de Gal Costa, que coleciona inúmeros álbuns neste formato, desde homenagens à Tom Jobim como gravando os maiores sucessos. Recanto, disco que saiu no finalzinho de 2011, foi um estranhamento a primeira audição, mas que foi entrando em nossos poros a cada música sentida. Se foi experimentalismo ou inovação, como eu enfatizei no texto, não importa mais. O disco Recanto é um primor e alça mais uma vez, graças às mãos de Caetano Veloso, que fez com que Gal Costa saísse do marasmo de canções ora tropicalientes, ora bossa novista e/ou canções regravadas. O acerto foi tamanho, que o publico mais jovem passaram a ver Gal Costa com mais brasilidade e ao mesmo tempo, passaram a ouvi-la com mais intensidade.

Recanto Gal Ao Vivo por si só já valeria as canções originais do original, pois são de um brilhantismo maravilhoso ouvir músicas como Miami Maculelê e Tudo Dói, mas a direção assinada por Caetano Veloso preferiu inserir canções que fizeram sucesso na voz de Gal em cada etapa de sua vida, fazendo, assim, uma nova roupagem para músicas como Folhetim, Modinha para Gabriela, Baby e Vapor Barato. Destaque para Barato Total, que ficou bacanérrima.

Exceto Folhetim (Chico Buarque), Barato Total (Gilberto Gil), Deus é o Amor (Jorge Bem), Vapor Barato (Jards Macalé / Waly Salomão), Um Dia de Domingo (Michael Sullivan / Paulo Massadas) e Modinha para Gabriela (Dorival Caymmi) o resto do repertório é de autoria de Caetano Veloso sozinho ou acompanhado, caso de Divino Maravilhoso, que foi feita em parceria com Gilberto Gil.

Geralmente, as grandes músicas, os grandes sucessos, quando vem embalada de novos sons, nova sonoridade e novo arranjo, tendem a mascarar as músicas que estão sendo trabalhadas ultimamente e aqui em Recanto Ao Vivo não é o que acontece. Grande sacada colocarem Baby (cantadíssima até hoje dentro e fora do país) e que foi acoplada com o mega sucesso dos anos 70, Diana, como música incidental.  Outra grande sacada foi não estender as canções antigas, talvez para não abafar e soterrar as novas; sendo assim, Modinha para Gabriela, Meu Bem Meu Mal e algumas outras do passado glorioso de Gal, tiveram tempos curtos no álbum ao vivo.

A homenagem à Tim Maia fica por conta de Um Dia de Domingo, cantada na primeira parte por Gal e na segunda por uma Gal imitando, engraçadamente, a voz de Tim Maia. O público vai à loucura e ri e canta e aplaude, tudo isso num misto de encantamento.

Gal está leve no show e isso fez com que o CD saísse praticamente perfeito. Sua dramaticidade, suas emoções, sua voz, sua música, tudo se encaixou perfeitamente no recanto escuro que se tornou o Teathro Net Rio.

Em comum, Recanto traz o desejo de transgredir, de ir além, e mostra as várias Gals que pontuam uma carreira prestes a completar meio século de estrada. Além da voz límpida e do repertório que mescla composições inéditas com clássicos da MPB, todos devidamente reembalados para o século 21, o êxito do novo álbum também deve muito ao clima familiar dos bastidores e do visto em cena.

Por isso Recanto Gal Ao Vivo tem tudo para ser o melhor CD de 2013.

 

Recanto Ao Vivo – Gal Costa

Nota 10

Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: