Caixa Elis 70 anos |
A
caixa Elis Anos 70 - postou nas lojas pela Universal Music neste ano
no mês de fevereiro, simultaneamente com a caixa Elis Anos 60, em projeto
fonográfico coordenado por Alice Soares - apresentando o suprassumo da
discografia de Elis Regina Carvalho Costa (1945 - 1982). Nessa década
escurecida pela censura e pelos horrores da ditadura que imperava no Brasil, o
canto de Elis foi o farol que iluminou a obra de compositores então iniciantes
- como Ivan Lins (em 1970), Belchior (em 1972) e a dupla João Bosco & Aldir
Blanc (em 1972) - e parte substancial da melhor música brasileira produzida na
década. Embora tenha gravado poucas músicas de Caetano Veloso e Chico Buarque,
compositores mais associados às vozes de Gal Costa e de Maria Bethânia (as duas
únicas cantoras da MPB que fizeram frente à Elis na época, porque Clara Nunes,
considerada por muitos críticos como a melhor cantora daquela época, era amiga
de Elis), quase tudo de relevante produzido na MPB dos anos 70 foi filtrado
pelo canto referencial de Elis.
Nessa década, Elis
acompanhou as transformações da música e do Brasil. Já nos seus dois primeiros
álbuns de estúdio da década, ...Em Pleno Verão (1970) e Ela
(1971), ambos com conceitos idealizados por Nelson Motta, a cantora se
aproximou do soul que dava o tom negro da música do mundo. Na sequência, já
guiada na música e na vida por César Camargo Mariano, a cantora se tornou uma
das melhores traduções da MPB a partir do álbum Elis (1972), uma das
obras-primas embaladas na caixa. Padrão roçado pelo Elis de 1973 - álbum
denso de clima excessivamente cool e interiorizado - e bisado pelo Elis
de 1974, álbum enfim reeditado em CD com sua arte gráfica original (com direito
ao recorte da capa branca - tal como no LP original). De 1974, um dos anos mais
produtivos de Elis, vem também Elis & Tom, outra obra-prima,
dividida com ninguém menos do que Antônio Carlos Jobim, já naquela altura e
para sempre o maestro soberano da música brasileira, com reconhecimento
internacional.
Na sequência, Falso
Brilhante (1976) representou outro pico de criatividade e perfeição na
carreira de Elis - com destaque para as referenciais gravações de Como Nossos Pais (Belchior) e Fascinação (Maurice de Feraudy e Dante
Pilade Fermo Marchetti) - enquanto Elis (1977) manteve a cantora nas
paradas com Romaria (Renato
Teixeira), gravação definitiva que projetou o álbum de repertório nem sempre à
altura de sua intérprete. Na sequência, o parcial registro ao vivo do
controverso show Transversal do Tempo (1978) encerrou a luminosa passagem da
cantora pela Philips, já que o último título da caixa, Elis Especial (1979), é a
rigor coletânea produzida à revelia da artista com sobras de gravações.
Com som límpido, efeito da
primorosa remasterização comandada por Luigi Hoffer e Carlos Savalla, a caixa Elis
Anos 70 oferece ganho relevante no quesito técnico em relação à caixa Transversal
do Tempo (1998), que embalou os 21 álbuns de Elis lançados pela
Philips. Da mesma forma, houve real evolução no padrão gráfico, já que as
atuais reedições reproduzem capas, contracapas e encartes dos álbuns com
fidelidade às artes dos LPs originais. É luxo só!!!
Marcelo Teixeira
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