quinta-feira, 31 de maio de 2012

...e a Gente Sonhando, de Milton Nascimento


O disco, lançado em 2010
Encontro de gerações. Essa é a palavra chave do último disco do cantor Milton Nascimento, “...E a Gente Sonhando (2010 / EMI / 34,99). A ideia surgiu quando o compositor folheava uma edição especial da revista Billboard sobre música brasileira e descobriu em suas páginas algumas referências de cantores de sua cidade, Três Pontas, no sul de Minas Gerais. Isso foi em 2006, e naquele mesmo ano, durante três dias, o compositor percorreu bares, vendas e fazendas da região, e foi desta maneira informal que ele se deparou com jovens talentos musicais.  Ao todo foram selecionados 25 artistas – entre cantores, instrumentistas e compositores - com uma abrangência musical que passava do rock a ritmos regionais. O destaque ficou por conta das três vozes masculinas que permeiam o disco. Trata-se de Bruno Cabral, 19, Ismael Tiso Jr., 24 e Paulo Francisco, 27, que não só emprestaram suas vozes, como também suas composições a essa nova empreitada.

Também estão presentes, músicas inéditas de autoria do próprio cantor e algumas regravações, como Adivinha o Quê, de Lulu Santos, Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc e Estrela, Estrela, de Vitor Ramil. Milton já havia feito um trabalho semelhante com o disco Pietá, de 2002, quando contou com a participação das então novatas Simone Guimarães, Marina Machado e Maria Rita.

O título deste novo trabalho refere-se à segunda música - homônima - que Milton compôs na vida, no ano de 1960, quando ainda era um aspirante a cantor e trabalhava de datilógrafo em um escritório em Belo Horizonte. Canção esta que permanecia inédita até hoje e que foi resgatada dos arquivos especialmente para a ocasião. Lançado oficialmente no dia 11 de setembro em sua cidade durante a 2ª Edição do Festival Música do Mundo, o álbum chegará para todo o país no final de setembro.

Um ano depois do lançamento do último trabalho - “Milton Nascimento & Belmondo” - o cantor e compositor Milton Nascimento reúne um grupo de novos músicos e cantores da cidade mineira de Três Pontas em seu novo álbum, “...e a Gente Sonhando”. O disco reúne 16 faixas, entre temas já lançados anteriormente por outros artistas, como Simone (Rares Maneiras), Lulu Santos (Adivinha o Quê?) e Jota Quest (“O Sol”) e outros do próprio Milton (“... e a Gente Sonhando”, “Amor do Céu, Amor do Mar”). A mistura de origens das composições não soam estranhas quando colocadas lado a lado, graças à unificação que a interpretação de Milton dá para as músicas e dos arranjos que - no geral - seguem uma sonoridade jazzística.

Na bonita faixa-título, que abre o disco, Milton divide os vocais com Bruno Cabral, sobre o piano de Wagner Tiso que participa das gravações de quase todas as músicas. ...e a Gente Sonhando não é um disco de altos e baixos. O álbum mantém um nível intermediário, mas com alguns momentos que merecem especial atenção, como em Estrela, Estrela, composição do gaúcho Vitor Ramil, já cantada no primeiro disco de Maria Rita (2003).

A suavidade do instrumental, da letra e da voz de Milton criam uma obra belíssima. Porém nessa mesma música é perceptível que a idade deixa marcas na voz de Milton Nascimento. Ainda marcante e bonita, mas com algumas cicatrizes.

Raras Maneiras, composição de Tunai e Márcio Borges gravada por Simone nos anos 80, ganha vida graças ao coro que também participa de outras canções e ao sax de Widor Santiago. Outra regravação com ótimo resultado é O Sol, música do grupo Tianastácia regravada pelo Jota Quest. É curioso observar com essa música como uma composição pode ganhar um espírito tão diferente dependendo quem a canta. Outro momento mais pop do disco em que Milton parece se soltar mais é no sucesso de Lulu Santos “Adivinha o Quê?”. Versão interessante.

...e a Gente Sonhando traz bonitas canções, mas não parece ser um disco que vai render a Milton clássicos para o repertório ou outros sucessos comerciais. Não que ele precise, claro, mas falta algo marcante.



Nota 9

...e a Gente Sonhando / Milton Nascimento



Marcelo Teixeira

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