O disco: ótimo como João Bosco |
Ao
lançar o CD Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão (2009 / Universal /
29,99) no segundo semestre do ano passado, João Bosco ganhou elogios da crítica
e conquistou alguns prêmios. Por esse trabalho, o cantor e compositor mineiro
concorreu ao Prêmio da Música Brasileira — em 11 de agosto de 2011, no Theatro
Municipal do Rio de Janeiro — em três categorias. O álbum, o 24º da carreira,
marca a retomada de João com o velho parceiro Aldir Blanc, de quem ficou separado
por quase 20 anos. Juntos, eles fizeram para esse disco Navalha e Samba do Caramujo,
que são consideradas as melhores, assim como Perfeição, Tanajura e Tanto Faz,
que João compôs com o filho Francisco Bosco; e Pintura, tabelinha com o paulista Carlos Rennó. Não
Vou Pro Céu vem tendo uma trajetória bonita. Não chegou com arroubo ao
mercado, mas é um disco para quem gosta de se deixar levar pela música, para
quem acompanha o trabalho do autor.
O novo trabalho de João
Bosco é suave e introspectivo. Aliás, suavidade
pode ser a palavra-chave desse novo álbum. O disco é econômico, delicado, com
ênfase em um instrumental simples, no qual se sobressai o violão. As letras de Não
Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão - primeiro disco de músicas
inéditas do artista em sete anos - também estão a altura do instrumental de
João Bosco, que canta ainda melhor (e de forma mais simples) nesse trabalho. Produzido por Francisco Bosco e pelo
guitarrista Ricardo Silveira, o álbum já pode ser considerado um dos melhores
da (sólida) discografia de João Bosco. Neste disco, João Bosco repete a dose de
parceria com o seu filho, o ótimo letrista Francisco Bosco e, ao mesmo tempo,
marca o retorno da célebre parceria João Bosco / Aldir Blanc - a dupla mais
gravada por Elis Regina - em quatro faixas.
A balançante Sonho de Caramujo é uma dessas faixas.
Nela é possível matar saudades de grandes canções como Nação (cantada com maestria por Clara Nunes em seu derradeiro disco
e por Fabiana Cozza em seu segundo disco de carreira) ou O Mestre Sala dos Mares (cantada com disciplina e orgulho por Elis
Regina). A singela Navalha, por sua
vez, possui uma das melhores letras do disco: Aí, eu fui crucificado / Nos cravos do teu amor / Não me lembro de
outra coisa / Que me causasse tanta dor. Mentiras de Verdade é aquele tipo de canção com a clássica
assinatura de João Bosco, e que já nasce clássico, diferentemente da menos
inspirada Plural Singular. Ao lado do
filho Francisco Bosco, João compôs cinco faixas, com destaque para a afro Tanajura, com participação dos
percussionistas Robertinho Silva e Armando Marçal. A bossa nova Perfeição e a intrincada Desnortes são outros dois destaques da
parceria pai e filho.
Além de Francisco Bosco e
Aldir Blanc, João Bosco divide o lápis e o papel com Carlos Rennó e Nei Lopes.
Com o primeiro, foram duas canções: Pronto
Pra Próxima e Pintura. Já a
parceria com Nei Lopes é estreada com uma das melhores faixas de Não Vou
Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão. Jimbo
No Jazz, apenas com o violão e a voz de João Bosco, já pode ser
considerado, fácil, fácil, um dos melhores momentos de sua carreira. A única
canção que não foi composta por João Bosco é Ingenuidade, composta por Serafim Adriano e imortalizada por
Clementina de Jesus, e que, curiosa (coincidente) mente está presente também em
Zii
e Zie, último trabalho de Caetano Veloso. Foram sete anos para João Bosco lançar um álbum de
inéditas. Mas parece que a espera valeu. Sei não, mas acho que João Bosco tem
lugar no céu sim...
Nota
10
Não
Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão / João Bosco
Marcelo
Teixeira
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