Ruídos e gritos de Tulipa |
Contrariando a multiplicidade de frases inesquecíveis que recheiam o mais novo disco de Tulipa Ruiz, Tudo Tanto (2012 / YB/Natura / 32,99), o intervalo que melhor represente a atual fase da cantora se oculta no interior de Expectativa. Oitava composição do novo disco, a música traz na passagem Na expectativa de que o inesquecível aconteça/ Na confiança de que o imprevisível permaneça um reflexo óbvio da constante pressão que a cantora teve de enfrentar ao longo dos últimos dois anos. Ao transformar Efêmera (2010) em um clássico imediato da nova (e velha) MPB, tornava-se explícito o esforço que a artista teria de aplicar para dar continuidade a essa obra, resultado que ela entrega agora, contrariando, cumprindo e até surpreendendo incontáveis expectativas.
Naturalmente contrário ao primeiro álbum da cantora, em Tudo Tanto a constante primordial é a evolução e a necessidade de provar novas tendências. Enquanto as guitarras do pai Luiz Chagas se desprendem da timidez de outrora, embarcando em uma estrutura meio experimental, meio pop-tropicalista, a voz de Tulipa ganha um espaço ainda mais amplo do que o arranjado no disco passado. Dentro desse constante embate entre a voz e os acordes, a aproximação da dupla resulta em uma variedade de novos clássicos imediatos. Faixas como a esquizofrênica Like This e Quando Eu Achar em que o encontro familiar – completo com a presença do irmão e produtor Gustavo Ruiz – mais uma vez deixa transbordar o colorido do trabalho de Tulipa, agora acompanhado de pequenos tons de cinza.
Quem esperava por um registro que reproduzisse o mesmo pop florestal do disco anterior, talvez se impressione com a descontrolada massa de ruídos que proliferam ao executar da obra. Distante dos realces melancólicos que definiram músicas como A ordem das árvores ou Só sei dançar com você, em novo projeto as guitarras e a natural aproximação com o rock da década de 1970 modificam consideravelmente os rumos da cantora – Tulipa agora se entrega à agressividade. Transitando intensa entre a fase áurea dos Novos Baianos (pela instrumentação) e Gal Costa em suas melhores interpretações da obra de Caetano Veloso (pelos vocais e letras), Ruiz rompe com a persona de boa moça, rasgando vozes, versos e tornando públicos diversas desilusões particulares que agora entusiasmam de forma homogênea todo o projeto.
Tudo Tanto – Tulipa Ruiz
Nota 8
Marcelo Teixeira
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