Existe hoje um grande artefato em volta do
pagodeiro Thiaguinho, que recentemente se desligou do grupo de pagode
Exaltasamba, desfazendo um dos mais importantes grupos do movimento desde o
início da era pogodista e o último dos moicanos sobreviventes da chacina
musical que persistiu em durar, por mais de vinte anos de estrada. Se bem que
na última arquitetura do grupo, as músicas e até mesmo o carisma dos pagodeiros
estavam em alta e eu mesmo cantarolava algumas de suas canções, mas esses
entusiasmos eram motivados por Péricles e o novato Thiaguinho, que viria
abrilhantar o grupo. Evidentemente que a visão de Thiguinho seria futuramente
abandonar o barco e seguir em carreira solo, como fizeram inúmeros cantores da área
(não só de pagode, como do rock, do axé e até de grupos importantes, como a
Paula Lima, que saiu do maravilhoso Funk Como Le Gusta e hoje quase não se ouve
falar sobre a banda).
Mas
me chama a atenção alguns aspectos da volta
por cima de Thiaguinho (sim, volta por cima porque muitos acharam que ele
não iria se dar bem na carreira solo) e em sua musicalidade também. Que Thiago
é uma revelação musical, disso não se pode discordar, mas o que quero ressaltar
neste artigo não é a brilhante carreira que ele fizera quando estava preso e
algemado ao grupo, mas sim agora, com o disco Ousadia & Alegria,
lançado agora em 2012.
O
título do disco não poderia ser a melhor resposta para aqueles que lhe torceram
o nariz, torceram contra e ainda estão falando mal do artista, mas não vejo por
este lado esta tal ousadia que o cantor insiste em mostrar. Aliás, não consigo
enxergar aonde está a ousadia de Thiaguinho ao lançar este disco e nas linhas
abaixo eu tentarei explicar que pode ter muita alegria, puro entusiasmo, muita
adrenalina, mas pouca ou nada ousadia. Alegria, sim. Ousadia, não!
O nosso lema é ousadia e alegria
A nossa cara é pagode todo dia
Cheio de estilo na pressão eu vou com tudo
Só espalhando ousadia pelo mundo
Lê lêlê lêlê lêlê
Ousadia para vencer
Lê lêlê lêlê lêlê
Alegria para viver
Trecho de Ousadia e Alegria, de Thiaguinho
A
primeira ousadia (e talvez a única retratada no disco) de Thiaguinho, tenha
sido a sua saída do grupo Exaltasamba. Mais nada. Nenhuma outra ousadia mais
ousada (num trocadilho perfeito para este momento), foi mais eloquente e mais
soberano para um artista que ainda pode crescer com seu talento e sua
espontaneidade. Ousadia esta que pode também lhe custar muito caro, pois o
primeiro álbum é um verdadeiro sinônimo de festa pelas vendagens e pela
receptividade do publico, mas isso poderá não acontecer com o próximo disco.
Talvez
a segunda ousadia de Thiaguinho seja mostrar logo de cara um disco totalmente ao vivo, geralmente destinado à grandes
cantores que depois de um certo tempo de estrada lançam discos com plateias
gigantes e com aberturas novas. Thiago já ousou ao lançar no mercado
fonográfico um disco ao vivo e com músicas inéditas, feito raro a um artista
que inicia sua carreira solo.
Mas
o disco em si é um grude! Algumas faixas deveriam ser extintas e outras merecem
até mesmo um pequeno troféu pela letra e pelo passaporte do artista. Thiaguinho
tenta se esforçar para cantar bem em algumas faixas, mas o que acontece é um
festival de horror ao ver seu lábio superior fazendo malabarismos igualmente
quando Caetano Veloso canta. Chamar o jogador Neymar para cantar talvez seja a pior parte do disco.
Thiaguinho
foi esperto ao lançar seu disco solo. Para obter um ótimo resultado e altas
vendagens e não ver seu publico indo pousar noutro lugar, a estratégia foi
abusar (ou ousar). Chamou os maiores artistas, como Gilberto Gil e Ivete
Sangalo, convidou Luísa Possi, cantora que consegue exprimir um certo carisma
entre os adolescentes e amantes da nova MPB, convidou Alexandre Pires, que tem
um certo nome e respeito no mercado internacional e se veste ora como um
moleque travesso, ora como um novo expoente da música negra, ora como um
emergente do capitalismo que conseguiu ingressar, ora como um suburbano, de
poucas palavras e muitos gestos.
O
disco ainda conta com uma gigantesca trupe de músicos e com um coral de dar
inveja a qualquer concerto: são eles, por muitas vezes, os responsáveis pelo apoio que Thiaguinho precisa e acho que
será muito improvável que um dia eles venham a se desvencilhar. Tudo isso prova
que Thiaguinho ainda não está preparado para seguir uma carreira solo, tendo de
enfrentar as dificuldades que todo grande artista sofre ao se desligar de um
grupo de puro sucesso. Thiago não sobreviveria acaso lançasse um disco de
estúdio, sem convidados extraordinários e sem orquestra e jogador de futebol.
Thiago não teria suporte emocional para entrar em um palco sozinho. E tudo foi
pensado para que ele se sentisse como um integrante de qualquer grupo de pagode
às suas costas e ele ainda fosse o líder.
Observando
o disco atentamente e assistindo ao DVD do mesmo, pude constatar que Thiaguinho
ainda precisa calejar muito para conseguir almejar o verdadeiro estrelato e
conseguir uma nota digna de seu próprio sucesso. Ainda o sinto como um
integrante do mesmo grupo de pagode que o adotou e não o sinto preparado,
pronto, ágil, esperto, capaz de seguir carreira solo sem um corpo de coral, sem
um convidado especial, sem uma grande estrela para estar ao seu lado.
Thiaguinho ainda precisa ousar mais, porque alegria ele tem de sobra.
Por
enquanto, a ousadia de Thiaguinho não vingou. A alegria, sim.
Faixas
1-
Leite Condensado
2-
Buquê De Flores
3-
Ousadia & Alegria Part. Esp.: Neymar
4-
Lero Lero - Part. Espec. Alexandre Pires
5-
Desencana
6 -
Puxando
7-
Sou O Cara Pra Você
8-
Até Ver Você (Hahaha)
9-
Muleke Conquista
10-
O Poder Do Pretinho - Part Espec. Ivete Sangalo
11-
Antes De Dizer Adeus
12 -
Simples Desejo - Part Espec. Gilberto Gil
13-
Ainda Bem
14-
Vai, Novinha
15-
Deixa Eu Te Fazer Feliz
16-
Eu Quero É Ser Feliz
17-
Tomara
18-
Motel
19-
Robin Hood Da Paixão
20-
Eternamente Feliz
21-
Deixa Pra Mim
Ousadia & Alegria /
Thiaguinho
Nota 5
Marcelo Teixeira
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