Blubell e o ar retrô do telefone |
Sempre tive uma adoração às cantoras
desconhecidas ou que o grande público não tem tanto apreço ou conhecimento ou
segmento ou qualquer coisa que o valha. Sempre tive preconceito com relação a
onomatopeias na música, que são aquelas sílabas repetidas, sem sentido algum,
que só fazem a música ruim grudar na cabeça e fazer a gente cantarolar por aí
mesmo sem gostar. E há inúmeros exemplos, de lele, tchetche e tchucha, lek lek
lek. Porém, as coisas mudam. Os artigos mudam dependendo da cantora ou do
cantor resenhado. Essa minha concepção engessada mudou completamente quando
ouvi a música Chalala. O que
significa chalala? Nada. Não tem significado algum. Nada vezes nada, mas posso
garantir que é muito melhor que lelé, tchetche e tchucha e lek lek lek.
Mais
uma rima sem sentido, mas que fez com que eu me desse conta das múltiplas
formas de expressão da música. E de como este cenário independente brasileiro e
por demais de bom como cantoras que pensam e pensam no melhor da música, não
importando se ficaremos na deliciosa chalala
ou nas delícias provocadas por sua voz.
Seu
nome é Blubell, uma cantora fofa de nariz arrebitado e voz fina. O nome do seu
segundo disco, lançado em 2011, é Eu sou do tempo em que a gente se
telefonava. Meio vintage, não? E como amo tudo o que é vintage, comecei
amando o disco já na capa. O ar retrô do álbum se confirma na primeira música,
chamada (simplesmente) Música. O som
parece vir de um vinil nos versos Então
saia do sofá e se toca porque nós somos a música.
A
segunda canção do disco é a minha preferida: Chalala, claro. Ela tem clipe, inspirado nos cartazes de clipes de
Bob Dylan. Tudo bem. Não é vergonha nenhuma copiar o Dylan, não é? Já a
terceira música, 1, 2, 3, 5, tem a
participação de Baby do Brasil, a musa dos Novos Baianos, cantando
maravilhosamente sem a presença do divino.
Não
há como classificar o disco em um gênero, assim como toda boa música. Há um
toque de tudo: jazz, pop, MPB, folk. Entre as influências da cantora estão
Frank Sinatra, George Gershwin, Chet Baker, Abbey Lincoln e Anita O’Day:
cantores internacionais, sim, mas com clima brasileiro e isso faz toda a
diferença.
Das
11 músicas do disco, Blubell escreveu todos. Três são parcerias. A produção
fica por conta de Maurício Tagliari, que também produziu o disco Azul e Vermelho, de Nina Becker, e Cristalina,
de Lulina. Com produções magistrais, o resultado de Eu sou do tempo em
que a gente se telefonava não poderia ser melhor.
É
um disco espetacular.
Eu
Sou do Tempo em que a Gente se Telefonava / Blubell
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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