O terceiro álbum: ótimo |
O
Clube da Esquina foi uma verdadeira revolução na música popular brasileira. Era
década de 60, a ditadura militar e a repressão por estas terras contrastavam
com os movimentos hippie e beat que surgiam ou alcançavam o auge nos EUA da
época. A Bossa Nova já não era tão novidade assim, a Tropicália acabava de dar
as caras e um tal de iê-iê-iê começava a estourar com um certo Roberto Carlos e
sua trupe de mulheres com saias curtas e homens com cabelos a la Elvis Presley.
Nessa época, nesse meio, um jovem de Três Pontas foi para a capital mineira
morar na Avenida Amazonas. Milton Nascimento já fazia parte de uma banda, a
“W’s Boys” onde fazia parceria com Wagner Tiso. Em Belo Horizonte, Milton
conheceu os irmãos Borges. Doze ao todo. O menor deles, o Salomão, ou Lô, como
chamava os amigos, entraria para a história assim como aquela esquina da Rua
Paraisópolis com a Rua Divinópolis, lá no bairro Santa Tereza.
A formação principal do Clube da Esquina (que
nunca chegou a ser um clube, nem mesmo foi considerado um movimento na época),
foi composta por nomes como Wagner Tiso, Fernando Brant, Nivaldo Ornelas, Paulo
Braga, Toninho Horta, Márcio Borges e, claro, o Milton. Talvez o maior nome do
Clube, Milton Nascimento tornou-se o líder absoluto do movimento, sendo considerado
até hoje um ícone da agitação mineira. Um tempo depois se juntariam ao Clube,
Flávio Venturini, Beto Guedes, Celso Adolfo e o Lô.
O primeiro disco do grupo
denominado Clube da Esquina foi lançado em 1972 e incluiu sucessos como O Trem Azul, Nada Será Como Antes e Tudo o que Você Poderia Ser. Seis anos
depois, em 1978, Milton e sua turma lançariam o Clube da Esquina 2. Logo,
cada membro do Clube estaria gravando suas próprias músicas, fazendo seu
próprio trabalho. Mas a influência do grupo, que abdicava do amor para falar de
política e outros temas sociais em suas letras, permaneceu e tornou o Clube da
Esquina um dos mais importantes movimentos musicais brasileiros depois da
Tropicália e eu ainda acho que foi, musicalmente, muito mais importante que a Tropicália).
No ano de 1971, a rapaziada
do Clube Mineiro já havia composto um número de canções que pretendiam lançar
num álbum duplo, coisa rara nestes tempos.
A Tropicália já havia sido devorada pelos predadores do período jurássico
ditatorial, mas o talento inquestionável dos letristas deste projeto épico
trataria de dizimar quaisquer que fossem esses contextos censurais. Com letras
de teor político existencial e profundeza intrínsecos (observa-se uma forte
influência sartreana nas letras de Márcio Borges e Fernando Brant) e harmonias
divinamente elaboradas, o álbum duplo Clube da Esquina seria gravado no
Rio de Janeiro em estúdio preparado exclusivamente para os cavaleiros da
revolução musical daquela década de incertezas. Mar Azul, praia próxima à Piratininga,
no belíssimo litoral niteroiense, seria o cenário da casa em que se deu vida e
sonoridade com sensíveis requintes de sofisticação a esta obra-prima da música
universal.
Clube
da Esquina / Milton Nascimento e Lô Borges
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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