quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Aonde está a ousadia de Thiaguinho?


 

Existe hoje um grande artefato em volta do pagodeiro Thiaguinho, que recentemente se desligou do grupo de pagode Exaltasamba, desfazendo um dos mais importantes grupos do movimento desde o início da era pogodista e o último dos moicanos sobreviventes da chacina musical que persistiu em durar, por mais de vinte anos de estrada. Se bem que na última arquitetura do grupo, as músicas e até mesmo o carisma dos pagodeiros estavam em alta e eu mesmo cantarolava algumas de suas canções, mas esses entusiasmos eram motivados por Péricles e o novato Thiaguinho, que viria abrilhantar o grupo. Evidentemente que a visão de Thiguinho seria futuramente abandonar o barco e seguir em carreira solo, como fizeram inúmeros cantores da área (não só de pagode, como do rock, do axé e até de grupos importantes, como a Paula Lima, que saiu do maravilhoso Funk Como Le Gusta e hoje quase não se ouve falar sobre a banda).

Mas me chama a atenção alguns aspectos da volta por cima de Thiaguinho (sim, volta por cima porque muitos acharam que ele não iria se dar bem na carreira solo) e em sua musicalidade também. Que Thiago é uma revelação musical, disso não se pode discordar, mas o que quero ressaltar neste artigo não é a brilhante carreira que ele fizera quando estava preso e algemado ao grupo, mas sim agora, com o disco Ousadia & Alegria, lançado agora em 2012.

O título do disco não poderia ser a melhor resposta para aqueles que lhe torceram o nariz, torceram contra e ainda estão falando mal do artista, mas não vejo por este lado esta tal ousadia que o cantor insiste em mostrar. Aliás, não consigo enxergar aonde está a ousadia de Thiaguinho ao lançar este disco e nas linhas abaixo eu tentarei explicar que pode ter muita alegria, puro entusiasmo, muita adrenalina, mas pouca ou nada ousadia. Alegria, sim. Ousadia, não!

 

O nosso lema é ousadia e alegria

 A nossa cara é pagode todo dia

 Cheio de estilo na pressão eu vou com tudo

 Só espalhando ousadia pelo mundo

Lê lêlê lêlê lêlê

Ousadia para vencer

 Lê lêlê lêlê lêlê

 Alegria para viver

Trecho de Ousadia e Alegria, de Thiaguinho

 

A primeira ousadia (e talvez a única retratada no disco) de Thiaguinho, tenha sido a sua saída do grupo Exaltasamba. Mais nada. Nenhuma outra ousadia mais ousada (num trocadilho perfeito para este momento), foi mais eloquente e mais soberano para um artista que ainda pode crescer com seu talento e sua espontaneidade. Ousadia esta que pode também lhe custar muito caro, pois o primeiro álbum é um verdadeiro sinônimo de festa pelas vendagens e pela receptividade do publico, mas isso poderá não acontecer com o próximo disco.

Talvez a segunda ousadia de Thiaguinho seja mostrar logo de cara um disco totalmente ao vivo, geralmente destinado à grandes cantores que depois de um certo tempo de estrada lançam discos com plateias gigantes e com aberturas novas. Thiago já ousou ao lançar no mercado fonográfico um disco ao vivo e com músicas inéditas, feito raro a um artista que inicia sua carreira solo.

Mas o disco em si é um grude! Algumas faixas deveriam ser extintas e outras merecem até mesmo um pequeno troféu pela letra e pelo passaporte do artista. Thiaguinho tenta se esforçar para cantar bem em algumas faixas, mas o que acontece é um festival de horror ao ver seu lábio superior fazendo malabarismos igualmente quando Caetano Veloso canta. Chamar o jogador Neymar para cantar talvez seja a pior parte do disco.

Thiaguinho foi esperto ao lançar seu disco solo. Para obter um ótimo resultado e altas vendagens e não ver seu publico indo pousar noutro lugar, a estratégia foi abusar (ou ousar). Chamou os maiores artistas, como Gilberto Gil e Ivete Sangalo, convidou Luísa Possi, cantora que consegue exprimir um certo carisma entre os adolescentes e amantes da nova MPB, convidou Alexandre Pires, que tem um certo nome e respeito no mercado internacional e se veste ora como um moleque travesso, ora como um novo expoente da música negra, ora como um emergente do capitalismo que conseguiu ingressar, ora como um suburbano, de poucas palavras e muitos gestos.

 
O disco ainda conta com uma gigantesca trupe de músicos e com um coral de dar inveja a qualquer concerto: são eles, por muitas vezes, os responsáveis pelo apoio que Thiaguinho precisa e acho que será muito improvável que um dia eles venham a se desvencilhar. Tudo isso prova que Thiaguinho ainda não está preparado para seguir uma carreira solo, tendo de enfrentar as dificuldades que todo grande artista sofre ao se desligar de um grupo de puro sucesso. Thiago não sobreviveria acaso lançasse um disco de estúdio, sem convidados extraordinários e sem orquestra e jogador de futebol. Thiago não teria suporte emocional para entrar em um palco sozinho. E tudo foi pensado para que ele se sentisse como um integrante de qualquer grupo de pagode às suas costas e ele ainda fosse o líder.

Observando o disco atentamente e assistindo ao DVD do mesmo, pude constatar que Thiaguinho ainda precisa calejar muito para conseguir almejar o verdadeiro estrelato e conseguir uma nota digna de seu próprio sucesso. Ainda o sinto como um integrante do mesmo grupo de pagode que o adotou e não o sinto preparado, pronto, ágil, esperto, capaz de seguir carreira solo sem um corpo de coral, sem um convidado especial, sem uma grande estrela para estar ao seu lado. Thiaguinho ainda precisa ousar mais, porque alegria ele tem de sobra.

Por enquanto, a ousadia de Thiaguinho não vingou. A alegria, sim.

 

Faixas

1- Leite Condensado

2- Buquê De Flores

3- Ousadia & Alegria Part. Esp.: Neymar

4- Lero Lero - Part. Espec. Alexandre Pires

5- Desencana

6 - Puxando

7- Sou O Cara Pra Você

8- Até Ver Você (Hahaha)

9- Muleke Conquista

10- O Poder Do Pretinho - Part Espec. Ivete Sangalo

11- Antes De Dizer Adeus

12 - Simples Desejo - Part Espec. Gilberto Gil

13- Ainda Bem

14- Vai, Novinha

15- Deixa Eu Te Fazer Feliz

16- Eu Quero É Ser Feliz

17- Tomara

18- Motel

19- Robin Hood Da Paixão

20- Eternamente Feliz

21- Deixa Pra Mim

 

Ousadia & Alegria / Thiaguinho

Nota 5

Marcelo Teixeira

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