sexta-feira, 1 de junho de 2012

Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão, de João Bosco




O disco: ótimo como João Bosco
Ao lançar o CD Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão (2009 / Universal / 29,99) no segundo semestre do ano passado, João Bosco ganhou elogios da crítica e conquistou alguns prêmios. Por esse trabalho, o cantor e compositor mineiro concorreu ao Prêmio da Música Brasileira — em 11 de agosto de 2011, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro — em três categorias. O álbum, o 24º da carreira, marca a retomada de João com o velho parceiro Aldir Blanc, de quem ficou separado por quase 20 anos. Juntos, eles fizeram para esse disco Navalha e Samba do Caramujo, que são consideradas as melhores, assim como Perfeição, Tanajura e Tanto Faz, que João compôs com o filho Francisco Bosco; e Pintura, tabelinha com o paulista Carlos Rennó. Não Vou Pro Céu vem tendo uma trajetória bonita. Não chegou com arroubo ao mercado, mas é um disco para quem gosta de se deixar levar pela música, para quem acompanha o trabalho do autor.

O novo trabalho de João Bosco é suave e introspectivo. Aliás, suavidade pode ser a palavra-chave desse novo álbum. O disco é econômico, delicado, com ênfase em um instrumental simples, no qual se sobressai o violão. As letras de Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão - primeiro disco de músicas inéditas do artista em sete anos - também estão a altura do instrumental de João Bosco, que canta ainda melhor (e de forma mais simples) nesse trabalho. Produzido por Francisco Bosco e pelo guitarrista Ricardo Silveira, o álbum já pode ser considerado um dos melhores da (sólida) discografia de João Bosco. Neste disco, João Bosco repete a dose de parceria com o seu filho, o ótimo letrista Francisco Bosco e, ao mesmo tempo, marca o retorno da célebre parceria João Bosco / Aldir Blanc - a dupla mais gravada por Elis Regina - em quatro faixas.

A balançante Sonho de Caramujo é uma dessas faixas. Nela é possível matar saudades de grandes canções como Nação (cantada com maestria por Clara Nunes em seu derradeiro disco e por Fabiana Cozza em seu segundo disco de carreira) ou O Mestre Sala dos Mares (cantada com disciplina e orgulho por Elis Regina). A singela Navalha, por sua vez, possui uma das melhores letras do disco: Aí, eu fui crucificado / Nos cravos do teu amor / Não me lembro de outra coisa / Que me causasse tanta dor. Mentiras de Verdade é aquele tipo de canção com a clássica assinatura de João Bosco, e que já nasce clássico, diferentemente da menos inspirada Plural Singular. Ao lado do filho Francisco Bosco, João compôs cinco faixas, com destaque para a afro Tanajura, com participação dos percussionistas Robertinho Silva e Armando Marçal. A bossa nova Perfeição e a intrincada Desnortes são outros dois destaques da parceria pai e filho.

Além de Francisco Bosco e Aldir Blanc, João Bosco divide o lápis e o papel com Carlos Rennó e Nei Lopes. Com o primeiro, foram duas canções: Pronto Pra Próxima e Pintura. Já a parceria com Nei Lopes é estreada com uma das melhores faixas de Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão. Jimbo No Jazz, apenas com o violão e a voz de João Bosco, já pode ser considerado, fácil, fácil, um dos melhores momentos de sua carreira. A única canção que não foi composta por João Bosco é Ingenuidade, composta por Serafim Adriano e imortalizada por Clementina de Jesus, e que, curiosa (coincidente) mente está presente também em Zii e Zie, último trabalho de Caetano Veloso. Foram sete anos para João Bosco lançar um álbum de inéditas. Mas parece que a espera valeu. Sei não, mas acho que João Bosco tem lugar no céu sim...



Nota 10

Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão / João Bosco



Marcelo Teixeira


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